Diante da onda de violência na Bahia, o governador do Estado Jaques Wagner (PT), segundo matéria de capa do jornal [Estado de S. Paulo] de domingo (5), disse acreditar que "os policiais grevistas estejam por trás" das manifestações que objetivam gerar o pânico. O político, eleito governador em outubro de 2006, entretanto, não tomou nenhuma atitude para solucionar o caos.
Wagner teria dito que "parte disso foi ordenado por criminosos que se intitulam líderes do movimento". As declarações seriam criminosas se verdadeiras, pois não se pode admitir que uma polícia ou segmento dela, com o poder de garantir o ir e vir, seja acusada pelo governador de assassina sem que nada seja feito. O sociólogo Leonardo Boff, com sua magnífica reflexão, já aponta o que está acontecendo em nosso país.
Até este domingo, o número de mortos registrados pela Secretaria de Segurança Pública da Bahia em decorrência da greve já passava de 70. O Jornal do Brasil conversou com políticos que consideram Wagner como o grande culpado pela situação.
"O governador Jaques Wagner está tendo uma postura de fuga em relação ao seu Estado", critica o ex-prefeito do Rio de Janeiro, Cesar Maia.
Antes de ser alçado ao cargo de governador, Jaques Wagner teria financiado financeiramente, em 2001, um movimento semelhante ao que ocorre atualmente na Bahia, segundo informações do líder da greve, o ex-policial militar Marco Prisco.
Segundo o ex-governador da Bahia e atual deputado federal (PSDB), Antonio Imbassahy, os líderes na época são os mesmo de hoje e, com eles, Wagner assumiu um compromisso que não cumpriu depois de eleito.
"A declaração dele sobre a polícia é absolutamente irresponsável. Se ele pensa isso da polícia então já devia ter tomado providências para tirar as pessoas que ele considera criminosas, afinal ele está no governo há cinco anos", afirma Imbassahy. "A causa dos PMs é justa, mas os métodos, equivocados."
Governador da Bahia na época da greve de 2001, o político Cesar Borges também confirmou o apoio de Wagner aos manifestantes. "Na época eu tinha noção clara de que a greve era política, fomentada pelos partidos de oposição que queriam lucrar com isso", explica.
PEC 300
Cesar Borges governou a Bahia no período da greve em 2001Desde a madrugada de quarta-feira (1º), os sindicalistas filiados à Associação de Policiais e Bombeiros do Estado da Bahia (Aspra) ocupam a sede da Assembleia Legislativa, situada no CAB, realizando a greve. Na ocasião, Marco Prisco, presidente da Associação, informou que os manifestantes só sairiam do local após serem atendidos por algum representante do governo do Estado. O objetivo da greve é garantir um espaço para negociação das pautas reivindicatórias com representantes do governo.
A greve, que já está refletida em diversos Estados, exige a melhoria na remuneração, plano previsto na PEC 300. A medida estabeleceria que a remuneração dos policiais militares dos estados não poderia ser inferior à da Polícia Militar do Distrito Federal, aplicando-se também aos integrantes do Corpo de Bombeiros Militar e aos inativos. Apesar de ter sido defendida por Jaques Wagner, até agora, ela continua no papel.
"O governador da Bahia deveria ter a humildade para tentar negociar com os manifestantes que estão fazendo a greve", avalia o deputado federal Anthony Garotinho (PR). "Além disso, ele deveria pedir ao presidente da Câmara dos Deputados, o deputado Marco Maia (PT-RS), e ao líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), que cumpram a promessa de aprovar a PEC 300. Na época das eleições, ele deu importância à PEC para tentar ganhar votos e até agora nada foi feito".
Antecessor de Jaques Wagner, o ex-governador Paulo Souto (2003-2006) avalia que o governador atual está mudando radicalmente de postura. "Ninguém pode aprovar greve da polícia, mas também não pode criar expectativas como fez, principalmente em relação ao salário, e depois tomar outra posição", critica.
Intervenção da Justiça
Paulo Souto avalia que o governador atual está mudando radicalmente de posturaDiante da situação na Bahia, o Ministério da Justiça teria obrigações constitucionais de uma intervenção naquele Estado pois, se o governador admite que não tem forças para agir em defesa dos que vivem e dos que estão na Bahia, tratar-se-ia de uma omissão dolosa.
"Quando um dos três poderes se mostra incapaz de fazer algo pela sociedade, os outros teriam a obrigação de fazer alguma coisa", avalia a deputada Estadual Janira Rocha (PSOL). "O problema é que hoje eles estão todos ligados pelo dinheiro público"
"A intervenção do Ministério da Justiça seria uma etapa intermediária que é a entrada da Força Nacional e depois o Exército, o que seria uma intervenção de fato como ocorreu no Rio a fins de 1994, mas ela vai depender dos desdobramentos dessa situação", afirma Cesar Maia .
Ainda para o ex-governador da Bahia, Cesar Borges, a medida mais importante a ser tomada agora é encarar a situação de frente.
"Quando um dos poderes se mostra incapaz , os outros devem intervir", Janira Rocha "Wagner não está admitindo a greve e quer controlar pela força", critica. "Ele precisa negociar, o confronto nunca é uma boa saída, é necessária uma intervenção no sentido de que não se pode fechar os olhos diante disso".
O deputado federal Anthony Garotinho alerta que a situação na Bahia seria um espelho do que está por vir para os demais Estados.
"Não é o primeiro Estado a passar por uma situação dessas e eu tenho certeza que o mesmo vai acontecer no Rio de Janeiro. A mobilização desses profissionais é muito grande e isso pode trazer em breve um momento muito complicado para o Rio", analisa.
Fonte: Jornal do Brasil & Jornal Visão
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