A greve dos policiais na Bahia, segundo analistas, reflete o mal-estar de uma corporação historicamente mal paga e coloca em evidência a necessidade de modernizar esta força que ainda utiliza métodos herdados da ditadura militar (1964-1985).
A paralisação da Polícia Militar gerou uma onda de saques, incêndios e mais de 130 assassinatos em nove dias, o que obrigou o governo brasileiro a enviar tropas para garantir a segurança do Estado. Na terça-feira, em meio ao cerco militar aos PMs entrincheirados há uma semana na Assembleia Legislativa, as negociações para por fim à greve fracassaram. Uma das reivindicações dos grevistas é aumento salarial.
"No Brasil, o policial é mal pago e isto abre caminho para a corrupção. Está mal preparado e é violento e isso gera muito medo na população. Não foi educado para a democracia, continua sendo um produto da ditadura militar", disse à AFP Walter Maierovitch, jurista e ex-secretário nacional Antidrogas.
O País tem uma das maiores taxas de homicídios do mundo - cerca de 40 mil por ano, segundo o Ministério da Justiça -, dois terços cometidos com armas de fogo. "O Brasil não pode ainda garantir a segurança pública em um Estado federal. São 27 Estados dotados de seus próprios organismos policiais e judiciais que não se comunicam entre eles", acrescentou o jurista.
"Temos um problema histórico de baixa remuneração. Houve promessas feitas durante a campanha eleitoral e depois Dilma Rousseff retrocedeu. Isto gerou insatisfação na polícia", disse à AFP Sandro Costa, da ONG Viva Rio, que milita pela paz e pelo desenvolvimento social.
Segundo ele, "a tendência é que as reivindicações dos policiais aumentem" porque nos últimos meses a PM dos Estados de Minas Gerais, Santa Catarina, Ceará e São Paulo já fizeram greve e obtiveram promessas de reajustes salariais até 2015. "Agora o Rio se prepara; uma convocação de greve foi lançada para sexta-feira", disse. Costa afirmou que os melhores salários do País para policiais estão em Brasília, e que o Rio tem um dos salários mais baixos, cerca de R$ 1,2 mil iniciais.
Existem três tipos de forças de segurança no Brasil: a Polícia Federal, com melhor formação e mais bem remunerada, e as polícias Civil e Militar de cada um dos 27 Estados. Existe um projeto de unificação das duas últimas - mas ele aguarda há anos na Câmara.
"O Congresso Nacional deve mudar a lei para reformular o treinamento e o monitoramento dos policiais", declarou o deputado estadual Marcelo Freixo (Psol-RJ), presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito sobre as milícias em 2008 e ameaçado de morte desde então. "A PM responde a um código que data da ditadura militar. Além disso, não há representante do setor. Não fizemos uma transição democrática neste setor", disse.
Para a especialista em violência Alba Zaluar, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), "é evidente que a estrutura militar da PM e dos bombeiros não funciona mais". "Sua formação é para a guerra, não para proteger o cidadão. Devem ter outra formação, com um plano de carreira. São militares, não podem se sindicalizar e sua situação salarial é complicada."
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