Informação policial e Bombeiro Militar

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Um breve comentário sobre os protestos em RJ e SP



Fiz um breve texto sobre o que aconteceu nestes últimos dias, e se for de seu interesse, pode publicar em seu blog.


Impressões de um policial militar sobre o protesto em SP e RJ.

Quero deixar claro inicialmente que não venho tomar partido nem dos PMs e nem dos protestantes. Também nem se o motivo era correto ou não. Minha análise se restringirá à legitimidade do protesto.

Antes de ingressar na corporação, como estudante, sempre via em noticiários as manifestações por vários motivos, com uns acabando em violência e outros não. Devido a uma leve tendência marxista em nosso ensino brasileiro, aprendia que as manifestações populares eram de extrema importância e, caso houvesse repressão do estado, ela também deveria ser combatida. Nunca passava na minha cabeça a questão do vandalismo ou direito de ir e vir. Pra mim, o protesto era legítimo e a polícia o vilão da história.

Por motivos inexplicáveis até então, ingressei na corporação e no curso de formação, tive instruções, inclusive falando de manifestações nas ruas, dizendo que a ordem pública era prioridade e que protestos deveriam ser controlados, nos mostrando por alto algumas formas de controle do mesmo. Comecei a perceber o outro lado da moeda, de que os PMs do Brasil não eram monstros ou coisas do tipo. São pais de família, cidadãos que também pagam impostos e querem ter uma vida digna como qualquer outro. Fala-se muito no seio policial que a população não considera o serviço da polícia e sempre procuram prejudicar o policial, nunca se mobilizando pra defender, mas repercutindo coisas pra ferrar a vida do PM. O vilão agora deixa de ser a PM pra ser a população.

Ultimamente, fiquei me questionando deste antagonismo, do motivo de um lado odiar o outro, e as consequências disso. Quem tá certo? Quem tá errado? Quem é o mocinho? E o vilão? Por que a população não gosta de polícia? Porque a polícia não gosta do povo? Os dois lados dizem que não se odeiam, mas quando acontecem situações em que um compromete o outro, o desejo de ódio aflora e a revolta fica bem evidente. Sobre isso, o Historiador Leandro Karnal fala em um vídeo que pode ser encontrado no Youtube com o título “O ódio no Brasil”, em que em 45 minutos, ele demonstra que a cultura do brasileiro é de se pensar em uma falsa tranquilidade e pacifismo, e que o errado é sempre o outro. Nunca a gente. Recomendo que assistam, até pra compreensão do texto.

Falando de protestos, na teoria pura e ingênua, Nem precisaria fazer, já que elegemos de 2 em 2 anos, representantes que deveriam expressar os anseios de toda a população, porém tá longe disso acontecer, então, quando uma decisão política não agrada uma massa grande do povo ou uma categoria, os mesmos se reúnem  e saem às ruas pra se manifestarem. A nossa constituição assegura o direito de livre pensamento e de reunião, desde que seja feito um aviso prévio, com a desculpa, de o estado se preparar e assegurar a segurança de todos, evitando vândalos e marginais de atuarem. Quando o manifesto é de uma categoria em que um sindicato está à frente, é mais fácil se ter um controle e geralmente estes manifestos não são reprimidos. Mas quando é a população que está revoltada, quando não dá pra se ter um controle de quem vai ou de quem está organizando, quando é só o povo na rua querendo uma palavra do estado? Geralmente, são estes os que têm repressão policial com a desculpa de estarem prejudicando o direito de ir e vir da população, além da atuação de vândalos e criminosos no meio e estão amparados por nossa lei, já que o aviso formal não foi feito, que de certa forma é impossível de se fazer um, e mesmo que faça, não dá pra cumprir, já que não se tem um cabeça.

A partir daí, começo meu questionamento: se os protestos formais conseguem ser pacíficos, por que os informais estão longe disso? Embora não se tenha o aviso às autoridades, eles podem ser previstos e controlados da mesma forma que os formais. A diferença é que nos informais, há uma brecha constitucional para a repressão. E quem ganha com isso?
1º - O estado, já que o objetivo é perdido e o foco passa ser a repressão, em vez da causa em si;
2º - Os líderes, que mostram seu poder político, no final, fazem acordos com o governo depois, e colocam aquele protesto em seu “curriculum Lattes”.
E quem perde:
1º - A população, que apanha da polícia, não se resolve nada e fica culpando a polícia;
2º - A polícia, que se arrisca a levar um processo caso se exceda, e fica queimada com a população, mesmo que a ordem de repressão tenha vindo do estado.
Ou seja, as vítimas de tudo isso ficam brigando entre si, enquanto as lideranças políticas de ambos os lados se beneficiam politicamente. Tudo é previsto e manipulado pra que acabe assim. E o pior é que este processo se repete de ano em ano e parece que ninguém se dá conta disso.

O que me intrigou em SP e no RJ foi a quantidade de gente, a quantidade de policiamento empregado, a quantidade de prisões e a repercussão que a mídia fez, já que não dava mais pra empurrar com a barriga o silêncio que se fazia em não expor o que estava acontecendo nas ruas. Muita gente estava revoltada com a situação! Aquele manifesto realmente representava a vontade do povo! Dava pra ver a guerra do povo contra o estado! Uma transgressão no direito de ir e vir não serve como pretexto pra reprimir uma manifestação legítima de pensamento, pois o mesmo poderia ser solucionado em vez de reprimido! Existem técnicas policiais pra isso! Como disse antes, não estou levando em conta se estava certo o errado o motivo, e sim que o estado governa para o povo, e não contra o mesmo! O que sinto falta nas polícias é a falta do pensamento (e de pensamento) que ela deveria existir pra garantia das liberdades dos indivíduos e não da repressão da liberdade. Se ela quisesse, poderia muito bem ter conduzido o protesto de forma pacífica, como acontece nos outros, sem agressões ou coisas do tipo. Se uma determinação superior serve como desculpa, com o medo de uma retaliação administrativa caso o interesse do estado não for atendido, tudo bem. Cada um preza pelo que é mais valioso. Mas pra mim, minha cidadania e minha liberdade são mais valiosas que qualquer coisa neste mundo. Por isso que eu digo como agente de segurança: a preservação da liberdade é muito mais importante do que da ordem pública.





Grato!

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