LUIZ MAKLOUF CARVALHO
O governador Eduardo Campos, de Pernambuco, é um ótimo piloto de cadeira giratória de rodinhas. Logo ao sentar-se, elegante e espaçoso, já sublinha a que veio. A cadeira é uma das 13 de uma grande mesa preta, em forma de U, na sala de reuniões contígua a seu gabinete. Não terá um minuto de sossego por quase três horas. Campos a manobra para todos os lados possíveis, a esporeia com o ritmo acelerado de sua fluência verbal e, quando a leva, num tiro curto, em direção ao interlocutor, o dorso ainda atlético de 47 anos também assoma, enfático. Seus translúcidos olhos verdes são, surrupiando um autor contemporâneo, como pássaros querendo voar para fora da cara. Campos é, sobretudo, olhos. Na beleza variante da cor, que fisga a atenção, e, principalmente, na mirada, no manejo que lhes sabe dar, ora águia, ora cobra, focados na sedução. “Sedutor” é um recorrente qualificativo até entre adversários regionais – como o senador Humberto Costa, do PT, ou o deputado federal Mendonça Filho, do DEM. Campos sabe que, nos dois casos, o sentido é “cuidado com ele!” – ambos, afinal, são vítimas de peia eleitoral. Mesmo assim, não desgosta.
Não é o caso quando é chamado de “coronel”, como fez a revista britânica The Economist em reportagem recente, que também registrou seu lado de gestor dinâmico e empreendedor à frente do Estado que governa pela segunda vez, com aprovação recorde – 89% na última pesquisa. Provocado – “O senhor leva mesmo um jeitão de coronel…” –, Campos não esconde o desconforto. Leva a cadeira para frente e para trás, dá uma brusca freada de general e responde:
– Isso só acontece quando alguém nasce por aqui. Nunca vi um rótulo desses num político carioca, paulista ou mineiro. Então lamento, porque é uma coisa desqualificando. Que maneira tenho de botar ordem aqui? “É um coronel.” Tá bom. (Falar) é um direito (deles). Fazer o quê?
Entre dez governadores pesquisados pelo Ibope no final do ano passado, Campos obteve a maior aprovação: 34% acham sua gestão “ótima”; 45%, “boa”; 15%, “regular”; 4%,“ruim”; e 3%,“péssima”. É tamanha popularidade que explica por que tantos políticos têm se aproximado dele e que seja impossível discutir a sucessão da presidente Dilma Rousseff sem que seu nome venha à tona. Ele próprio negou, em entrevista publicada pela revista Época em dezembro, que pretenda se candidatar à Presidência. Na ocasião, disse que “sem dúvida” apoiaria a reeleição de Dilma. É nessa canoa que os pés de Campos estão, ambos. Antes da eleição municipal de Pernambuco, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva estava disposto a costurar sua candidatura a vice, já em 2014. Depois que Campos praticamente humilhou o PT, ao lançar candidato próprio à prefeitura do Recife – e vencer –, Lula e Dilma sabem que ficou mais difícil. O desejo de ambos é mantê-lo na canoa para, quem sabe?, um voo solo em 2018. Ser ministro de Dilma reeleita, em Pasta de visibilidade, é uma possibilidade.
Seu peso político e sua popularidade são resultados de sua gestão. Pernambuco é a décima economia do país e soma 2,5% do PIB brasileiro – mas tem crescido de modo mais consistente e mais rápido que o país: 4,2% ao ano entre 2002 e 2010, para uma média nacional que beira os 4%, de acordo com o IBGE. Na avaliação do secretário estadual de Planejamento, Fred Amâncio, o crescimento será ainda mais expressivo quando entrarem em operação megainvestimentos em implantação. É o caso da fábrica da Fiat, no município de Goiana, e da Refinaria Abreu e Lima, no complexo industrial de Suape. As duas iniciativas ajudaram a mudar o perfil econômico do Estado. A participação do setor industrial na riqueza de Pernambuco passou de 10% para 25%. Outra mudança significativa implementada por Campos foi na educação. Ele investiu no ensino básico e, num projeto-piloto, 200 escolas do Estado passaram a dar aulas oito horas por dia, em vez de quatro. Também aumentou o salário dos professores e ofereceu-lhes bônus por desempenho. O objetivo é estender essa política a todas as escolas públicas e incentivar as cidades a fazer o mesmo no âmbito municipal.
“Conheço, hoje, cada lugarzinho desse Estado”, diz Campos, apontando um mapa ampliado, com os 185 municípios de Pernambuco, na sala de reuniões onde deu entrevista a Época. Salas com mesa em U viraram um ambiente-padrão do governo eduardiano. É nelas que ocorrem as temidas e tensas reuniões de monitoramento – onde Campos controla, um olho no gato, outro no peixe, se seus subordinados estão cumprindo as metas. TPM, lá, ganhou o apelido de Tensão Pré-Monitoramento. “Falam até em tortura chinesa”, diz o secretário de Imprensa, Evaldo Costa.“Para quem não faz seu dever, né?”, diz Campos.
(Publicado na Época)
Fonte: Jornal Pequeno
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