Informação policial e Bombeiro Militar

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

EXECUTIVOS DA MICROSOFT EXPLICAM O SISTEMA DE BIG DATA QUE AJUDARÁ A POLÍCIA DE SÃO PAULO


/GUSTAVO GUSMÃO 


Na última semana, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo e a Microsoftanunciaram, em coletiva, o início oficial das operações do sistema Detecta. Conectado atualmente a pouco mais de 100 câmeras e a um banco de dados com informações do 190 (Polícia Militar) e do 193 (Corpo de Bombeiros), a ferramenta de big data, por ora, ajudará policiais e outras autoridades a verificar, via rádio, o histórico de ocorrências de determinado local.

A ideia do projeto, porém, é bem mais ambiciosa. No evento, Geraldo Alckmin, governador de São Paulo, afirmou que a proposta é mais do que dobrar o total de câmeras do governo espalhadas pelo Estado – hoje, são 418 delas. E é possível aumentar ainda mais esse número conectando ao sistema câmeras do setor privado, mais ou menos como já acontece em Nova York. A cidade usa um sistema similar desde 2012, ajudou a Microsoft no desenvolvimento e conta com mais de 6.000 câmeras – incluindo as de empresas e bancos – ligadas ao Domain Awareness System, o DAS.
Além disso, conforme mais bancos de dados forem conectados ao Detecta, policiais futuramente equipados com tablets e melhor preparados conseguirão acessar ainda mais informações em tempo real. Um oficial poderá, conforme se dirige a uma cena do crime, saber se há, na região, algum suspeito por outras ocorrências e conferir imagens do local que já foram registradas no sistema.
Para explicar um pouco melhor como foi o desenvolvimento do Detecta e como foi o processo de implementação dele em São Paulo, INFO conversou com os executivos Mike McDuffie e Alfredo Deak, ambos da Microsoft. O primeiro, norte-americano, é vice-presidente mundial de serviços para o setor público, enquanto o segundo, brasileiro, é diretor da divisão de Justiça e Segurança Pública da empresa no Brasil. Confira a conversa a seguir.
Como funciona o sistema do Detecta? Ele é, de alguma forma, diferente do utilizado pela polícia em Nova York?
Mike McDuffie: Pense nele como uma aplicação que olha e analisa todos os dados, construído para a polícia com a ajuda da própria polícia – o que o muito forte, funcionalmente falando. O Detecta também é baseado em tecnologias da Microsoft, que continuarão a evoluir ano após ano. Dito isso, é óbvio que o policiamento em São Paulo é diferente do que há em Nova York. Mas como ambos os sistemas são baseados em um mesmo fundamento, o Estado de São Paulo pode evolui-lo – como já está fazendo – de forma a atender às necessidades encontradas aqui. Além disso, os paulistas podem aproveitar todas as lições aprendidas em Nova York e vice-versa. É uma ótima colaboração.
Alfredo Deak: Do ponto de vista técnico, o Detecta é capaz de receber informações de qualquer tipo de sensor eletrônico [câmeras e leitores de placas, por exemplo]. Essas informações mantêm feeds, e todos esses feeds estão inseridos em um banco de dados. Podemos relacionar essas fontes, e baseados nesses cruzamentos, são criados os alertas. A ideia, em suma, é fazer essa relação de big data em tempo real, para dar a informação na hora e disparar alertas automaticamente para o usuário [policiais e outros oficiais].
Por questão de infraestrutura, foi complicado instalar, em São Paulo, um sistema como o que é utilizado de Nova York?
McDuffie: Não, na verdade mal tivemos complicações. Eu diria que encontramos até mais semelhanças do que diferenças. É uma área muito grande e densamente povoada, trânsito muito intenso e desafios similares do ponto de vista da segurança pública. As diferenças já envolvem a cultura e as necessidades únicas de cada lugar. Darei um exemplo: a polícia de SP já havia desenvolvido mais de 200 tipos novos de alertas diferentes na primeira fase de operação do sistema – ou seja, em um período muito curto de tempo. Então, a solução básica é a mesma: a estrutura é baseada em dois lugares e há a possibilidade criar alertas baseados em fontes de dados, como câmeras, leitores de placas de carros e outros pontos. Mas isso é limitado pela imaginação, e algumas das aplicações e necessidades de instituições de segurança pública serão sempre ligeiramente diferentes.
Quanto tempo o sistema original, usado em NY, levou para ser concluído e instalado?
McDuffie: Em Nova York, o processo de implementação teve início há sete anos [o sistema, chamado de Domain Awareness System, ou DAS, começou a funcionar há dois]. O projeto começou como algo muito diferente, que acabou evoluindo para uma iniciativa muito mais sofisticada. Durante esse período, aprendemos muito, e os números que obtivemos fizeram o sistema evoluir com o tempo. Então, quando viemos implantá-lo em São Paulo, já tínhamos em mãos um sistema significativamente maduro, que já está rodando a três ou quatro meses.
Com sensores e a internet das coisas em ascensão, de que outras formas vocês acham que o big data e a nuvem podem ajudar na segurança pública?
McDuffie: Primeiro, esclarecendo: o Detecta usado aqui em São Paulo não é um projeto da Microsoft em sua essência – os data centers são mantidos pelo governo, e não em nossa nuvem pública. Mas de qualquer forma, posso dizer que nossa solução seria capaz de gerenciar tudo isso. Além disso, eu diria para você que, conforme as pessoas ganharem mais confiança na segurança e nas políticas de manuseamento de informações, nós veremos mais e mais desses sistemas baseados em uma nuvem muito grande. Da parte da Microsoft, ao menos, o futuro está no mobile e na nuvem.
Deak: Imagine que, só em São Paulo, a polícia e os bombeiros recebem 180 mil ligações por dia. Cada uma dessas ligações do 190 e do 193 pode se dividir em centenas de ações. Ou seja, diariamente, a polícia recebe milhões disso que chamamos de transações [“transactions”, no termo original]. Pense também que todo tablet e aparelho de GPS pode enviar, em 10 ou 15 segundos, uma localização. Eis aí outro milhão de transações. Imagine então manusear milhões dessas transações todos os dias, relacionando todas elas para que se tornem alertas [como é no Detecta e no DAS, de NY]. Sem o big data, é praticamente fazer isso com milhões de informações em tempo real.
Por fim, há planos de expansão para esse sistema?
McDuffie: Sim, certamente. Estamos no meio do processo de expansão, mas não posso falar muito sobre cidades em específico. Mas há lugares do mundo todo interessados nessa solução, e você ainda a verá se expandindo aqui no Brasil mesmo. Na minha cabeça, não vejo motivo para esse sistema não proliferar e crescer de forma significativa em algum tempo.

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