Relatório de direitos humanos revela barbárie em prisões de Pernambuco
Tortura, morte e abusos são alguns dos problemas apontados no Complexo Prisional do Curado
RECIFE - Presos mantidos encarcerados por quase 10 anos após o cumprimento integral da pena, torturados por agentes penitenciários com cabo de vassoura, ou mortos depois de serem mantidos sob custódia em condições insalubres, apesar de ter havido denúncia formal. Essas e outras irregularidades que teriam sido cometidas no Complexo Prisional do Curado (antigo Presídio Aníbal Bruno), em Pernambuco, constam em relatório apresentado nesta quinta-feira por entidades de direitos humanos, no Recife. Entre as instituições que divulgaram os dados estão o Serviço Ecumênico de Militância nas Prisões (SEMPRI), Pastoral Carcerária, Justiça Global e Clínica Internacional de Direitos Humanos da Universidade de Harvard.
Desde agosto de 2010, essas entidades investigam e denunciam as condições precárias das instalações do complexo. Ao todo, 268 casos de violência, tortura, superencarceramento ou falta de responsabilização dos funcionários envolvidos em abuso, integram o dossiê de 715 páginas, apresentado em versão online.
- O Governo de Pernambuco não tem cumprido seus deveres em relação aos direitos humanos dos presos, dos funcionários das unidades e dos visitantes. Isso precisa ser resolvido. O Governo tem se omitido, inclusive, não atendendo às recomendações da Organização dos Estados Americanos (OEA) - critica o advogado Fernando Delgado, instrutor da Clínica Internacional de Direitos Humanos da Universidade de Harvard e um dos coordenadores do Arquivo Aníbal.
- São denúncias muito graves e que nunca foram levadas a sério pelo governo. Há presos dormindo amarrados na grade, quase em pé, por falta de espaço. Alguns são obrigados a pagar valores entre R$ 80 e R$ 140 por semana para ter direito a um “barraco” na unidade. Existe também a cobrança de R$ 50 por hora para barracas serem usadas durante as visitas íntimas. Queremos agora que a Polícia Federal passe a investigar essas denúncias já que o estado não toma providências - afirmou Delgado, lembrando que em 2011 foi formalizado um pedido de apuração federal.
Nesta semana, o governo de Pernambuco anunciou investimentos de R$ 82 milhões para tentar recuperar as unidades prisionais do Estado. No final de janeiro, em função da tensão causada por rebeliões no sistema prisional, que culminaram em quatro mortes, o governador Paulo Câmara (PSB) decretou estado de emergência por 180 dias e nomeou uma força-tarefa para ações emergenciais.
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