Um tenente-coronel da PM foi flagrado tentando furar uma blitz da Lei Seca, na Avenida Nossa Senhora da Penha, em Vitória. Um dos policiais que abordaram o militar registrou o momento. A TV Gazeta teve acesso, com exclusividade, às imagens da blitz e também às gravações do Centro Integrado Operacional Defesa Social (Ciodes), que mostram uma ordem para cancelar a ocorrência do sistema. O caso aconteceu no dia 13 de outubro e está sendo investigado pela própria polícia.
Nas imagens, o motorista questiona aos soldados: "Você sabe que eu sou coronel da polícia, né? Vocês querem me ferrar?".Segundo policiais militares, o tenente-coronel não estava cumprindo serviço, tinha acabado de sair do estacionamento de um boate e foi abordado. Eles suspeitaram que ele estivesse embriagado e  solicitaram a documentação, que foi negada. Minutos depois da abordagem, o responsável pela blitz ligou para o Ciodes.
No áudio, o diálogo aponta que o tenente-coronel deixou o local da blitz e uma ocorrência feita contra ele acabou sendo cancelada por determinação de um major da Polícia Militar. Na primeira ligação, o responsável pela blitz falou com um oficial no Ciodes, que o orientou a ligar para o comandante do batalhão. Às 6h, um dos soldados que abordou o tenente-coronel também ligou para a central da polícia e registrou a ocorrência, mas, oito minutos depois, ela foi cancelada pelo mesmo soldado.
O tenente-coronel, identificado apenas por Dirceu, é assessor jurídico do comandante geral da Polícia Militar, um cargo de confiança. Depois de se negar a passar pela fiscalização, ele foi ao Ministério Público do Espírito Santo (MP-ES) e denunciou os policiais que o abordou e alegou que foi humilhado.
O procurador do MP-ES Sócrates de Souza informou que a Corregedoria da Polícia Militar deveria ter sido acionada e que o tenente-coronel agiu errado. "A sensação que fica é de que ele está acima da lei e exerce a hierarquia sobre seus subordinados. O MP entende que a corregedoria deveria ser acionada. O comandante do batalhão deve prestar esclarecimentos sobre o cancelamento da ocorrência. Se fosse o inverso, o soldado estaria preso. Isso mancha a imagem da instituição", disse.
O delegado de trânsito Fabiano Contarato analisou a situação e disse que o militar pode responder por três crimes. “Houve o crime de resistência, pois ele se opôs a um ato legal que era a blitz, por crime de desacato, já que é possível ocorrer crime de desacato entre funcionários públicos mesmo se o desacatado foi inferior hierárquico, e ainda o crime de denunciação caluniosa, pois o tenente foi até a auditoria da Polícia Militar para denunciar os policiais que o abordaram sabendo que eram inocentes", falou.
O chefe da corregedoria da PM, o coronel Celante, informou que foi instaurado um inquérito policial para apurar os fatos. “Há vários relatos e vamos juntar todos para saber o que aconteceu. Quanto ao cancelamento, garantimos que tudo será investigado. Não sei em que circunstâncias ela foi cancelada e por ordem de quem. Com a conclusão, o documento é repassado ao MP, que vai verificar as provas e ver se há caso de indiciamento. Se for comprovado, os envolvidos podem responder por crime de natureza militar ou comum", comentou.
Leia os diálogos registrados pelo Ciodes  
Policial: O tenente-coronel parou na fiscalização, parou não né, abordaram ele. Tenente-coronel Dirceu.

Major: Coronel Dirceu? Tô sabendo não, fala aonde foi isso?
Policial: Foi na Reta da Penha saindo da boate São Firmino. O sargento pediu a identificação dele, e ele só entregou a carteira de polícia. Aí o sargento devolveu a carteira para ele. Ele pegou o carro e foi embora, chapadão e não parou nem nada, deixou até os amigos para trás. Aí eu pedi para ele lançar no relatório dele e eu no meu relatório, se ele inverter a situação depois de bom é complicado.
Major: Qual foi a irregularidade que aconteceu?
Policial: O sargento pediu o documento do carro e a habilitação, mas o coronel entregou a identidade e falou que ele era coronel e que estava, tipo assim, como ele é da corporação ele não deveria ter sido parado, a partir do momento que ele falou que era coronel. O sargento falou que a gente estava na fiscalização e que a determinação era abordar todos os condutores que passarem por aqui, 'o senhor passou, pedi o documento e você me entregou só a identidade'.
Major: Eu oriento a você, ligar para seu subcomando ou comandante do batalhão, pegar a orientação com eles. Por que para eu comunicar aqui, não tem nem ocorrência, não tem nada, fica complicado. Aqui eu vou fazer uma CI tal, ligar para corregedoria e tudo mais. Acho que o batalhão tem como administrar essa situação da melhor maneira possível entendeu?
Policial: estou ligando para cancelar o número de uma ocorrência que eu gerei.

Ciodes: qual motivo?

Policial: foi uma ocorrência de abordagem que eu pedi para gerar.

Ciodes: mas por que você quer cancelar?

Policial: foi um determinação do major aqui que não há necessidade de ser gerado essa ocorrência.

Ciodes: foi qual major?

Policial: major Bongestab

Ciodes: ah tá. Então cancelar a ocorrência por determinação dele por achar que não deveria ter sido gerada né?

Policial: é


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