Polícia Militar high tech otimiza o tempo
Lola Nicolás
Do Diário do Grande ABC
A Polícia Militar entrou de vez na área tecnológica. Para atender à demanda da população, há 10 anos a corporação tomou uma decisão estratégica. Para estar mais presente nas ruas, para suprir sua insuficiência de recursos, a limitação de contingente, adotou recursos de logística, com sistema de comunicação segura, com rádio digital, telefonia, rede de dados, com informações para gerir operações, recursos humanos e estratégias. Hoje, a PM é high tech. O efetivo do Grande ABC é um dos mais avançados, pois é o segundo do Estado a trabalhar com tablets. Prova da modernização da corporação e da rapidez na intervenção pública e eficiência foi a mega-mobilização para coibir os bailes pancadões na periferia de Diadema, atendendo a solicitação dos moradores, feita por meio de reportagens publicadas pelo Diário.
Para o sucesso operacional, a inteligência virtual foi de suma importância. Segundo o coronel Roberval França, comandante-geral do policiamento militar no Grande ABC, equipes especialmente treinadas levantaram todo o contexto do que ocorreria no domingo passado por meio da monitoração de redes sociais. Constatou-se que sete pancadões estavam programados. A tecnologia entrou em campo, com locais mapeados, potenciais organizadores identificados, levantamento dos antecedentes criminais dos envolvidos, fotos, vídeos. Material suficiente para que o coronel formulasse petição junto ao Ministério Público que, munido dessa documentação, conseguiu a medida cautelar judicial para que a PM entrasse em ação, coibindo as barulhentas festas que tantos distúrbios causam aos moradores.
Com informação de ponta, consegue a PM ser bem mais eficiente. Hoje, o Estado de São Paulo tem 18 centros de operações de emergência, um deles no Grande ABC, munido de alta tecnologia capaz de abastecer a rede de comunicação com fotos e imagens. Tecnologia que possibilita, revela o coronel Roberval, atender às 7.000 chamadas diárias via Copom, graças a essa reformulação da pronta resposta à solicitação, melhor deslocamento do patrulhamento de rua. "Nosso tempo de resposta caiu de 11 minutos para três. Com isso, passamos a atender melhor, a ter mais tempo, com mais viaturas e pessoal à disposição. Isso é ganho para o cidadão." E de tecnologia, o comandante do Grande ABC entende, e muito. Por 11 anos participou diretamente da diretoria de logística na Administração da Tropa, foi subchefe do Centro de Processamento de Dados, chefe de Pesquisa e Inovação Tecnológica e diretor de telemática interino.
O investimento da PM em tecnologia obedece à lógica de que os novos sistemas melhoram a eficiência e a segurança, ao mesmo tempo em que aumenta também o controle dos supervisores, que poderão verificar possíveis falhas nos procedimentos, desvios de conduta ou servir de prova para comprovar a legitimidade da ação. As câmeras e o computador de bordo nas viaturas avisam o policial quando se aproximar de uma rua onde há denúncia de venda de drogas ou de um cruzamento em que ocorrem muitos assaltos. O sistema acoplado a um GPS também avisa quem são os ladrões que costumam agir na região e mostrar fotos dos suspeitos. Aos comandantes, o cérebro digital da PM indica o trajeto da viatura, qual equipe está mais próxima (em caso de perigo) e dizer quanto tempo e onde ficou parada. Esse sistema é inédito no mundo.
A Polícia Militar high tech facilita a vida do morador. Hoje, ocorrências de roubo e furto de veículos, por exemplo, são facilmente registradas no local do fato, e na própria viatura. Em breve, a vítima receberá uma senha e baixará uma cópia do boletim de ocorrência em casa, em seu computador.
PM S.A., uma empresa estadual valorizada
Com tantos recursos tecnológicos, com mão de obra cada vez mais especializada, com profissionais a cada ano bem mais gabaritados e despertando o interesse do mercado externo (há comandantes de reserva ocupando altos cargos na iniciativa privada), a Polícia Militar é uma empresa. Uma S.A. do Estado de São Paulo, gerenciada pelos 40 milhões de acionistas paulistas espalhados em 645 municípios.
