Cabral, sobre PMs: 'os que não prestam devem ser alijados'
O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, afirmou nesta segunda-feira que os policiais militares envolvidos em corrupção serão "punidos exemplarmente". Ele comentou o assunto pela primeira vez sobre as denúncias envolvendo membros da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) dos morros da Coroa, Fallet e Fogueteiro, disse que "os que não prestam devem ser alijados".
Após investigação que começou a ser feita há 60 dias, a PM afastou o comando da unidade por medida administrativa. "Graças a Deus, temos uma estrutura de controle que os identificou e, portanto, serão punidos exemplarmente", disse Cabral.
As denúncias sobre a UPP da Coroa, Fallet e Fogueteiro, no Catumbi, resultaram no afastamento do comandante e do subcomandante da unidade de pacificação, respectivamente capitão Elton Costa e tenente Rafael Medeiros. Os dois estão entre os 30 agentes da unidade investigados em um suposto esquema de propinas fixas que seriam pagas regularmente pelos traficantes aos policiais.
A "caixinha" foi descoberta pela Coordenadoria de Inteligência da PM. De acordo com as apurações, traficantes da região pagariam de R$ 400 a R$ 2 mil - totalizando mais de R$ 53 mil por mês - ao grupo, para que ações de combate aos criminosos não fossem desencadeadas. Os valores seriam proporcionais à patente e à importância do agente na estrutura do policiamento.
O anúncio da exoneração dos oficiais foi feito em entrevista coletiva convocada pelo comandante-geral da Polícia Militar, coronel Mário Sérgio Duarte, e pelo chefe do Comando de Polícia Pacificadora, coronel Robson Rodrigues. "Tomaremos uma série de medidas administrativas e, certamente, afastaremos os dois comandantes", afirmou Mário Sérgio, adiantando que outros PMs da unidade serão afastados por envolvimento no esquema ou por outras razões administrativas.
Segundo ele, o Inquérito Policial Militar iniciado há 60 dias será concluído em menos de uma semana e poderá culminar na expulsão dos envolvidos da corporação. "Não vejo outra saída para policiais que se envolvem com esse tipo de crime, que não seja a porta de saída", afirmou Mário Sérgio. Rodrigues disse que o afastamento dos responsáveis pela UPP é "questão de conveniência".
"Não estamos afirmando que eles (Elton e Rafael) estão ou não estão envolvidos. Mas não vamos nos furtar de tomar medidas duras contra quem ocupe qualquer posição no escalão. E mesmo que não estejam, é da conveniência que troquemos o comando". Mário Sérgio evitou entrar em detalhes, alegando segredo de Justiça, mas exaltou a investigação, iniciada após denúncias de moradores. "É um alerta para outros policiais mal-intencionados. Nosso monitoramento se estende a toda a corporação", afirmou.
Estrutura de empresa
O suposto mensalão montado por traficantes para subornar PMs da UPP do Catumbi teria estrutura de empresa. Da coleta do dinheiro até a distribuição dos envelopes com propina, cada etapa seria feita por um agente de folga e sem farda, para evitar reconhecimento. A "caixinha" era contabilizada e envelopada em local fora de suspeita e cercado de segurança na rua Marques de Pombal, a poucos passos do Batalhão de Choque e da Academia da Polícia Civil. O levantamento da Coordenadoria de Inteligência da PM apontou que cinco dos 30 PMs investigados eram os responsáveis pela coleta, feita sempre à noite e nunca em becos ou dentro das comunidades.
O comandante Mário Sérgio garantiu que não há indícios de esquema semelhante ao da unidade da Coroa, Fallet e Fogueteiro em outras UPPs. "Não detectamos isso em outras unidades. Mas nosso monitoramento é constante", afirmou, ressaltando, porém, que denúncias podem ser feitas pelos telefones 2333-2757 ou 2333-2753.
No domingo, após os confrontos entre PMs e traficantes de sábado, o policiamento foi reforçado nos morros da Providência e da Coroa, Fallet e Fogueteiro. Atingido por disparo na traqueia no Fogueteiro e com a bala alojada na coluna, o soldado Fávaro Rocha Coutinho, 30 anos, está em coma induzido no Hospital Geral da PM e corre risco de ficar tetraplégico.
Mário Sérgio disse crer que os confrontos e o esquema de corrupção no Catumbi não mancharão a imagem das UPPs. "Pelo contrário, é resposta à comunidade de que estamos sempre atentos (a desvios de conduta) e a traficantes de quadrilhas desmanteladas que insistem em tentar voltar a áreas pacificadas".
Fonte: O Dia/Terra
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