Eldênia Cavalcanti foi presa no Recife, após TRF confirmar condenação. Grupo aliciou 47 pessoas pobres em Pernambuco para venderem seus rins.
Do G1 PE
Foi presa em Boa Viagem, na Zona Sul do Recife , a última pessoa condenada por tráfico de órgãos humanos e formação de quadrilha e que ainda estava em liberdade, após a investigação conduzida pela Polícia Federal (PF) em Pernambuco, em 2003, na chamada Operação Bisturi. A prisão de Eldênia de Souza Cavalcanti, 63 anos, aconteceu na última sexta (03); ela foi condenada em 2006 a quatro anos, sete meses e vinte dias de prisão, mas tinha recorrido da sentença e aguardava em liberdade pelo pronunciamento da Justiça.
"Ela foi presa numa das maiores operações da Polícia Federal aqui em Pernambuco e estava simplesmente aguardando esse recurso. O recurso saiu, foi ratificado e confirmado pela segunda turma do Tribunal Regional Federal, o mandado de prisão foi expedido e a PF compareceu lá residência dela e efetuou a sua respectiva prisão", disse Giovani Santoro, assessor de comunicação da PF. Segundo os agentes da PF, não houve resistência por parte da acusada.
A Operação Bisturi foi realizada de março a dezembro de 2003. Os investigadores descobriram que, em Pernambuco , os criminosos aliciavam pessoas em dificuldades financeiras, para a retirada de seus rins, que seriam utilizados em cirurgias na África do Sul. O papel de Eldênia era auxiliar o marido dela, Ivan Bonifácio da Silva, oficial reformado da PM de Pernambuco e chefe da quadrilha. Cabia a ela substituí-lo em algumas ocasiões, acompanhar as pessoas aliciadas ao laboratório quando iam fazer exames, providenciar seus passaportes, ir com elas ao embarque, no aeroporto, e ser sua intérprete na África do Sul.
Os receptores dos órgãos eram pacientes de Israel. Ao todo, 47 pessoas foram levadas para o Hospital Sant Agostini, em Durban, para serem submetidas à cirurgia de retirada de um rim. Elas assinavam uma declaração afirmando que os receptores eram seus parentes e recebiam entre R$ 5 mil e R$ 30 mil. Cada cirurgia custava cerca de US$ 150 mil ao sistema de saúde sul-africano e a estimativa é de que US$ 4 milhões tenham sido desviados pela quadrilha nessas intervenções cirúrgicas.
Além de Eldênia, o marido dela, Ivan Bonifácio da Silva, foi condenado a 10 anos de prisão, e José Sílvio Bordoux, a 7 anos e quatro meses - este último, médico da PM, requisitava os exames para verificar a compatibilidade entre "doadores" e receptores dos transplantes. O médico israelense Gedalya Tauber, condenado a 11 anos e nove meses de reclusão, está foragido desde 2009. Ele era o responsável por movimentar o dinheiro para aliciar as pessoas que venderiam seus rins. Com autorização da Vara de Execuções Penais, ele se ausentou para uma viagem de 30 dias e nunca retornou. Desde então, teve a prisão decretada pela Justiça e seu nome faz parte da lista de procurados pela Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol).
Ao todo, doze pessoas envolvidas no aliciamento das vítimas foram condenadas e presas no Brasil; dois responsáveis pela fraude no sistema de saúde de Israel e mais 20 médicos e enfermeiras sul-africanos também foram condenados e detidos pela Justiça. Eldênia Cavalcanti foi submetida aos exames de praxe e está detida na Colônia Penal Feminina de Abreu e Lima, no Grande Recife.
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