Foi presa em Boa Viagem, na Zona Sul do Recife , a última pessoa condenada por tráfico de órgãos humanos e formação de quadrilha e que ainda estava em liberdade, após a investigação conduzida pela Polícia Federal (PF) em Pernambuco, em 2003, na chamada Operação Bisturi. A prisão de Eldênia de Souza Cavalcanti, 63 anos, aconteceu na última sexta (03); ela foi condenada em 2006 a quatro anos, sete meses e vinte dias de prisão, mas tinha recorrido da sentença e aguardava em liberdade pelo pronunciamento da Justiça.
"Ela foi presa numa das maiores operações da Polícia Federal aqui em Pernambuco e estava simplesmente aguardando esse recurso. O recurso saiu, foi ratificado e confirmado pela segunda turma do Tribunal Regional Federal, o mandado de prisão foi expedido e a PF compareceu lá residência dela e efetuou a sua respectiva prisão", disse Giovani Santoro, assessor de comunicação da PF. Segundo os agentes da PF, não houve resistência por parte da acusada.
A Operação Bisturi foi realizada de março a dezembro de 2003. Os investigadores descobriram que, em Pernambuco , os criminosos aliciavam pessoas em dificuldades financeiras, para a retirada de seus rins, que seriam utilizados em cirurgias na África do Sul. O papel de Eldênia era auxiliar o marido dela, Ivan Bonifácio da Silva, oficial reformado da PM de Pernambuco e chefe da quadrilha. Cabia a ela substituí-lo em algumas ocasiões, acompanhar as pessoas aliciadas ao laboratório quando iam fazer exames, providenciar seus passaportes, ir com elas ao embarque, no aeroporto, e ser sua intérprete na África do Sul. 
Os receptores dos órgãos eram pacientes de Israel. Ao todo, 47 pessoas foram levadas para o Hospital Sant Agostini, em Durban, para serem submetidas à cirurgia de retirada de um rim. Elas assinavam uma declaração afirmando que os receptores eram seus parentes e recebiam entre R$ 5 mil e R$ 30 mil. Cada cirurgia custava cerca de  US$ 150 mil ao sistema de saúde sul-africano e a estimativa é de que US$ 4 milhões tenham sido desviados pela quadrilha nessas intervenções cirúrgicas.
Além de Eldênia, o marido dela, Ivan Bonifácio da Silva, foi condenado a 10 anos de prisão, e José Sílvio Bordoux, a 7 anos e quatro meses - este último, médico da PM, requisitava os exames para verificar a compatibilidade entre "doadores" e receptores dos transplantes. O médico israelense Gedalya Tauber, condenado a 11 anos e nove meses de reclusão, está foragido desde 2009. Ele era o responsável por movimentar o dinheiro para aliciar as pessoas que venderiam seus rins. Com autorização da Vara de Execuções Penais, ele se ausentou para uma viagem de 30 dias e nunca retornou. Desde então, teve a prisão decretada pela Justiça e seu nome faz parte da lista de procurados pela Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol).
Ao todo, doze pessoas envolvidas no aliciamento das vítimas foram condenadas e presas no Brasil; dois responsáveis pela fraude no sistema de saúde de Israel e mais 20 médicos e enfermeiras sul-africanos também foram condenados e detidos pela Justiça. Eldênia Cavalcanti foi submetida aos exames de praxe e está detida na Colônia Penal Feminina de Abreu e Lima, no Grande Recife.