Há alguns anos, ainda no início de carreira, fui pautado para acompanhar reunião em bairro violento de Fortaleza, na qual se discutiria o aumento da incidência de assaltos na região. Empolgado com a matéria, disse à equipe que me acompanhava, que estariam presentes lideranças comunitárias, representantes do setor de segurança pública, da igreja, das escolas, entre outros.
Ao declinar o nome dos participantes, o motorista que conduzia a mim e ao fotógrafo, disse: “Se não tiver representante dos assaltantes não adianta”. É claro que era brincadeira do motorista. Mas a imagem me marcou em várias outras coberturas nas quais se exigia a mediação de conflitos. Ou seja, de nada adianta a negociação, se uma das partes não está disposta a ceder.
Faço a reflexão em vista do recente episódio envolvendo a retirada à força de estudantes que ocupavam a reitoria da Universidade de São paulo (USP). Primeiro, é bom ficar claro um dos motivos do protesto: a prisão de universitários flagrados fumando maconha dentro do campus. O que, por si, já mostra o nível de transigência dos estudantes para com a lei.
A partir do motivo da ocupação, que foi o questionamento à presença de policiais no campus, é possível avaliar a intenção dos universitários com o ato. Dizer, por exemplo, que não se tentou negociar a retirada de forma pacífica chega a ser piada, pois desde sábado havia a ordem judicial para a desocupação. Depois de tudo, vir a público acusar a polícia pela depredação acontecida é querer fazer a opinião pública de idiota. Muitos da minha geração sabem bem o que acontece durante períodos de ocupação do gênero em prédios estudantis.
Além disso, querer impedir a presença da polícia no campus é desconhecer peculiaridades do nosso tempo, cada vez mais violento. O mundo mudou e muitos ainda acham que o País vive sob o julgo de uma ditadura, o que não é fato. Nesse episódio, talvez, nunca a música do Titãs tenha caído tão bem. Polícia, para quem precisa de polícia, até na USP.
Luiz Henrique Campos - lhcampos@opovo.com.br
Editor adjunto do Núcleo de Conjuntura do O POVO
Fonte: O Povo online
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