Tema que constantemente levanta discussões inflamadas, a segurança pública no Brasil vem sendo posta à prova de diversas formas, seja pela atuação da polícia em protestos, seja pelo despreparo para lidar com a criminalidade nas favelas. Em meio a esse debate, o livro Banguela – A maior operação policial do sul do Brasil, do jornalista gaúcho Marcio Pessôa, mostra que não é de hoje que atitudes questionáveis são adotadas por agentes de segurança.
Lançada recentemente, a obra trata de uma gigantesca operação montada pela Polícia Civil do Rio Grande do Sul para prender o líder de uma quadrilha que assaltava carros-fortes: José Carlos dos Santos, o Seco (no livro retratado como Manoel Barcellos Flores, o Caniço). O assaltante foi preso em 2006, mas o saldo ficou longe de ser positivo. Seguranças de um carro-forte, policiais e até um menino de três anos acabaram morrendo durante meia década de caçada.
Pessôa, que acompanhou a operação até 2005 como repórter da rádio Guaíba, acabou indo para a Alemanha antes do desfecho do caso. No entanto, com as inúmeras informações que conseguiu cruzar e com dados que foram obtidos somente após a prisão, percebeu que ali havia uma história que merecia ser contada. “Aquela operação foi um divisor de águas, porque, a partir dela, a Polícia Civil começou a portar fuzis e a ter direitos sobre o Guardião (software de escuta telefônica), que antes eram restritos. Tudo isso hoje é comum para os policiais civis, mas o primeiro grupo que fez isso aqui foi o da Pinça (nome fictício da Operação Lince)”, lembra.
A polêmica questão dos grampos telefônicos, que já virou até alvo de CPI, retrata uma briga entre polícias pela posse de informações e, por consequência, pelo mérito sobre a prisão de Caniço. “A disputa pelo crédito é forte, por questões políticas – não partidárias, mas políticas internas. O secretário na época não conseguia controlar a rivalidade das corporações. Os caras tomaram de assalto o sistema telefônico de grampos pela dificuldade que eles tinham de trabalhar”, afirma o jornalista. “O problema é que virou instrumento de barganha, para garantir facilidades, promoções... Um quer chegar na frente do outro.”
Atualmente dividindo seu tempo entre Alemanha, onde trabalha na emissora Deutsche Welle, e Inglaterra, onde faz doutorado na Universidade de Sussex sobre Estado e Sociedade na África Austral, Pessôa acompanha atentamente as notícias sobre o Brasil e acha que os protestos de junho do ano passado ajudaram a pôr em prova as forças de segurança do País. “Foi um teste fantástico para a polícia brasileira, que se viu obrigada a ‘graduar’ sua violência, pois, do contrário, ia criar mais instabilidade nas ruas. Porém, também começou a se criar um patrulhamento excessivo de grupos sociais. Isso acontece muito em alguns países africanos com regimes mais opressores: o sistema de segurança pública atua em cima de grupos, da sociedade civil, e não sobre o criminoso”, critica.
Para o jornalista, a questão da desmilitarização policial é um pouco “delicada”, e não se consegue estabelecer um parâmetro com outros países. “Essa postura funciona em algumas circunstâncias, como na subida de um morro – é preciso estar muito bem ‘calçado’, porque os próprios traficantes tem uma estrutura militar. Mas na abordagem de rua, com o cidadão comum, o policial tem que ser mais conciliador. Houve cenas covardes nos protestos do Brasil. Em vez de tentar uma conciliação, os caras chegavam metendo bala de borracha nas pessoas. A polícia pode ser mais cidadã, menos repressora.”
Lançada recentemente, a obra trata de uma gigantesca operação montada pela Polícia Civil do Rio Grande do Sul para prender o líder de uma quadrilha que assaltava carros-fortes: José Carlos dos Santos, o Seco (no livro retratado como Manoel Barcellos Flores, o Caniço). O assaltante foi preso em 2006, mas o saldo ficou longe de ser positivo. Seguranças de um carro-forte, policiais e até um menino de três anos acabaram morrendo durante meia década de caçada.
Pessôa, que acompanhou a operação até 2005 como repórter da rádio Guaíba, acabou indo para a Alemanha antes do desfecho do caso. No entanto, com as inúmeras informações que conseguiu cruzar e com dados que foram obtidos somente após a prisão, percebeu que ali havia uma história que merecia ser contada. “Aquela operação foi um divisor de águas, porque, a partir dela, a Polícia Civil começou a portar fuzis e a ter direitos sobre o Guardião (software de escuta telefônica), que antes eram restritos. Tudo isso hoje é comum para os policiais civis, mas o primeiro grupo que fez isso aqui foi o da Pinça (nome fictício da Operação Lince)”, lembra.
A polêmica questão dos grampos telefônicos, que já virou até alvo de CPI, retrata uma briga entre polícias pela posse de informações e, por consequência, pelo mérito sobre a prisão de Caniço. “A disputa pelo crédito é forte, por questões políticas – não partidárias, mas políticas internas. O secretário na época não conseguia controlar a rivalidade das corporações. Os caras tomaram de assalto o sistema telefônico de grampos pela dificuldade que eles tinham de trabalhar”, afirma o jornalista. “O problema é que virou instrumento de barganha, para garantir facilidades, promoções... Um quer chegar na frente do outro.”
Atualmente dividindo seu tempo entre Alemanha, onde trabalha na emissora Deutsche Welle, e Inglaterra, onde faz doutorado na Universidade de Sussex sobre Estado e Sociedade na África Austral, Pessôa acompanha atentamente as notícias sobre o Brasil e acha que os protestos de junho do ano passado ajudaram a pôr em prova as forças de segurança do País. “Foi um teste fantástico para a polícia brasileira, que se viu obrigada a ‘graduar’ sua violência, pois, do contrário, ia criar mais instabilidade nas ruas. Porém, também começou a se criar um patrulhamento excessivo de grupos sociais. Isso acontece muito em alguns países africanos com regimes mais opressores: o sistema de segurança pública atua em cima de grupos, da sociedade civil, e não sobre o criminoso”, critica.
Para o jornalista, a questão da desmilitarização policial é um pouco “delicada”, e não se consegue estabelecer um parâmetro com outros países. “Essa postura funciona em algumas circunstâncias, como na subida de um morro – é preciso estar muito bem ‘calçado’, porque os próprios traficantes tem uma estrutura militar. Mas na abordagem de rua, com o cidadão comum, o policial tem que ser mais conciliador. Houve cenas covardes nos protestos do Brasil. Em vez de tentar uma conciliação, os caras chegavam metendo bala de borracha nas pessoas. A polícia pode ser mais cidadã, menos repressora.”
Fonte: Jornal do Comércio
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