Redação do DIARIODEPERNAMBUCO.COM.BR
13/02/2012 | 07h36 | Ipea
Além do medo da população e da morte de mais de 150 pessoas em menos de duas semanas, as recentes greves de policiais militares expõem a fragilidade do desenvolvimento econômico e social em curso em algumas regiões do Brasil. Relegados ao atraso por décadas, o Norte e o Nordeste do país ganharam destaque no cenário nacional em função de políticas de transferência de renda, aumento do salário mínimo e como resultado da descentralização dos polos industriais. A melhoria do padrão médio de vida da população e o aumento da circulação de dinheiro, porém, trouxeram uma escalada da criminalidade que, agora, ameaça estancar o crescimento e a geração de riqueza nesses locais. Levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra que os custos anuais do setor público e da iniciativa privada com a violência superam 6% do Produto Interno Bruto (PIB) — mais de R$ 200 bilhões ou quatro vezes o que o governo gastou em 2011 com investimentos.
Em 12 dias de paralisação dos militares, o prejuízo do comércio, calculado pela Câmara dos Dirigentes Lojistas na Bahia, ultrapassou os R$ 500 milhões. As demais cifras que estão em jogo são muito maiores. Levantamento divulgado na sexta-feira pelo Banco Central mostra que a atividade em duas das maiores economias do Nordeste (Bahia e Pernambuco) superou a do restante do país no trimestre encerrado em setembro de 2011 (último dado disponível), ao registrar crescimento de 1,2% e 1%, respectivamente.
Apesar do dinamismo econômico, ambos os estados estão entre os 10 mais violentos do país, conforme o Mapa da Violência 2012, encomendado anualmente pelo Ministério da Justiça. Entre as principais causas dessa realidade, está o despreparo do aparato de segurança pública local, apontam especialistas ouvidos pelo Correio. Para o coordenador do Laboratório de Análise da Violência da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), João Trajano, em estados como Alagoas, Bahia e Rio Grande do Norte, as polícias não se modernizaram. “Embora seja natural supor que o aumento da prosperidade leve a uma redução ou, pelo menos, estagnação da criminalidade, esses fenômenos não têm necessariamente uma forte relação no nosso país. O que temos é uma estrutura de segurança atrasada diante de uma economia em ascensão”, explica Trajano.
Aliada ao aumento na circulação de riquezas, a impunidade deixa o terreno fértil à criminalidade. “A hipótese que vem se confirmando é de que a violência tem seguido a rota da riqueza e não da pobreza. As práticas violentas, relacionadas ao crime organizado, estão migrando para o interior do país e para as zonas de fronteira, onde a proteção social é mais frágil”, relata o coordenador do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (USP), Sergio Adorno. Para o pesquisador, essa realidade pode afetar decisivamente o crescimento da região. “É a face mais perversa do desenvolvimento porque pode afugentar os empresários que pensavam em investir e trazer recursos para essas cidades e, consequentemente, melhorar a vida dos moradores.”
O economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) Júlio Gomes de Almeida afirma que a insegurança ainda não é determinante na decisão dos empresários, mas ganha espaço. “A variável preponderante é o mercado consumidor, que nessas regiões ainda é enorme, mas a questão de segurança está entre os pontos considerados, com certeza, podemos chegar ao que ocorreu no Rio de Janeiro há alguns anos”, pondera. Almeida refere-se à fuga de empresas e instituições financeiras da capital carioca durante a década de 1990 e início dos anos 2000.
Cidades ou regiões que experimentam uma explosão demográfica sem o devido preparo social são as mais vulneráveis aos efeitos colaterais da prosperidade. Exemplos não faltam. Macaé, no Rio, onde a economia multiplicou por seis na última década devido à exploração de gás e petróleo, é hoje o 150º município mais violento do país, com uma taxa de 50,9 mortes por 100 mil habitantes, quase o dobro da média nacional, de 26,2. As autoridades locais são enfáticas em destacar o mercado de drogas ilícitas como a principal causa, insuflado pelo crescimento populacional descontrolado.
Em Macaé, houve o fenômeno da chegada de mão de obra especializada. Assistir ao progresso sem participar pode ser uma razão para o surgimento da violência, afirma o pesquisador do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes Anderson Moraes de Castro e Silva. “A pobreza em si não é um fator capaz de potencializar a entrada de alguém na criminalidade, mas a falta de capacitação que leva ao desemprego, à não formação de uma família, além da história individual, podem influenciar”, diz.
Reproduções recentes do que ocorreu em Macaé são notórias no Norte e no Nordeste. No polo petroquímico em Camaçari, que responde a 15% do PIB baiano, a taxa de homicídios passou de 14,2 por 100 mil habitantes em 2000 para 50,6, em 2010. Grandes empreendimentos, como as usinas de Jirau e Santo Antonio, em Porto Velho, levaram a Rondônia a exploração sexual de crianças e adolescentes. O número de casos entre 2009 e 2010 passou de 306 para 636. “É gente com baixa instrução, que vem sem família para ficar por tempo determinado. Se o município não conta com investimentos na área social, problemas de prostituição, consumo de álcool e drogas, agressão e até acidentes de trânsito vão se intensificar”, ressalta Trajano.
Do Correio Braziliense
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