Quatro oficiais do Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças (Cefap) da PM foram substituídos depois da morte cerebral do recruta Paulo Aparecido Santos de Lima. O jovem foi um dos 33 alunos que passaram mal neste dia em um treinamento na escola da corporação. Paulo foi atendido em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), mas foi transferido em estado grave para o Hospital da Polícia Militar com insolação e queimaduras nas mãos e nas nádegas. Os médicos, segundo a prima Crislaine de Souza, atestaram morte cerebral logo após a visita da família, na noite de segunda-feira (18).
A Polícia Militar informou que um inquérito foi aberto para apurar o caso. Paulo Aparecido Santos, de 27 anos, tinha o sonho de entrar para a corporação e participava de um treinamento para ser agente de Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). A assessoria da PM, através de nota, informou que o aluno sofreu um mau súbito enquanto estava em forma, junto com outros 490 alunos. O jovem, segundo a PM, foi socorrido imediatamente na UPA e, em seguida, levado ao hospital da corporação.
A PM nega, mas a família não acredita na versão oficial. Segundo o jornal "Extra" , o recruta teria sido vítima de um trote. "A gente desconfia que maltrataram ele. Como uma insolação vai causar morte cerebral e falência de vários órgãos?", questiona Crislaine.
Na terça-feira (12), dia em que Paulo passou mal, o Rio de Janeiro passava por clima atípico para a primavera: devido ao sol forte, asensação térmica na cidade chegou a 50°Cna estação da Guaratiba, Zona Oeste, como informou o Centro de Operações da Prefeitura Rio, às 13h. A temperatura registrada neste horário era de 41,8º C. Um pouco antes, às 12h, Jacarepaguá, também na Zona Oeste, teve registro de sensação de 48°C. Segundo o Alerta Rio do Centro de Operações, este foi o dia mais quente da estação.
A Polícia Militar informou por meio de nota que Paulo sofreu de fato uma insolação. “Seu diagnóstico teria sido uma insolação grave, devido à alta temperatura registrada na tarde do dia 12."
Recrutas com queimaduras 
Nélio Monteiro, comandante do Cefap, informou em entrevista ao RJTV nesta terça (19) que no dia 12 de novembro cerca de 33 alunos passaram mal durante o treinamento. Mais cedo, em entrevista à rádio CBN, Monteiro detalhou os casos e disse que 24 recrutas sofreram queimaduras nas nádegas, mãos e pés; 9 apresentaram hipoglicemia, hipotermia ou desmaio.  Desses 9, 2 alunos foram imediatamente levados para a Unidade de Pronto Atendimento de Marechal Hermes, no Subúrbio.
"Todos os recrutas que tiveram problemas ao lado do rancho foram atendidos e todos os empenhos foram feitos. Desses dois encaminhados para o atendimento, um se recuperou bem e o outro infelizmente não resistiu", disse o oficial para a rádio.
Ainda na entrevista, Monteiro falou que os 490 recrutas nessa jornada estavam tendo instrução em bloco. Segundo ele, dois majores estão empenhados nas investigações sobre o caso.
"São 490 testemunhas. Preciso ter isenção, não posso adiantar o que está sendo apurado para ter cuidado com testemunhas. Eu agora sou um instrumento para fazer justiça. As investigações estão no curso, se houve algum tipo de excesso, os responsáveis serão punidos."
Denúncias de abuso 
De acordo com a denúncia feita ao jornal "Extra", o aluno teria sido obrigado a ficar sentado no asfalto debaixo do sol de meio-dia. Os alunos também teriam relatado a prática do "suga", quando o recruta é levado ao seu limite físico durante o treinamento.  Nélio Monteiro informou durante a entrevista para a rádio que essa prática não é comum, mas que o fato será investigado no inquérito da Polícia Militar.
"O suga é tudo que extrapola a justiça militar e o CEFAP vive uma polícia cidadã. Isso tudo será investigado no IPM (Inquérito Policial Militar), mas essa morte foi um caso atípico", ressaltou.
Apesar disso, a prima do jovem reforçou que, em nenhum momento, o aspirante a policial disse à família que teria sido vítima de trote. Ela confirmou que autoridades se colocaram à disposição dos parentes para ajudas básicas e para descobrir os motivos da morte. "Prestaram muita assistência mesmo. É por conta de três ou quatro que a imagem de uma corporação vai para a lama", esbravejou.

Beltrame abomina prática 
"A gente abomina e é contra qualquer tipo de prática excessiva em qualquer atividade, seja física ou profissional. Essas pessoas todas responsáveis pela ação já foram afastadas e irão responder a processo e nós estamos investigando efetivamente o que aconteceu. Agora de forma alguma não há mais em pleno século XXI você levar uma pessoa normal ao que aconteceu com esse rapaz. Também quero deixar bem claro que a Polícia Militar formou ao longo destes anos sete mil servidores e não aconteceu nada. Mas estamos agindo de uma maneira rápida, pontual e exemplar", disse o secretário estadual José Mariano Beltrame sobre o caso.