Informação policial e Bombeiro Militar

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Policial Militar você se considera um Guerreiro? Não para o Secretário de Segurança! Pra ele você é um Servidor


Beltrame anuncia que vai terminar mandato com duas UPPs a mais que o prometido; até o final de 2014 serão 42 unidades



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Foto: Bruno Gonzalez / EXTRA
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Rafael Soares

O ano de 2013 não foi fácil para José Mariano Beltrame. Casos de violência policial, críticas às Unidades de Polícia Pacificadora, aumento na taxa de homicídios depois de anos de queda e as manifestações que tomaram as ruas da cidade e se impuseram como novo desafio para a polícia tiraram o sono do secretário de Segurança do estado ao longo dos últimos 12 meses. Ele mesmo admite que não viveu seu melhor ano à frente da pasta, mas ainda mantém a certeza de estar no caminho certo. Em entrevista ao EXTRA em seu gabinete na sede da secretaria, no Centro do Rio, Beltrame anunciou, enquanto bebia seu inseparável chimarrão, que a promessa das 40 UPPs até o fim do mandato já foi extrapolada: o projeto, agora, é chegar às 42, inaugurando seis unidades em 2014.
O ano de 2013 foi o mais crítico de sua gestão?
Se olharmos sob uma perspectiva mais imediata, o ano não foi bom. Mas dentro de um contexto histórico, vemos que os resultados são fantásticos.
Qual o seu maior erro à frente da pasta? E o maior acerto?
Os maiores acertos foram as UPPs e a medição da produção policial através das regiões integradas de segurança pública. Já o que mais me incomodou é a burocracia do serviço público. A favela tem pressa e não podemos atender a todos porque tudo é processo. Compra de carro, construção de cabine é processo, fazer uma base para UPP. Para tudo isso, temos que abrir uma licitação. Isso me estressa muito.
O próximo ano pode ser seu último à frente da pasta. Alguma mudança prevista?
Fizemos um planejamento que está dando certo. Por isso, vamos manter o que está planejado. Hoje, temos 36 UPPs. Como planejamos 40, faltam quatro a serem inauguradas em 2014. Mas já temos projeto para mais duas.
Então, vão ser inauguradas mais duas além do previsto?
Já temos inclusive os locais definidos, mas não vamos divulgar. Ano que vem, vamos inaugurar até seis Unidades de Polícia Pacificadora.
Este ano marcou o aniversário de cinco anos da inauguração da primeira UPP. Quais são as mais bem sucedidas? E as mais problemáticas?
As mais antigas são mais bem sucedidas que as recentes, porque elas tem um período maior de convivência entre morador e policial. Quanto mais tempo, mais sólida fica a relação. No Santa Marta, a realidade já foi modificada, por exemplo. Já nas maiores, fica mais difícil porque as populações são maiores do que 80% das cidades brasileiras. Essas verdadeiras cidades eram a alma de algumas facções, como a Rocinha, o São Carlos e o Complexo do Alemão. Nesses lugares, há uma resistência maior do tráfico, que fincou raízes. Mas não vamos nos desviar, porque temos convicção de que somos maioria. Nunca vou dar um trabalho como ganho.
Entretanto, até em comunidades com UPPs há mais tempo, ainda há confrontos entre PMs e traficantes e relatos de bandidos com armas de grosso calibre.
Nas áreas onde o acesso é difícil, é natural que ainda tenha resquício do tráfico. Não podemos ser levianos de dizer que não há armas de grosso calibre em qualquer uma das comunidades. Pode ser no Pavão ou no Alemão. Não posso dar garantia de que o tráfico nunca mais vai querer tentar tomar de novo as regiões que perdeu.
O ano foi marcado por denúncias de violência policial em áreas com UPP. Qual leitura o senhor faz desse problema?
Alguns policiais ainda trazem as mesmas mazelas de outros tempos e procuram resolver como se resolvia antigamente. Como a polícia sempre foi para a favela fazer guerra, alguns PMs ainda têm esse costume, de controlar a situação pela violência. Muita gente usa um fuzil como status.
Mas como romper com essa visão?
Esse é nosso principal desafio: mudar a postura do policial. Nossa estratégia é a presença do PM dia e noite na favela, convivendo com as pessoas que moram lá e se apresentando como servidor público, como operador de segurança pública. Não como guerreiro. Queremos criar essa cultura a partir da permanência do policial lá, com o único objetivo de servir à população. Já mudamos, inclusive, o currículo do curso de formação. Instituímos a seleção de professores escolhidos por banco de talentos e disciplinas voltadas unicamente para o atendimento à população. Mas esse é um processo que precisa ser contínuo. Não vamos mudar uma ideologia de séculos em oito anos.
Apesar das mudanças no Centro de Formação e Aprimoramento de Praças (Cfap), o recruta Paulo Aparecido morreu em novembro após treinamento na unidade.
Após a morte do recruta, regulamentamos a recepção dos alunos do curso e as práticas da instrução policial. A morte aconteceu por conta de decisões arbitrárias do oficial que era comandante da turma. Não foi durante uma aula. As diretrizes foram publicadas no Diário Oficial há uma semana. Não vamos tolerar exercícios físicos como forma de punição ou qualquer uso de ameaça ou violência. Além disso, toda atividade física será supervisionada por profissional habilitado para esse tipo de treinamento.
Qual aprendizado a secretaria tirou do caso Amarildo?
O caso Amarildo foi muito ruim para nós e para a imagem das UPPs. Mas também mostra um avanço: a família denunciou, as pessoas foram às ruas, puderam falar sobre o assunto abertamente. Há sete anos, ficava o dito pelo não dito. Quantos Amarildos não existiram nessas áreas por conta dos famosos microondas do tráfico? Se não colocarmos a polícia nessas áreas, não juntarmos favela e asfalto, não vamos virar a curva da violência.
Depois de cinco anos de UPPs, o senhor acha que a chegada da polícia foi acompanhada por serviços básicos, como saúde, educação, saneamento?
Na minha opinião, precisa de mais velocidade. Acho que quanto mais mostramos para o cidadão que o estado está ao lado dele, melhor fica a relação. A polícia é só a vanguarda do estado. Mas, nas costas dela, precisamos da chegada forte de um aparato estatal, que em lugares como o Alemão e a Vila Cruzeiro, por exemplo, não chegou. A favela precisa de uma celeridade maior.
Depois de uma série histórica de queda, a taxa de homicídios no estado voltou a subir. Por que isso aconteceu?
Dentro de um contexto histórico, o índice ainda é positivo. Mas, este ano, percebemos um aumento da incidência na Baixada e em São Gonçalo. Por isso, a partir de janeiro, vamos para esses lugares. Vamos inaugurar as novas Divisões de Homicídios de Niterói e São Gonçalo e da Baixada, cada uma com 200 homens. Na Baixada, também teremos as companhias destacadas.
Por que o senhor resolveu não se candidatar a governador?
Posso ser muito mais útil à sociedade como técnico do que como político. Para a política, precisaria ter uma flexibilidade que não tenho.

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