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terça-feira, 31 de março de 2015

Policiais femininas que sofrem assédio dizem não ter a quem recorrer, aponta pesquisa

Do R7

A PM Marcela falou sobre o caso à Comissão de Direitos Humanos da Assembleia de MGDivulgação Assembleia de Minas

Duas em cada cinco policiais femininas brasileiras são alvo de assédio sexual ou moral, mas poucas delas sabe a quem recorrer, aponta a pesquisa “As mulheres nas instituições policiais”, realizada pelo FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública) e pela FGV (Fundação Getulio Vargas).

Os pesquisadores ouviram cerca de 13 mil agentes de segurança de ambos os sexos de todo o Brasil, entre policiais militares, policiais civis, guardas-civis e peritos criminais.

De acordo com o estudo 39,2% das mulheres dizem já ter sofrido, pessoalmente assédio sexual ou moral no trabalho — três em cada quatro casos são assédios morais, e um em cada quatro é assédio sexual.

A pesquisa mostra ainda que 47,8% das mulheres disseram que em sua instituição não há um mecanismo formal para registro de violência de gênero. Outras 34,7% disse não saber se há esse mecanismo. Apenas 17,5% afirmaram que a sua corporação possui mecanismo formal de denúncia e apontou qual é o mecanismo.

De acordo com a professora Maria José Tonelli, da FGV, uma das coordenadoras da pesquisa, as instituições policiais refletem o que ocorre em outros setores da sociedade.

— Esse problema, do assédio e da falta de um canal de denúncia, ocorre em diversas organizações, não apenas as policiais. É um problema que deve ser discutido amplamente na sociedade um todo para que haja um avanço.

Casos como o das policiais militares Marcela Fonseca de Oliveira e Katya Flávia Caixeta de Queiroz, que se uniram para denunciar assédios sexuais e morais cometidos por superior, são raros. A falta de conhecimento de um canal de denúncia provoca também um número pequeno de registros. Segundo a pesquisa, apenas 11,8% das mulheres policiais denunciaram um assédio —88,2% dos casos denunciados eram assédio sexual e 11,8%, assédio moral.

— O assédio moral é mais difícil de identificar do que o assédio sexual — afirma a professora Maria José — A questão da hierarquia é muito forte nas polícias e o assédio moral acaba sendo confundido com isso. Mas creio que há também uma questão geracional: os jovens estão menos tolerantes com esse tipo de comportamento dos chefes.

Ainda conforme a pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e da FGV, a maior parte das denunciantes não ficou satisfeita com o desdobramento que o registro do assédio gerou. Ao todo 68,0% declaram-se insatisfeitas, enquanto 32,0% disseram-se satisfeitas.

— Essa é uma outra questão. Para estimular a denúncia, é preciso que cada queixa tenha tenha um resultado efetivo — afirma a pesquisadora.

Maria José afirma que os problemas de assédio podem se refletir na rua.

— Os policiais têm por objetivo zelar pela segurança, pelo bem-estar da população. Mas como eles vão desenvolver essa tarefa se eles próprios não estão confortáveis? Isso se aplica para professores, médicos... para toda profissão que tem como um de seus eixos o cuidar do outro.



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