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Folha de São Paulo
A decisão do novo secretário da Segurança Pública, Fernando Grella Vieira, de proibir que policiais militares socorram vítimas com ferimentos graves abriu uma crise entre os PMs. A resolução, antecipada pela Folha, passou a valer ontem.
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Governo de SP proíbe polícia de socorrer vítimas de crimes
Uma das intenções da resolução é evitar que policiais alterem a cena de um crime, de modo a acobertá-lo.
Representante dos PMs na Assembleia, o major reformado Olímpio Gomes, e a associação dos PMs portadores de deficiência dizem que vão tentar revogar a norma.
"A mensagem que o governo dá é a de que não confia na polícia", diz o major, deputado estadual pelo PDT.
Segundo ele, o governo Geraldo Alckmin (PSDB), para combater maus policiais, põe sob suspeita toda a PM -há casos de mortes de vítimas socorridos por policiais em que os PMs são investigados.
Olímpio irá propor um projeto que anule a norma. Alckmin, porém, tem maioria na Casa. Já a associação ameaça ir à Justiça. "A decisão é absurda, parece que foi tomada por quem desconhece a atividade policial", diz a entidade.
PMs, sob a condição de anonimato, disseram ser treinados para prestar socorro e que a medida prejudica a imagem deles junto à população.
Agora, o policial passa a ser obrigado a informar ao Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), mesmo que tenha participado da ocorrência. Isso vale para crimes como homicídio, tentativa de homicídio e lesão corporal grave.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
SUSPEITA
Além de preservar a cena do crime, a iniciativa pretende assegurar o atendimento às vítimas por profissionais habilitados, como médicos e socorristas. A medida é elogiada por especialistas (leia abaixo).
Para o comandante da PM na capital, coronel Marcos Chaves a medida dará maior transparência à ação policial.
"Hoje, quando há confronto, o policial já é visto com suspeita. Não se sabe se ele socorreu mesmo, se alterou a cena do crime. Com a proibição, a suspeita contra o PM vai cair."
Sob a condição de anonimato, dois comandantes de batalhões da PM disseram temer que o número de vítimas aumente porque o socorro poderá demorar mais do que hoje.
Um deles disse que em cidades menores o Samu não é tão eficiente e os PMs serão obrigados a descumprir a regra.
Ex-comandante da PM entre 2009 e 2012 e vereador do PSD, Álvaro Camillo revelou o mesmo temor, embora apoie o atendimento por especialistas.
"O que preocupa é um policial deixar de socorrer, ficar em dúvida, e uma vida se perder."
O Samu diz que atende 96% dos casos em até dez minutos e que a nova demanda não será problema.
Capitão reformado da PM e vereador pelo PTB, Conte Lopes diz que, com a medida, parece que "só o PM erra".
Para o criminalista Leopoldo Louveira, se a vítima morrer, o policial e o Estado podem ser responsabilizados por omissão de socorro.
Não fica claro na norma se o policial, mediante orientação telefônica do Samu enquanto a ambulância não chega, poderá intervir para ajudar um ferido. (AFONSO BENITES, ANDRÉ MONTEIRO, RICARDO GALLO E TALITA BEDINELLI)
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