CÉSAR ROSATI
DE SÃO PAULO
DE SÃO PAULO
As costas e o braço da estudante Gabriela Lacerda, 24, ainda doíam quando ela resolveu voltar à avenida Paulista.
Ali, em frente a um bar, ao lado do parque Trianon, ela havia sido fotografada três dias antes. Era a quarta manifestação contra a alta da tarifa de transporte na cidade e a primeira vez que ela participava de um protesto.
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No dia seguinte, sua imagem --recebendo um golpe de cassetete de um policial militar-- estava na Primeira Página da Folha. A foto se transformou em um dos símbolos da reação violenta da PM naquela noite de 13 de junho.
Moacyr Lopes Junior/Folhapress | ||
Gabriela Lacerda, 24, e seu cão na calcada da av. Paulista onde sofreu agressão de policial militar, durante os protestos de junho |
Pouco mais de 72 horas após ser fotografada, na mesma esquina, a estudante perdeu a fala. "Eu o vi. Fiquei tremendo, queria perguntar seu nome, mas quando cheguei não tive coragem." Gabriela estava cara a cara com o homem que a fizera tremer.
Ele talvez não a tenha reconhecido. Para ela, porém, a imagem do policial estava viva em sua mente.
Forte e com semblante intimidador, o cabo da PM Henrique Expedito de Jesus, 46, continua a trabalhar normalmente desde o dia em que foi fotografado e, diz ele, até o momento não foi acionado pela corregedoria da corporação para esclarecer os fatos.
A Folha o encontrou, um dia após entrevistar a estudante, na praça do Ciclista, na avenida Paulista.
Monossilábico, o policial militar disse que não se sente culpado pelo ocorrido.
Segundo ele, apenas seguiu a ordem do comando que era a de dispersar qualquer grupo que se reunisse para promover atos de vandalismo naquele dia.
"Eles não estavam só bebendo, eles atacavam pedras contra os policiais."
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Gabriela diz que, enquanto estava no bar, tudo corria normalmente até que o grupo de policiais em que estava o cabo Henrique Expedito de Jesus tentou impedir a ação de manifestantes ao lado do Masp.
Devido à ação da PM, que, segundo ela, agiu com truculência, todos gritaram: "Vergonha, vergonha". O fato teria incitado a ação dos policiais.
"Eles começaram a derrubar tudo que estava pela mesa. O Raul começou a questionar e foi agredido pelo policial. Ele foi para trás e caiu, nisso ele me puxou. Eu já no chão recebi uns três golpes do policial", afirma Gabriela.
O cabo Henrique disse que o grupo que estava no bar fazia parte da manifestação e que não se lembra ao certo de tudo que aconteceu. "Só lembro de não ter batido em nenhuma mulher", completou.
Fabio Braga/Folhapress |
O PM Henrique Expedito de Jesus disse que jovens estavam atirando pedras contra os policiais |
Gabriela fez um boletim de ocorrência após a agressão no 72º DP (Jardins). Já esteve lá em outras oportunidades, além de ter realizado exame de corpo de delito e depor na Corregedoria da PM.
Ela diz aguardar o andamento do processo da corporação e que espera que sejam tomadas as medidas cabíveis.
Folha de S. Paulo
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