O número de detenções realizadas pela polícia de Nova York caiu 66% após mortes de agentes. A polícia de Nova York experimentou em dezembro uma queda significativa em suas ações, e está aparentemente em um conflito tão grande com o seu chefe, o prefeito Bill de Blasio, que alguns dizem que a cidade vive uma rebelião em sua única força de segurança armada.
Na semana de 22 de dezembro, as multas por infração de trânsito caíram 94% em relação ao mesmo período de 2013. Notificações para que pessoas comparecessem a tribunais por delitos menos graves, como estar intoxicado em vias públicas, caíram no mesmo percentual. Multas por estacionamento irregular caíram 92%, e as detenções, em geral, diminuíram 66%.
A ação dos policiais foi descrita como uma "greve virtual" pelo The New York Post, que apresentou pela primeira vez as estatísticas - mais tarde confirmadas de forma independente pela BBC.
A causa imediata da queda, segundo o jornal, foi o assassinato de dois policiais -Rafael Ramos e Wenjian Liu-, cometidos por um homem armado que havia dito nas redes sociais, no mesmo dia, que foi motivado pelo abuso policial em Nova York e em Ferguson, no Missouri - onde a morte de um jovem negro por um policial branco provocou protestos.
Mas outros fatores parecem desempenhar um papel importante na situação, incluindo as relações conturbadas com o prefeito.
Clima antipolícia
Dias antes da morte de Liu e Ramos, Di Blasio questionou a decisão de um júri de não indiciar um policial envolvido no caso de Eric Garner, que morreu sufocado por uma chave-de-braço de um policial que tentava controlá-lo - a polícia afirma que ele resistia à prisão. O caso ocorreu em julho.
Líderes sindicais da polícia acusam De Blasio de promover um clima "antipolícia" com seus comentários e de ter permitido protestos de rua não autorizados na sequência da decisão do júri sobre Garner.
Sindicato diz que prefeito promoveu clima "antipolícia" que aumentou tensão com população
Desde a morte dos dois agentes, a polícia de NY diz ter investigado cerca de 70 ameaças contra policiais - dez pessoas foram presas.
Na semana passada, o New York Post citou fontes policiais que afirmaram que as preocupações de segurança foram a principal razão para a diminuição na atividade policial.
"Mas eles acrescentaram que alguns agentes estavam diminuindo o ritmo de trabalho em protesto contra a reação de De Blasio no caso Eric Garner", escreveu o Post.
Outro jornal diário da cidade, o New York Daily News, descobriu que, nas delegacias onde os agentes mortos trabalhavam, só foi emitida uma citação penal nos sete dias após o ataque - na semana anterios, haviam sido apresentadas 626.
Sem "janelas quebradas"
A queda acentuada na atividade das forças de segurança provocou um misto de preocupações e esperança.
Os críticos têm utilizado a oportunidade para atacar a "teoria das janelas quebradas", que sustenta que crimes de menor potencial ofensivo precisam ser punidos de forma exemplar como forma de prevenir a ocorrência de grandes infrações.
Isso tem sido um princípio fundamental da polícia de Nova York desde que Rudolph Giuliani tornou-se prefeito, em 1994, mas tem sido criticado por punições desproporcionais aplicadas a minorias.
Alguns especialistas se perguntam se, com a atual queda, as pessoas começarão a perceber que os anteriormente altos níveis de atividade policial são desnecessárias para manter a segurança da cidade.
Di Blasio foi recebido com vaias no funeral de um dos policiais, mas situação foi revertida
Muitos destacam uma frase em particular publicada pelo Post: a polícia agora "faz vista grossa para crimes menores e só prende quando realmente é necessário" - o que evidenciaria o excesso de zelo normalmente exercido pela força.
"Bem, só podemos esperar que sindicato da NYPD (sigla do departamento de polícia de Nova York) e De Blasio resolvam suas diferenças em breve para que a polícia possa voltar a prender pessoas por outros motivos além de "ser realmente necessário", ironiza Scott Shackford, da revista Reason.
Estilo latino
No The New York Daily News, Harry Siegel disse que, embora a NYPD tenha "verdadeiras razões para estar chateada" com os esforços de De Blasio para expor policiais a processos judiciais, não deveriam ter lançado "esta profundamente perturbadora e sem precedentes rebelião policial".
Siegel compara a queda na atividade policial a uma tentativa de extorsão.
Mas, com a queda da taxa de criminalidade em 2014 e as ruas aparentemente tranquilas, mesmo durante a (in)ação dos agentes, o tiro pode sair pela culatra.
"É difícil manter uma chantagem desse tipo quando as pessoas não se sentem ameaçadas. E Nova York fechou 2014 com números baixos de mortes, estupro, furto qualificado e roubo. Por mais de 20 anos, o crime caiu porque a polícia dobrou e redobrou seus esforços. Chega um momento em que a quimio é mais mortal do que o câncer", escreveu Siegel.
Outros vão ainda mais longe, classificando o movimento da polícia de ameaça à democracia com reminiscências de golpe de Estado latino-americano.
"A NYPD precisa lembrar que há uma cadeia de comando e que ele não estão no topo. O que a cidade de Nova York está experimentando agora equivale a nada menos do que uma rebelião", escreveu Ben Domenech, em The Federalist.
No último sábado (3), houve uma pausa na rixa com o prefeito quando policiais o saudaram respeitosamente no funeral de Liu, em contraste marcante com as vaias com as quais ele foi recebido na semana passada, quando participou da cerimônia de homenagem a Ramos.
Na véspera, o comissário de polícia William Bratton pediu aos soldados para não repetirem aquelas cenas e absterem-se de fazer declarações políticas no "funeral de um herói".
E, embora Bratton tenha dito que não estava dando "uma ordem" ou "ameaças de ação disciplinar", seu pedido parece ter restaurado a ordem da cadeia de comando, pelo menos temporariamente.
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