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quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Comerciante é detido após criticar ação de PMs nas redes sociaisComerciante é detido após criticar ação de PMs nas redes sociais


Paraná

Comerciante é detido após criticar ação de PMs nas redes sociais

Quando Claudionor Lima, 33, gerente de uma empresa de coleta de lixo urbano, postou no Facebook críticas a uma abordagem policial, não imaginou que horas depois seria preso. Lima foi algemado e levado à delegacia por PMs sem uniforme do município de Sarandi, no norte do Paraná, na última quinta-feira (21).
Um dos PMs havia sido criticado por Lima na página de um site noticioso do Facebook. Antes de levarem Lima à delegacia, os policiais ainda posaram para fotos com o homem algemado. Depois, as imagens foram compartilhadas pelo aplicativo de celular Whatsapp.
Nesta segunda (25), a Comissão de Direitos Humanos da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de Maringá pediu ao Ministério Público a instauração de uma ação criminal para apurar as práticas de abuso de autoridade e de peculato por parte dos dois policiais militares.
Reprodução
PM Cordeiro (de prata) posa ao lado de Claudionor Lima, preso após criticar o policial no Facebook
PM Cordeiro (de prata) posa ao lado de Claudionor Lima, preso após criticar o policial no Facebook
O presidente da comissão da OAB de Maringá, Fulvio Stadler Kaipers, disse que a prisão de Lima foi ilegal e que os policiais utilizaram o carro da PM "para satisfazer interesses pessoais".
Segundo Kaipers, a prisão por crimes de difamação e calúnia –que os policiais alegam ter sofrido– só pode ocorrer após determinação judicial.
Ele classificou a ação dos policiais de abusiva e disse que os dois tentaram intimidar a população. "Quiseram estabelecer uma mordaça e impor o medo. Como você vai se sentir seguro com uma polícia assim?", indagou o advogado.
O CASO
Segundo Lima, na quarta-feira passada um veículo que pertence à empresa onde ele trabalha foi parado em uma blitz de trânsito. Ele foi chamado ao local pelo motorista, que estava sem o documento do carro e com pneus "carecas".
Ao chegar ao local da blitz, Lima pediu aos policiais que o veículo fosse encaminhado ao pátio da empresa antes da apreensão, já que o carro estava carregado com "material infectante" recolhido em um hospital.
Lima diz que os policiais não quiseram ouvir seus argumentos e recolheram o veículo –que foi retirado do pátio da PM no dia seguinte, após o pagamento de taxas e aplicação de multas.
Insatisfeito com a conduta de um soldado identificado como Cordeiro, que comandava a blitz, Lima acessou a fanpage do site de notícias "Sarandi Online" e postou o seguinte comentário: "Com puro abuso de autoridade, falta de bom senso por parte dos policiais e principalmente pelo comandante da operação SOLDADO CORDEIRO, que fizeram essa blitz com o único intuito de ferrar trabalhadores, sem o mínimo de bom senso, ao invés de irem atrás de bandidos".
Reprodução
Crítica de Claudionor Lima (em amarelo), publicada no Facebook horas antes de ele ser detido por PMs
Crítica de Claudionor Lima (em amarelo), publicada no Facebook horas antes de ele ser detido por PMs
Quase duas horas depois, policiais militares foram à empresa onde Lima trabalha e o chamaram para uma conversa. Na rua, o gerente foi algemado.
Os soldados Cordeiro e Marcelo Frank Siqueira –conhecido como Rambo– posaram para fotos com Lima de algemas ao lado do carro da PM. Ao chegar na delegacia, ele foi ouvido e liberado.
Assustado com a situação, Lima que é casado e pai de dois filhos, disse que a direção da empresa onde trabalha estudar adotar providências sobre o caso. "Minha mulher está grávida e ficou muito abalada", disse.
Procurado pela reportagem, o soldado Frank defendeu a ação da dupla e disse que "é fácil criticar a polícia, a gente não tem voz e não tem comando nenhum".
"É fácil criticar o policial dizendo que ele é um abusado. Eu conversei com o rapaz [Lima], que é gente boa, e ele nos pediu desculpas. Serve como exemplo", afirmou.
O comentário de Lima no Facebook provocou mais críticas à atuação da PM. "Muito vagabundo que a gente conhece aproveitou a situação para isso. A maioria já foi identificada", disse Frank.
Ele chegou a comentar na mesma página do Facebook que havia prendido Lima –e ameaçou outro usuário que publicou críticas à PM, dizendo que iria atrás dele. "Não esquemta não (sic) Givan Joyce, já estamos indo", escreveu.
Em nota, a Polícia Militar do Paraná disse que defende o "direito de manifestação de pensamento" e que, "para casos de ofensa, existe, juridicamente falando, a Procuradoria do Estado", que faz a defesa em relação a ofensas cometidas contra o funcionário público, incluindo policiais militares.
No caso de Sarandi, no entanto, o policial não prestou queixa contra Lima, ressaltou a nota.
A PM informou ainda que o Comando do 4º Batalhão da PM, sediado em Maringá, determinou a abertura de uma sindicância para apurar as circunstâncias da ação policial.
Reprodução
Marcelo Frank Siqueira (de preto) prende Claudionor Lima, após este criticar ação policial no Facebook
Marcelo Frank Siqueira (de preto) prende Claudionor Lima, após este criticar ação policial no Facebook

Fonte: Folha de São Paulo

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