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sábado, 7 de março de 2015

PMs tem mais 200 militares por problemas de saude! Os motivos das doenças são diversos como: problemas psicológicos, carga horária excessiva e pressão no trabalho.

ALAGOAS

Alagoas tem mais de 200 policiais afastados por problemas de saúde


Problemas psicológicos estão entre as causas de afastamentos.
Policiais reclamam de carga horária excessiva e pressão no trabalho.


Carolina Sanches e Michelle FariasDo G1 AL

Operação Polícia Militar  (Foto: Ascom/PM)
Policiais militares atuam no combate ao crime (Foto: Ascom/PM)

Fazer diligências armados nas ruas, prevenir e investigar crimes, trocar tiros com criminosos, tomar conta de presos e carga horária excessiva. Essas são apenas algumas situações vivenciadas por homens e mulheres que escolhem trabalhar na área da segurança pública. Essa carga de tensão acaba levando muitos deles ao afastamento por orientação médica.

Em Alagoas, 235 agentes da segurança pública estão afastados por doença de trabalho. De acordo com a Polícia Militar, dos oito mil policiais da corporação, 202 estão sendo atendidos pela junta médica. Na Polícia Civil, dos 1.800 homens, 33 estão fora das ruas.
Os afastamentos, segundo as próprias instituições, se referem a diversos tipos de doença, incluindo as psiquiátricas. Dependendo do diagnóstico médico, o policial é afastado completamente do trabalho ou assume outra função interna, administrativa.
"Trabalho há mais de 15 anos como policial civil e vivo 24 horas sob pressão. Já perdi as contas de quantas vezes fui convocado quando estava de folga. Não estive em momentos especiais na família. Já fui afastado por estresse e hoje vejo que o trabalho não compensa o salário que ganho", relata um policial que precisou ser afastado por não ter mais condições psicológicas de exercer suas atividades.
Sargento foi baleado na rampa de acesso ao Pleno do TJ (Foto: Natália Souza/G1)Sargento tentou suicídio na rampa de acesso ao Pleno do TJ (Foto: Natália Souza/G1)

Por causa do estresse, há registros também de policiais que tentaram tirar a própria vida. Como foi o caso do sargento José da Silva, que deu um tiro na cabeça dentro do Tribunal de Justiça de Alagoas, em julho de 2014. Ele fazia a segurança do TJ e também era motorista do desembargador João Luiz Lessa.

Dois meses depois, a Polícia Militar montou uma verdadeira operação para evitar que o soldado André Ivan Rolemberg, lotado no 5º Batalhão de Polícia Militar (BPM), cometesse suicídio. A negociação durou mais de quatro horas até que o militar decidisse se render. Ele foi encaminhado a um hospital psiquiátrico.

Falta efetivo e sobra trabalho

O presidente da Associação dos Subtenentes e Sargentos de Alagoas (ASSMAL), sargento Teobaldo de Almeida, afirma que são muitos os fatores que levam o militar a se afastar por motivos de doença.
"Os policiais são profissionais que, devido ao seu trabalho, são expostos a riscos elevados, e frequentemente adoecem, sofrem acidentes em serviço, risco de morte, morrem ou são afastados precocemente de suas atividades. Vivem sob pressão e isso é muito estressante. Acredito que o fator psicológico é o responsável pelo maior número de afastamento", destaca.
Teobaldo de Almeida  (Foto: Jonathan Lins/G1)Teobaldo de Almeida diz que falta de efetivo
sobrecarrega militares (Foto: Jonathan Lins/G1)


Sobre o tratamento oferecido pela corporação, o sargento Teobaldo diz que atualmente percebe uma melhora, mas ainda falta muito para ser adequado.

" A falta de uma carga horária definida é um fator que sobrecarrega o militar. Hoje, a carga horária ultrapassa as 40 horas semanais, principalmente para quem trabalha nas ruas. No interior, tem militar que chega a trabalhar 60 horas semanais".

O sargento também reclama do pouco efetivo nas ruas. "A violência aumentou e a quantidade de policiais no estado diminuiu. Se tivéssemos um efetivo maior, poderíamos fazer um rodízio nas equipes".

Segundo o Sindicato dos Policiais Civis (Sindpol), é comum, no interior, ficar apenas um agente responsável pela delegacia e pela custódia dos presos. "Como um agente sozinho consegue dar conta de tudo? O policial não tem como cuidar de presos, não é função dele. Falta estrutura", afirma o vice-presidente do sindicato, Edeilton Gomes.

A Secretaria de Estado da Defesa Social e Ressocialização (Sedres) informou, por meio de assessoria de comunicação, que não vai se pronunciar sobre as queixas dos militares porque isso é de responsabilidade do comandante de Policiamento da Capital, tenente-coronel Sampaio e do delegado-geral, Paulo Cerqueira.

A assessoria da Polícia Militar informou que a carga horária dos militares é legal, conforme determinação do Conselho de segurança Pública. Já sobre os outros questionamentos feitos pelos militares, ele disse que só iria se posicionar após o relatório que está sendo feito pela Sedres sobre Qualidade de Vida na Segurança Pública de Alagoas.

A assessoria da Polícia Civil também afirmou que a carga horária dos policiais é legal, sendo extrapolada em ocasiões específicas, como investigações mais demoradas. Dependendo da situação, eles podem, inclusive, ser chamados a trabalhar durante a folga.

Ainda segundo a assessoria da PC, os policiais podem andar armados durante todo o dia. Sobre as reclamações feitas por eles sobre cuidar de presos em delegacias, a Polícia Civil informou que isso ocorre por conta da superlotação no sistema prisional, que impede transferência dos presos das delegacias mais rapidamente.

Ivaldo Oliveira da Silva foi morto com um tiro na cabeça. (Foto: Reprodução/Facebook)Ivaldo Oliveira da Silva foi morto com um tiro na
cabeça.
(Foto: Reprodução/Facebook)

Traumas
Se não leva ao afastamento, os problemas pelos quais passam os policiais do estado podem se transformar em traumas.
Foi o caso de um PM que trabalha na região Norte do Estado e estava lotado no município de Matriz de Camaragibe, quando o soldado Ivaldo Oliveira Silva foi assassinado.
"Estava de serviço e recebi o chamado de um policial ferido durante assalto a um caixa eletrônico na cidade de Porto de Pedras. Quando cheguei ao local, vi meu colega de trabalho morto na rua. Foi uma cena que não pude esquecer. Até hoje lembro disse quando estou de plantão à noite. É muito triste ver uma situação como esta", lamenta.
O militar, que não quis se identificar, diz que está na corporação há mais de 25 anos e já trabalhou em muitas situações de risco. "Nós escolhemos a profissão porque nos identificamos, mas o dia a dia é bem diferente e tudo tem que ser adaptado à realidade. O que é ensinado na academia não é o que encontramos nas ruas".
A carga horária excessiva de trabalho também é uma queixa do PM. "A carga horária é pesada e muitas vezes a equipe é pequena para enfrentar a quantidade de criminosos em uma ação. Muitos policiais só continuam no trabalho porque precisam sustentar a casa, mas o amor pela corporação acabou", confessa.
Quem se mantém na ativa, diz que os riscos que enfrentam na profissão são conhecidos desde que se assume a farda. "Bandido não tem pena da polícia. Quando o militar faz o juramento, pode até morrer no serviço. Só Deus sabe o destino da gente", pondera o PM.

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