Em 2005, foi realizado um estudo a pedido do Ministério da Justiça com o objetivo de propor medidas para a modernização das Polícias Civis. Uma das propostas é a exigência do candidato possuir ensino superior para ingressar no cargo de agente dessas instituições, o que, aliado às expressões recorrentes no texto como "treinamento técnico-científico", "saberes especializados", "gestão do conhecimento", "formação multidisciplinar", entres outras, nos faz inferir que aquela corporação busca profissionais que tenham conhecimento, que usem mais a cabeça e menos os músculos.
Enquanto a Polícia Civil está à procura de candidatos com capacidade intelectual e propõe que seus profissionais tenham formação técnico-científica, saberes especializados, me pergunto e pergunto a vocês quais são os candidatos que a Polícia Militar procura e qual é a formação que ela oferece aos que nela ingressam?
Se quisermos sermos valorizados, é preciso mudar o paradigma da formação policial-militar. É preciso agregar valor ao nosso serviço. Meia volta, romper marcha, apresentar armas e submissão não agregam valor à atividade policial-militar, muito pelo contrário; perpetua na sociedade a imagem do trecho de uma cantiga de roda muito conhecida: "Marcha, soldado, cabeça de papel; se não marchar direito, vai preso pro quartel..."
Enquanto se tiver essa imagem do "soldado cabeça de papel", nunca teremos salários condizentes com a nossa atividade, a qual não comporta "cabeças de papel". Enquanto não agregarmos valor ao serviço policial-militar, enquanto não formarmos soldados para serem verdadeiras autoridades, sempre ficaremos preteridos em termos salariais.
Historicamente, o serviço braçal sempre foi desvalorizado. Marchar é serviço braçal, meia volta é serviço braçal, trabalho de sentinela/vigilante é serviço braçal, subir morro é serviço braçal, trocar tiro com bandido é serviço braçal. São atividades importantes? As tipicamente policiais sem dúvida que são muito importantes, mas é preciso agregar valor ao nosso trabalho, mostrando para a sociedade que fazemos muito mais do que serviços braçais, que a nossa atividade exige formação técnico-científica. Serviço braçal exige pouco conhecimento, e conhecimento é sinônimo de salário. Estamos, num esforço de sísifo, lutando e tombado na luta contra a criminalidade, mas e a remuneração condizente?
É preciso mostrar à sociedade que o policial militar é autoridade, no sentido mais lato da palavra. É preciso mostrar para a sociedade que, para atuar em locais de ocorrência, exige-se muito conhecimento, que vai desde os direitos administrativo, penal, processual penal aos ramos da psicologica e da sociologia. A formação do policial militar deve ser multidisciplinar, técnica. E não digo técnica/técnico apenas no nome, pois se nos quartéis ainda continuarem ensinando antigas lições (andar com as mãos para trás, por exemplo), as novas não prosperarão. Se os Direitos Humanos e a Polícia Comunitária ficarem apenas na teoria ou do lado de fora (extramuros), será difícil para o aluno assimilar e colocar em prática esses conceitos.
Ninguém deita remendo de pano novo em roupa velha, porque semelhante remendo rompe a roupa, e faz-se maior a rotura. Nem se deita vinho novo em odres velhos; aliás rompem-se os odres, e entorna-se o vinho, e os odres estragam-se; mas deita-se vinho novo em odres novos, e assim ambos se conservam. - Jesus Cristo
É preciso agregar valor a nossa atividade, é preciso quebrar paradigmas. Será que as tradições e os rituais do militarismo não passam à sociedade a imagem de soldados submissos e "cabeças de papel"? Enquanto o policial militar não for formado para ser autoridade, assim como é o delegado de polícia, continuará sendo remunerado da forma que é.
O primeiro passo companheiro, é desmilitarização. Com ela, iremos mudar da agua pro vinho!
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