Segundo a PF, Projeto Jampa Digital foi criado para desviar dinheiro publico. Verba teria sido destinada à campanha do atual governador da Paraíba.
Por Maurício Ferraz
São Paulo, SP
Jornal da Globo
Foram desviados mais de R$ 1 milhão de um programa que deveria levar internet de graça para a população de João Pessoa, na Paraíba. A Polícia Federal indiciou 23 pessoas. Entre elas, estão o vice-governador Rômulo Gouveia e o publicitário Duda Mendonça. O Jornal da Globo teve acesso, com exclusividade, aos detalhes dessa investigação.
O relatório da Polícia Federal tem 148 páginas. As provas indicam que 23 pessoas participavam do esquema. Todos os suspeitos foram indiciados. Segundo a PF, o Projeto Jampa Digital foi criado para desviar dinheiro público. Desde o inicio, já se sabia qual empresa ganharia a licitação, de quanto seria o superfaturamento e para onde os recursos seriam desviados.
Em 2012, o Fantástico mostrou que dois anos depois de anunciado, o programa, criado para levar internet de graça à população de João Pessoa, ainda não funcionava na capital paraibana. O Jampa, orçado em R$ 39 milhões, seria custeado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia. A vencedora da licitação para implantação do projeto foi a empresa Ideia Digital, que tem sede em Salvador. Segundo a Polícia Federal, a empresa superfaturou o projeto em R$ 1,6 milhão. A investigação descobriu ainda que R$ 1,1 milhão foram repassados pela Ideia a empresas fantasmas em São Paulo.
O dinheiro teria sido usado para pagar despesas de campanha do atual governador do Estado da Paraíba, Ricardo Coutinho, do PSB, e do vice, Rômulo Gouveia, do PSD. A polícia identificou também o envolvimento de José Eugenio de Jesus Neto nas transações financeiras com as empresas fantasmas. Segundo a polícia, José Eugênio era diretor financeiro das empresas do publicitário Duda Mendonça, que foi o responsável pela campanha de Ricardo Coutinho ao governo da Paraíba em 2010.
Até agora, foram indiciados o publicitário Duda Mendonça por lavagem de dinheiro, o vice-governador da Paraíba, Rômulo Gouveia, por corrupção e outras 21 pessoas por participação no esquema. Entre elas, estão empresários e funcionários públicos.
A Polícia Federal também encaminhou a investigação ao Ministério Público Federal e recomendou que sejam apuradas as participações no esquema do governador Ricardo Coutinho, de dois deputados federais e do ministro das Cidades, Aguinaldo Ribeiro. Ribeiro era secretário de Ciência e Tecnologia da Prefeitura de João Pessoa na época em que o programa foi anunciado. Todos têm foro privilegiado.
"A nossa ideia sempre é trazer provas pra que a Justiça possa condenar efetivamente aqueles que participaram, mas de forma completa, para entender todo mecanismo dessa engrenagem dessa organização considerada criminosa por nós", diz Marcello Diniz, superintendente da Polícia Federal/PE.
"A nossa ideia sempre é trazer provas pra que a Justiça possa condenar efetivamente aqueles que participaram, mas de forma completa, para entender todo mecanismo dessa engrenagem dessa organização considerada criminosa por nós", diz Marcello Diniz, superintendente da Polícia Federal/PE.
A assessoria de imprensa do governo da Paraíba desconhece que o inquérito tenha citado o governador Ricardo Coutinho e que ele não foi notificado. Segundo a assessoria, as empresas investigadas não foram doadoras da campanha e as contas relativas às eleições de 2010 foram aprovadas pela Justiça Eleitoral. A assessoria disse que Rômulo Gouveia já prestou todos os esclarecimentos sobre o caso e que ele não se envolveu no processo licitatório ou de execução do projeto.
Antônio Carlos de Almeida Castro, advogado de Duda Mendonça, afirmou desconhecer o indiciamento do publicitário e que Duda Mendonça recebeu R$ 500 mil da campanha eleitoral de Ricardo Coutinho. José Eugênio de Jesus Neto, ex-diretor financeiro das empresas de Duda Mendonça, foi procurado pela produção do Jornal da Globo, mas não retornou.
Em nota, a assessoria de imprensa da empresa Ideia Digital afirmou desconhecer o relatório da Polícia Federal e o indiciamento dos proprietários.
Tmbém em nota, a assessoria do ministro das Cidades, Aguinaldo Ribeiro, afirma que a licitação que resultou na contratação da Ideia Digital foi conduzida pela Secretaria de Administração do município. Portanto, Aguinaldo não licitou, contratou ou pagou essa empresa na época.
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