Juiz que afastou policiais teme pela vida
Magistrado de VG concede entrevista sem divulgar nome ou mostrar rosto e avisa que já denunciou ameaças e espera por mais segurança
JOANICE DE DEUS
Da Reportagem
Autuando em processos envolvendo quadrilhas especializadas em roubo e tráfico de drogas, o juiz da 2ª Vara Criminal de Várzea Grande, responsável também pela 6ª Vara, vem sofrendo ameaças de morte, possivelmente por parte de policiais militares acusados dos crimes. Hoje, ele não tem residência fixa e não se sente seguro. Até o momento, o magistrado é responsável por 15 condenações de policiais militares e civis na cidade e vários deles já perderam o cargo.
Por questão de segurança, o nome e a imagem do magistrado estão sendo preservados. Segundo ele, as ameaças começaram em janeiro deste ano. Numa delas, um rapaz desconhecido chegou em uma motocicleta e invadiu a chácara onde morava, localizada em Cuiabá. Por sorte, na hora, encontrava-se no local apenas o caseiro. “Se eu estivesse lá, provavelmente não estaria aqui hoje”, disse.
Conforme o magistrado, em outra ocasião o desconhecido voltou acompanhado de outras duas pessoas e os três circularam pelas proximidades do imóvel onde residia. Além disso, o juiz obteve informação de que o bandido havia declarado de que “foi contratado um pistoleiro apenas para matá-lo”.
O juiz não revelou nomes, mas acredita no envolvimento de militares envolvidos na quadrilha. “Um deles deixou recado que iria voltar e que tinha um recado de Santo Antônio de Leverger, onde fica o presídio militar”, comentou.
Por 60 dias, ele permaneceu em São Paulo. Desde então, não tem uma moradia fixa e já residiu em Chapada dos Guimarães e em casas de outros juízes. “Não tenho mais vida social. Vou para casa e fecho as portas”, conta.
O magistrado atua na área desde 2004. Segundo ele, uma das situações emblemáticas ocorreu quando foi dada uma sentença para que alguns militares perdessem o cargo. A responsabilidade era do juiz da 3ª Vara Criminal, especializada em tráfico de drogas, porém o juiz responsável estava de férias e o magistrado ameaçado assumiu seu lugar. "O processo, em tese, não era meu. Porém, a sentença prejudicou o pedido de habeas corpus dos policiais", destacou.
Hoje, o magistrado que teme pelo que pode acontecer conta a segurança de um policial militar por 24 horas, além de dois vigias particulares. “Depois de um ano e meio (após receber ameaças) o juiz Leopoldino (Marques do Amaral) foi morto. O (empresário) Sávio Brandão, depois da situação constrangida que teve, foi assassinado”, lembrou. “Essas pessoas guardam rancor, quem apanha não esquece”, acrescentou. O magistrado se mostrou preocupado ainda com a esposa e sua mãe de 83 anos.
Para ele, o aparato de segurança oferecido não só a ele como aos demais juízes, é insuficiente e deveria ser reforçado. “A sensação de insegurança dos juízes é muito grande e motivou inclusive a vinda da Associação dos Magistrados a Cuiabá”, afirmou.
Conforme o juiz ameaçado, o pedido de proteção foi encaminhado logo após o fato para o Tribunal de Justiça, que demorou 60 dias para tomar providências. Após, o fato foi encaminhado para a Coordenadoria Militar e para o Serviço de Inteligência da Polícia Civil.
O magistrado comentou ainda que não tem acompanhado as investigações referentes as ameaças que vem recebendo. “Tenho que trabalhar. Creio que devem estar trabalhando”. Porém, ele disse que até o momento não foi feito retrato-falado da pessoa que foi até a sua casa. “Poderia ser feito o retrato-falado. Essa pessoa tinha uma tatuagem do braço e usava cabelo no estilo asa delta”, relatou.
Por meio da assessoria de imprensa, a Polícia Civil afirmou que o setor de Inteligência trabalha no caso desde janeiro, quando foi comunicado. Garantiu ainda que o acompanhamento das investigações vem sendo feito pelo próprio juiz e pela Secretaria de Segurança Pública. A polícia confirmou ainda que não foi feito o retrato-falado, mas argumentou que o serviço de inteligência – até por se tratar de um caso complexo - tem outros meios para conduzir as investigações. A reportagem também procurou a PM para falar sobre o assunto, mas não houve retorno.
Fonte: Diário de Cuiabá http://www.diariodecuiaba.com.br/detalhe.php?cod=395174
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