Do UOL, em São Paulo e Santa Maria (RS)
O inquérito sobre o incêndio na boate Kiss, em Santa Maria (RS), que deixou 241 mortos no último dia 27 de janeiro, aponta 16 indiciamentos pela tragédia de forma direta e outros 10 indícios de crime (nove que vão para a Justiça Militar e um para o Tribunal de Justiça). Outras nove pessoas responderão por improbidade administrativa. No total, 35 pessoas são responsabilizadas pela tragédia.
Entre os indiciados estão os sócios da boate Kiss, Elissandro Spohr, o Kiko, e Mauro Hoffman, e os integrantes da banda Gurizada Fandangueira Luciano Augusto Bonilha e Marcelo de Jesus dos Santos, que já estavam presos preventivamente na penitenciária estadual de Santa Maria. Os quatro são acusados de homicídio com dolo eventual triplamente qualificado.
Além deles, foram indiciados pelo mesmo crime Angela Aurelia Callegaro, irmã de Kiko, sua mãe, Marlene Callegaro, o gerente da boate, Ricardo de Castro Pasche, e os bombeiros Gilson Martins Dias e Vagner Guimarães Coelho, responsáveis pela fiscalização.
Foram indiciados por homicídio culposo (sem intenção de matar) Miguel Caetano Passini, atual secretário de Mobilidade Urbana, Luiz Alberto Carvalho Junior, secretário do Meio Ambiente, Beloyannes Orengo de Pietro Júnior, chefe da fiscalização da Secretaria de Mobilidade Urbana, e Marcus Vinicius Bittencourt Biermann, funcionário da Secretaria de Finanças que emitiu o alvará de localização da boate Kiss.
O prefeito de Santa Maria, Cezar Schirmer (PMDB), e o comandante regional do Corpo de Bombeiros de Santa Maria, coronel Moisés Fuchs, devem ser investigados pela Justiça por improbidade administrativa.
O documento de 10 mil páginas foi apresentado na tarde desta sexta-feira (22) pela Polícia Civil, no campus da UFSM (Universidade Federal de Santa Maria). Os delegados também mostraram dois vídeos impressionantes do momento em que o incêndio começou dentro da boate.
Por 55 dias, cinco dezenas de policiais, peritos e assessores trabalharam em conjunto para colher 800 depoimentos e realizar perícias que sustentam o inquérito.
"O trabalho desenvolvido foi muito complexo. É o maior inquérito da Polícia Civil do Rio Grande do Sul", afirmou o chefe da Polícia Civil do Estado, Ranolfo Vieira Junior, antes da apresentação do inquérito.
O delegado regional, Marcelo Arigony, foi o responsável por detalhar como foram feitas as investigações. Segundo ele, os 234 autos de necropsia assinados pelo IGP (Instituto Geral de Perícias) atestam que 100% das mortes foram causadas por asfixia. "O desprendimento do monóxido de carbono e do cianeto com a queima da espuma do isolamento acústico causaram as mortes", explicou.
O inquérito
Na madrugada desta sexta, os volumes foram transportados da 1ª Delegacia de Polícia de Santa Maria para a Delegacia Regional.Antes da apresentação na UFSM, o material foi levado ao Fórum de Santa Maria e protocolado na 1ª Vara Criminal. O Ministério Público irá analisar o inquérito e, se concordar com a Polícia Civil, irá formalizar a denúncia à Justiça.
Cianeto e superlotação
O laudo do IGP sobre a liberação de gases tóxicos pela espuma de poliuretano que revestia o teto da boate Kiss, em Santa Maria (RS), já havia confirmado que o incêndio produziu cianeto, monóxido de carbono e dióxido de carbono em quantidade suficiente para asfixiar as pessoas que morreram na tragédia.O documento informa que a queima da espuma liberou três tipos de gases suficientes para asfixiar as pessoas que estavam dentro da Kiss no momento do incêndio. O resultado foi obtido depois que amostras do material foram queimadas com um artefato pirotécnico do mesmo tipo do utilizado no show da banda Gurizada Fandangueira.
Outro ponto levantado pelos técnicos é que a casa comportava no máximo 750 pessoas. De acordo com os delegados que presidem o inquérito, ao menos mil clientes estavam na boate na noite do incêndio, o que indicaria superlotação.
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