Líderes de associações de policiais de diferentes regiões admitiram nesta terça-feira que pode estender-se para outros Estados a greve iniciada há uma semana pelos policiais militares da Bahia para exigir melhores salários. "Na próxima quinta-feira haverá uma assembleia dos policiais do Estado do Rio de Janeiro na qual pode ser aprovada uma greve para pressionar por aumentos salariais", disse hoje à agência Efe o ex-deputado federal Capitão Assumção, porta-voz das reivindicações dos policiais.
Caso se concretize, a greve poderia ameaçar o Carnaval da cidade, que atrai milhares de turistas de outras partes do Brasil e do exterior. Assumção acrescentou que os policiais do Espírito Santo também realizarão na próxima semana uma reunião para decidir se paralisam suas atividades como forma de reivindicar melhores salários. Dirigentes de Pernambuco e Maranhão dizem que podem seguir o mesmo caminho.
O porta-voz afirmou que os policiais de diversos Estados também estudam a possibilidade de entrar em greve caso o Exército tente ocupar a sede da Assembleia Legislativa da Bahia, na qual vários grevistas estão entrincheirados há uma semana com alguns familiares e em cujo exterior já foram registrados alguns incidentes.
Assumção confirmou os temores expressados por alguns membros do governo que, por trás das paralisações de policiais, há uma mobilização política para pressionar o Congresso a votar a proposta de emenda constitucional conhecida como PEC 300, que estabelece um piso salarial nacional para a categoria.
A emenda prevê que o salário mínimo dos policiais em todo Brasil devem ser equiparados aos que recebem os oficias de Brasília (R$ 3,5 mil). O projeto, do qual Assumção foi o maior impulsor quando foi deputado federal, prevê a criação de um fundo com o qual o governo possa auxiliar os Estados que não possam pagar esse salário mínimo.
Segundo o ex-deputado federal, a decisão da Câmara dos Deputados de adiar a votação da PEC 300 gerou protestos de policiais em diferentes Estados. "Os porta-vozes do governo no Congresso nos disseram que pretendem arquivar a emenda porque consideram que o salário dos policiais é um assunto regional e não nacional. Esse recado gerou insatisfação entre os policiais de diferentes estados e pode motivar novas greves", afirmou.
Acrescentou que inclusive em Estados onde as greves já haviam sido resolvidas, como Piauí, Maranhão, Alagoas, Paraíba e Ceará, "a polícia já pensa em reiniciar as manifestações".
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, admitiu em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo que o governo tem conhecimento de uma campanha articulada por policiais de diferentes Estados para pressionar pela aprovação da PEC 300 mediante atos violentos. Segundo Cardozo, os policiais optaram por meios violentos para fazer eco de suas reivindicações salariais.
Na Bahia, a greve se mantém apesar dos pedidos das autoridades para que os policiais voltem ao trabalho e garantam a segurança no Estado, onde é registrado o aumento de assassinatos e outros atos violentos desde que começou a paralisação.
A greve
A greve dos policiais militares da Bahia teve início na noite de 31 de janeiro. Cerca de 10 mil PMs, de um contingente de 32 mil homens, aderiram ao movimento. A paralisação provocou uma onda de violência em Salvador e região metropolitana. O número de homicídios dobrou em comparação ao mesmo período do ano passado. A ausência de policiamento nas ruas também motivou saques e arrombamentos. Centenas de carros foram roubados e dezenas de lojas destruídas.
Em todo o Estado, eventos e shows foram cancelados. A volta às aulas de estudantes de escolas públicas e particulares, que estava marcada para 6 de fevereiro, foi prejudicada. Apenas os alunos da rede pública estadual iniciaram o ano letivo.
Para reforçar a segurança, a Bahia solicitou o apoio do governo federal. Cerca de três mil homens das Forças Armadas e da Força Nacional de Segurança foram enviados a Salvador. As tropas ocupam bairros da capital e monitoram portos e aeroportos.
Dois dias após a paralisação, a Justiça baiana concedeu uma liminar decretando a ilegalidade da greve e determinando que a Associação de Policiais e Bombeiros e de seus Familiares do Estado da Bahia (Aspra) suspenda o movimento. Doze mandados de prisão contra líderes grevistas foram expedidos.
A categoria reivindica a criação de um plano de carreira, pagamento da Unidade Real de Valor (URV), adicionais de periculosidade e insalubridade, gratificação de atividade policial incorporada ao soldo, anistia, revisão do valor do auxílio-alimentação e melhores condições de trabalho, entre outros pontos.
Fonte: terra
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