A valorização da tropa, no entanto, vem a passos lentos. Sempre na história da Polícia Militar paulista questionou-se a baixa remuneração de seus integrantes, assim como da Polícia Civil. Em São Paulo, um PM em início de carreira ganhava no ano passado em torno de R$ 2.500, enquanto que em Brasília o salário era de R$ 4.100. Neste ano, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) autorizou reajuste salarial. "Foi de 15% a 40%, com o vale-alimentação passando de R$ 2 para R$ 20 o dia, além da revisão de gratificações", comenta o coronel Roberval.
A Polícia também ganhou equipamentos mais modernos, armamento apropriado para enfrentar a criminalidade e conjunto de recursos para dar segurança e positivar seu desempenho, como coletes eficientes, viaturas potentes, além de um sistema de Saúde considerado pela tropa como um dos mais completos do País. "Todos nós precisamos estar seguros para dar segurança."
CONTINGENTE
Hoje, a Polícia Militar do Grande ABC tem 3.600 homens - em dezembro serão cerca de 3.900, no total, com a chegada de 300 novatos e o ingresso de 100 das áreas administrativas. "Temos comandantes mais preparados no trato com a tropa. Isso é motivação. Tenho como lema que a melhor forma de valorizar os bons é eliminando os ruis. Sou muito duro com os que se desviam da conduta. Há excelente relacionamento com as prefeituras, com o Consórcio (Intermunicipal do Grande ABC) e com as guardas civis da região. Juntos, adotamos iniciativas para resolver a sensação de insegurança da população. E acredito que estamos conseguindo", orgulha-se o comandante Roberval FrançaCW-27.
Favela Naval é marco para humanização
Março de 1997. Imagens feitas pelo cinegrafista amador Francisco Romeu Vanni flagraram dez PMs do 24° Batalhão aterrorizando os moradores da favela Naval, em Diadema, torturando, extorquindo dinheiro e matando quem não tinha nenhum envolvimento com a criminalidade. As cenas até hoje causam indignação e revolta. "A repercussão foi dolorosa, mas foi um marco", esclarece o coronel Roberval, admitindo que o episódio serviu para que a Polícia Militar criasse diretrizes de valorização e humanização da tropa.
A partir daquela década, a corporação instituiu a Lei do Ensino, exigindo curso superior para todos os seus integrantes, com mestrado para capitães e doutorado para patentes acima de major. Foram criados também programas de desenvolvimento linguístico e núcleos de apoio psicológico para resgate da autoestima da tropa. E o principal, a mudança de enfoque no trabalho: "Nosso objetivo não deve ser nunca o controle das pessoas, mas a proteção delas. A PM comparece para ajudar, auxiliar e proteger", diz o comandante do Grande ABC, que trabalhou também na Força Tática do 11°, 15° e 19° batalhões, no 1° Batalhão de Choque, na Assessoria Jurídica do Comando e na Secretaria da Casa Militar. Para estar pronto a assumir a tropa de 3.600 homens desta região que é o quarto maior polo consumidor do Brasil e o quarto maior PIB nacional, Roberval é bacharel em Ciências Políticas da Segurança e Ordem Pública, bacharel em Direito, bacharel em Administração e pós-graduado em Administração de Programas e Projetos e doutorado em Ciências Policiais da Segurança e Ordem Pública.
A humanização vem do controle das emoções, principalmente em ocorrências de enfrentamento. Para isso, os policiais passam por treinamento que reúne técnica, conhecimento e prática, além de simulações. "Acreditamos, com isso, que o profissionalismo atinge o mais alto patamar. Afinal, ninguém quer lidar com um profissional destemperado, sem autocontrole. Costumo dizer que ninguém se submeteria a um neurocirurgião trêmulo e estressado."
Embora o controle de emoções seja tarefa difícil para qualquer pessoa, a Polícia Militar entende que uma tropa fria não é produtiva. Afinal, policial necessita sempre ser racional e emocional, para que tenha percepção da ação e saiba conduzi-la da melhor maneira. Em caso de ocorrências de resistência, tiros e mortes, o envolvido é submetido a uma espécie de análise sem divã. Cenário virtual do fato é montado e, juntamente com especialistas, o policial analisa sua conduta, sua técnica e se a opção escolhida foi a mais apropriada. "Nesse cenário, fica evidente para ele que poderia fazer, ou não, diferente. O Apoiar é feito com lousa digital, satélite com imagem da ocorrência, análise do deslocamento, fotos e depoimentos", detalha Roberval. É a tecnologia mais uma vez auxiliando o trabalho da PM.
Fonte: Diário do Grande ABC
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