Luiz Alves Cardoso e Wellington Guimarães Cardoso desenvolveram doenças crônicas em razão da exposição aos dejetos radioativos
Dois policiais militares que atuaram em locais contaminados pelo Césio-137 receberam parecer favorável da Justiça para receber pensão vitalícia do Estado. Luiz Alves Cardoso e Wellington Guimarães Cardoso desenvolveram doenças crônicas em razão da exposição aos dejetos radioativos.
O parecer foi dado por unanimidade pela 2ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJGO), reformando sentença da 1ª instância. O pedido de pensão havia sido negado sob a alegação de que houve ausência de prova pré-construída e também de que não foi comprovado nexo causal entre as enfermidades e o acidente radioativo.
Os policiais insistiram e interpuseram mandado de segurança para que recebessem pensão vitalícia sustentando que desenvolveram doenças relacionadas à exposição por trabalharem com o depósito de rejeitos radioativos. O desembargador Zacarias Neves Coêlho, relator do processo na segunda instância, acatou o pedindo, confirmando que todos os pré-requisitos para o recebimento da pensão foram comprovados.
O juiz ressaltou que eles trabalharam na área de risco do acidente; demonstraram que não foram monitorados a despeito da exposição radioativa; são portadores de doenças crônicas e não receberam pensão anterior. Assim, o magistrado concluiu que eles têm direito líquido e certo ao pensionamento.
Zacarias Neves também entendeu que não se pode falar em ausência de demonstração do efetivo nexo causal, já que ele foi comprovado pelos policiais e, além disso, não há nenhuma informação técnico-científica contrária.
O acidente
Um aparelho utilizado em radioterapias abandonado nas antigas instalações do Instituto Goiano de Radioterapia (IGR), na Avenida Paranaíba, Setor Central de Goiânia, deu início à tragédia com o Césio-137. Dois catadores de materiais recicláveis encontraram o equipamento desconhecido e decidiram pegá-lo para tentar vender, acreditando se tratar de sucata. O aparelho então foi desmontado e repassado adiante, o que resultou em um rastro de contaminação classificado como cinco na Escala Internacional de Acidente Nucleares, que vai até sete.
A contaminação na capital teve início com uma cápsula que continha cloreto de césio, um sal originado a partir do radioisótopo 137. A cápsula foi aberta no ferro-velho de Devair Ferreira para aproveitamento do chumbo que a revertia. Ao abrir o objeto, o proprietário do ferro-velho expôs ao ambiente 19,26 gramas de cloreto de césio-137 (CsCl), um sal que emite brilho azulado na ausência de luz. Ele se encantou com o brilho e então levou a descoberta para a esposa, que o distribuiu a familiares e amigos.
O irmão de Devair levou um pouco do material para a filha, Leide das Neves, que aos seis anos ingeriu um pouco do produto com pão, sem perceber. A criança, símbolo da tragédia, morreu no dia 23 de outubro. O pai de Leide passou por tratamento de descontaminação no Hospital Naval Macílio Dias, no Rio de Janeiro, mas faleceu sete anos depois.
Entre os sintomas da contaminação estão náuseas, tonturas, vômitos e diarreias. A constatação do acidente foi lenta, pois os profissionais da saúde não sabiam do que se tratava. Maria Gabriela, esposa do dono do ferro-velho, então desconfiou que o sal azul pudesse ser o responsável pela doença desconhecida e decidiu, junto com um funcionário do ferro-velho, levar a cápsula à Vigilância Sanitária, que por sua vez não se atentou aos riscos e deixou o objeto abandonado durante dois dias sobre uma cadeira. Só em 29 de setembro de 1987 foi dado o alerta de contaminação, após Maria passar por uma entrevista com médicos.
Buscando não alarmar a população goianiense, o governo de Henrique Santilho decidiu minimizar o acidente escondendo dados da população, chegando a divulgar que se tratava de um vazamento de gás. Na época, Goiânia sediava o GP Internacional de Motovelocidade, sendo este outro motivo da omissão dos fatos. Uma seleção de pessoas em níveis de contaminação foi realizada no Estádio Olímpico Pedro Ludovico.
Após a constatação do acidente, o objeto que continha a cápsula foi recolhido por militares e atualmente encontra-se exposto no interior da Escola de Instrução Especializada, no Rio de Janeiro (RJ), como forma de homenagear aqueles que contribuíram com a descontaminação, e também às vítimas.
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