Informação policial e Bombeiro Militar

terça-feira, 3 de setembro de 2013

"Eu perdoo os policiais que fizeram isso comigo", diz gremista atingido no rosto por balas de borracha



Evandro Godoy Kunrath fala sobre o confronto antes do jogo entre Grêmio e Santos e sobre a possibilidade de perder a visão




"Eu perdoo os policiais que fizeram isso comigo", diz gremista atingido no rosto por balas de borracha Fernando Gomes/Agencia RBS
Evandro, que se recupera em casa, descobriu uma terceira bala alojada em seu olho direitoFoto: Fernando Gomes / Agencia RBS
A visão do olho esquerdo é turva. A do direito, não existe. No fim da tarde de segunda-feira, o médico encontrou uma terceira bala de borracha sob a pálpebra direita de Evandro Godoy Kunrath, gremista de 40 anos que já havia retirado duas esferas do mesmo olho.
>> BM espera identificar em até 40 dias policial que atirou
Evandro foi baleado na quarta-feira passada, durante um confronto entre PMs e torcedores em frente à Arena, antes do jogo entre Grêmio e Santos. Na iminência de ficar cego de pelo menos um olho, o bancário falou pela primeira vez sobre o episódio. Ressaltou que nunca fez parte de torcida organizada. E que jamais se meteu em briga.
Zero Hora — Como foi o confronto antes do jogo?
Evandro Godoy Kunrath — Cheguei à Arena com um amigo, por volta das 21h. Como ainda era cedo, paramos em um bar, na frente do estádio, pedimos um refrigerante e ficamos olhando o movimento. No bar ao lado, havia um pessoal cantando músicas da Geral e balançando bandeiras. (O líder da organizada, Rodrigo "Alemão" Rysdyk, esclarece que os membros da torcida se reúnem em outro bar.) Em seguida, um furgão da Brigada parou no meio da rua, e uns oito ou nove policiais desceram. Ficaram perfilados no canteiro central, atrás do furgão, olhando para os torcedores com armas e escudos na mão.
ZH — A BM diz que um grupo de torcedores havia invadido a rua, bloqueando a passagem de carros.
Evandro — Não vi ninguém trancando a rua. Estavam todos cantando numa boa, não percebi baderna nenhuma. Não identifiquei qualquer motivo aparente para a Brigada aparecer ali.
ZH — O que os torcedores fizeram quando a Brigada chegou?
Evandro — Começaram a cantar mais alto, subiram o tom nos cânticos. O clima ficou tenso. Eles cantavam se direcionando aos PMs, mas não ouvi xingamentos. Também não vi ninguém arremessando uma garrafa contra os policiais, como diriam mais tarde. Isso até pode ter ocorrido, mas eu sinceramente não vi. Só vi a Brigada lançando uma bomba de efeito moral, e aí todo mundo saiu correndo.
ZH — E por que você não correu?
Evandro — Demorei um pouco para correr. Primeiro, pensei: "Não é comigo a confusão, não tenho por que fugir." Mas logo vi que o tumulto era grande e, já nos primeiros passos, senti um impacto violentíssimo no rosto. Achei que haviam me atingido com um cassetete. Fiquei completamente tonto na hora, levei as mãos ao rosto e percebi que havia muito, mas muito sangue. Estava quase desmaiando, pensei que ia morrer de hemorragia ali mesmo.
ZH — A Brigada diz que, na investigação, vai averiguar se você estava agachado na hora do tiro, porque a orientação dos PMs é atirar nas pernas.
Evandro — Nada disso, eu estava tentando correr. Só no hospital é que entendi o que houve. O médico retirou duas balas do meu olho direito (ontem, uma terceira foi encontrada no mesmo olho). Conforme ele, fui atingido por pelo menos seis balas, todas no rosto, por isso tenho tantas escoriações. Perguntei se corria risco de perder a visão, e o médico disse "sim, você pode ficar cego". Me desesperei. Eu estava com curativos nos dois olhos, não enxergava nada. Fiquei assim por dois dias.
ZH — Você espera que o PM que o atingiu seja punido?
Evandro — Continuo acreditando na instituição Brigada Militar. Acho que esse episódio foi um fato isolado que, espero, nunca mais se repita. De coração, eu perdoo os PMs que fizeram isso comigo.
ZH — Mas gostaria de vê-los punidos?
Evandro — Isso fica a critério do comando da Brigada Militar. Não é responsabilidade minha julgá-los. Não pretendo entrar com nenhuma ação contra o Estado. Quem deve fazer isso, no meu entender, é o Ministério Público, que representa todos os cidadãos brasileiros. Só vou ingressar com uma ação se ficar impossibilitado de trabalhar. Neste caso, terei de cobrar uma aposentadoria.
ZH — Não há indignação nas suas palavras. Por quê?
Evandro — Porque, na verdade, estou é profundamente triste e preocupado com o meu estado de saúde. Não posso fazer nada sozinho, nem comer ou tomar banho. O médico me proibiu de baixar a cabeça, para os coágulos não se movimentarem.
ZH — Você costumava ir a muitos jogos com seu filho de 10 anos. Continuarão indo?
Evandro — No dia em que fui atingido, minha família disse ao nosso filho que eu havia me machucado no jogo, mas que estava bem. Ninguém queria preocupá-lo. Só que o menino viu, no Facebook, fotos feitas por torcedores que me mostravam todo ensanguentado. Ele chorou muito, se desesperou. Embora eu e meu filho sejamos fanáticos pelo Grêmio, pretendemos passar uns bons anos longe da Arena. Talvez a vida toda.

ZHESPORTES

Um comentário:

  1. Eu não acho seguro ir a um estádio de futebol. Eu não defendo o país com bola, chuteira ou torcida. Eu creio ser uma falta de responsabilidade enfiar um menor neste ambiente sujo, podre, corrompido, violento e anti esportivo. Falo isso pois não acredito na seriedade dos jogos, dos resultados, considerando a máfia, a corrupção em jogos comprados e vendidos. A imprensa é podre e a mídia tem uns programinhas esportivos vagabundos tendenciosos para que a rivalidade se transforme nesta bandidagem toda. A polícia é mal preparada, abusa do poder. E aí, dá no que dá. Espero que vc tenha um bom plano de saúde senão tá ferrado. Mas de coração?!!! Torço pela sua recuperação e para que vc veja que é melhor torcer para esportes como UFC, ous seja, bem menos violento e mais digno! Ass:Dunha!

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