Paulo de Tarso Lyra e Renata Mariz – Correio Braziliense
Após a manifestação que parou o trânsito no Eixo Monumental na última terça-feira, terminou com um confronto entre policiais e índios e suspendeu a exibição da taça de campeão da Copa do Mundo para a população, a presidente Dilma Rousseff ordenou ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que fosse, pessoalmente, conversar com os secretários de segurança pública das 12 cidades sedes para fazer um pente-fino nos preparativos de cada uma delas. Além disso, ficou acertado que, para evitar problemas no desembarque das delegações, as seleções e as autoridades estrangeiras chegarão às respectivas bases aéreas de cada estado e deixarão o local em rotas alternativas. A determinação presidencial estendeu-se também aos ministros da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e da Secretaria de Relações Institucionais, Ricardo Berzoini, responsáveis pela interlocução com os estados para evitar baderna durante o Mundial.
Ontem, depois da terça-feira de flechas e bombas na Esplanada, o governo não foi poupado de novos protestos. Um grupo de 100 quilombolas se manifestou em frente ao Palácio do Planalto, pela manhã. Eles pediram por agilidade na demarcação de terras. O ato ocorreu no momento em que a presidente Dilma Rousseff anunciava novas regras para o comércio de diesel.
Segundo o articulador geral do Movimento Quilombola do Maranhão, Gil Quilombola, as comunidades de nove estados estão reunidas em Brasília para pedir o título das terras que ocupam. Ele alega que o período médio para a liberação dos documentos varia muito e, em alguns casos, como em Bacuri, no Maranhão, já leva mais de 19 anos. "Queremos chamar a atenção das pessoas para a nossa causa", diz.
Problemas fundiários também levaram cerca de 500 indígenas para a Esplanada dos Ministérios. Eles se concentraram em frente ao espelho d"água do Congresso para repudiar matérias em tramitação no Legislativo, entre elas a PEC 215, que passa do Executivo para parlamentares federais a prerrogativa de demarcar terras indígenas.
Um grupo de 20 lideranças indígenas se reuniu com os presidentes da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves, e do Senado, Renan Calheiros. Ambos se comprometeram a não colocar em votação nenhuma das matérias listadas pelos índios enquanto não houver consenso. Eles vieram a Brasília de várias partes do país para a semana de manifestações.
Segundo os organizadores do ato, os custos chegaram a R$ 98 mil, bancados por associações regionais de índios e associações ligadas ao tema, como o Centro Indigenista Missionário (Cimi). Eles garantiram que não há dinheiro público no montante, exceto passagens aéreas pagas pelo governo federal a 20 participantes, que vieram à capital para reuniões em conselhos na Funai e no Ministério da Saúde. O restante veio de ônibus. Eles deixarão Brasília hoje.
O ministro da Justiça já esteve na Bahia na segunda, no Rio na terça e correrá contra o tempo para se reunir com os secretários de Segurança de todas as outras sedes da Copa até a data de início do evento. Ontem, ele afirmou que manifestantes que cometerem "abusos" durante o Mundial serão punidos, ao mesmo tempo em que assegurou a segurança aos turistas do exterior. "Os estrangeiros devem se sentir seguros, sim", afirmou, em cerimônia no Conselho Nacional do Ministério Público.
Na mesma ocasião, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, anunciou a instalação de um gabinete de crise, entre ministérios públicos Federal e estaduais, para agir no caso de excessos nas manifestações, "de um lado e de outro".
Do controle à dispersão
Saiba quais os pontos nevrálgicos na preparação das forças de segurança para lidar
com possíveis manifestações durante a Copa e como o Brasil está em cada um deles, segundo analistas
» Comando das operações
Os protestos do ano passado levaram à elaboração de um protocolo de conduta das polícias. Com isso, os comandos das forças policiais estaduais, sobretudo da Polícia Militar, foram bem treinados para conduzir a tropa durante as manifestações. O temor é que, nas operações integradas, em que várias instituições participam, como Polícia Federal e Exército, os comandantes de cada uma dessas corporações não se entendam.
» Disposição da tropa
Os últimos protestos têm mostrado que a polícia está aprendendo a se posicionar melhor durante as manifestações. A falta de sintonia, vista nas manifestações de junho, teria diminuído, enquanto estratégias para contenção de grupos que depredam patrimônio ou usam de violência contra os agentes de segurança são testadas. Uma delas é o chamado cercado, usado, não sem controvérsia, pela polícia de São Paulo.
» Identificação de lideranças
Embora a PF venha trabalhando na identificação de lideranças black blocs, segundo noticiado recentemente, não se sabe, ainda, se as polícias estaduais fizeram o dever de casa nesse sentido. Acredita-se que conhecer quem são as pessoas-chave, os organizadores dos protestos, em cada cidade facilitaria o trabalho de diálogo, persuasão e dispersão de aglomerações.
» Comunicação
O sistema de comunicação entre os agentes de segurança — inclusive de diferentes instituições envolvidas nas operações da Copa — preocupa. A falta de equipamentos modernos ligados em rede pode atrapalhar a comunicação, deixando a forças de segurança reféns de celulares que nem sempre funcionam, sobretudo se houver um distúrbio que leve muita gente a usar o telefone ao mesmo tempo.
» Bloqueio de vias
A fluidez do trânsito, já prejudicada pela falta de obras de mobilidade urbana, pode se agravar caso manifestantes decidam bloquear ruas importantes das cidades sedes. Para evitar que isso ocorra, a polícia deverá disciplinar os protestos, abrindo faixas exclusivas para os grupos ou exigindo o aviso prévio às autoridades, conforme prevê a lei brasileira. Para fazer isso sem soar truculenta, entretanto, terá de identificar lideranças, para dialogar, e usar estratégias de contenção previamente definidas.
Colaboraram Diego Abreu, Étore Medeiros e Grasielle Castro
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