Mais da metade das mulheres já sofreu assédio por parte de policiais, diz pesquisa
Todas as mulheres de Heliópolis, bairro da zona sul de São Paulo, ouvidas por pesquisadores da organização humanitária ActionAid para a campanha "Cidades Seguras" relataram ter sofrido assédio no transporte público. A pesquisa foi realizada entre setembro e outubro de 2013 em áreas de periferia de São Paulo, Rio, Pernambuco e Rio Grande do Norte. Pouco mais da metade das mulheres relatou já ter sofrido assédio por parte de policiais — numa comunidade de Pernambuco, esse índice chegou a 84%.
Uma das entrevistadas em Heliópolis foi a assistente administrativa Keila Barbosa, de 26 anos. "O que está pegando mais hoje é que a gente não pode vestir uma determinada roupa porque pode haver até estupro. Acontece bastante assédio e não podemos falar nada", diz ela no relatório. "Quando eu tenho que passar um pouco do meu horário no trabalho, preciso pegar um ônibus que praticamente dá a volta na cidade, por ter medo de descer no ponto onde sempre desço."
Das 306 mulheres ouvidas, 50 viviam em Heliópolis. Nas comunidades pesquisadas, a média dos casos de assédio no transporte público foi de 43,8%. Depois de Heliópolis, o Complexo da Maré, na zona norte do Rio, apresentou o maior porcentual: 66%. Em Upanema, no Rio Grande do Norte, apenas 4% mencionaram o problema.
De acordo com o estudo, a maior parte das mulheres, em todas as localidades, toma precauções para evitar o assédio. São estratégias como evitar sentar no fundo dos ônibus, apontada por 71% das entrevistadas em Heliópolis. Quase oito em cada dez acreditam que o tempo de espera pelo transporte aumenta a insegurança. Esse tempo é mais curto em Heliópolis e mais longo em Upanema, mas em geral a maior parte aguarda até 50 minutos pela chegada do transporte.
A campanha "Cidades Seguras para as Mulheres" foi lançada no Rio durante a abertura do Fórum Nacional de Reforma Urbana, na Câmara Municipal, como explica Gabriela Pinto, da ActionAid.
— Queremos chamar atenção para a relação entre a qualidade dos serviços públicos em iluminação, transporte, policiamento, moradia e educação, e a insegurança das mulheres nas cidades. A precariedade desses serviços agrava a vulnerabilidade das mulheres à violência.
O ministro Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência, recebeu durante o fórum um exemplar do estudo e uma "Carta Política", com demandas apontadas para melhorar os espaços públicos e reduzir a violência.
— Queremos que governantes se comprometam com a adoção de medidas concretas.
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