Rio -  O processo de ocupação do Complexo do Caju para a instalação de Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) começou com investigação desastrada.
Um adolescente — estagiário do Programa Jovem Aprendiz, do Ministério Público Federal — teve a foto divulgada a uma emissora de TV como sendo o traficante Odilon Fernandes Ripardo, o Neném.
Além disso, o motoboy Rodrigo Marcelino da Silva, 25 anos, teve o nome divulgado junto à imagem de um traficante. Rodrigo, que ficou detido durante 10 horas entre a tarde de segunda e a madrugada de terça-feira, pensa em processar o Estado do Rio.
“Com erros grotescos, a investigação do Setor de Inteligência da PM foi levada ao Ministério Público estadual, que pediu a prisão das pessoas sem a participação da Polícia Civil.
Baseada em dados antigos e diligências irregulares, o trabalho representa violação dos direitos humanos”, criticou o presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia, José Paulo Pires.
Ainda segundo ele, em outra incursão da mesma operação, agentes foram prender um suspeito que já se encontrava no sistema penitenciário.
“Vamos apresentar representação na Corregedoria Geral Unificada contra todos os policiais envolvidos e instaurar inquérito na 17ª DP (São Cristóvão) para apurar a série de irregularidades”, disse Pires.
O Ministério Público estadual admitiu erro no caso do motoboy, que só foi liberado depois de provar que a foto do procurado não era dele. A Polícia Militar informou, em nota oficial, que não divulgou as imagens dos suspeitos.
Lambança da polícia deixa traumas
Assustado e deprimido. Assim está o jovem morador do Caju que faz estágio no Ministério Público Federal e teve sua foto veiculada na TV como traficante.
A chefe do setor em que o rapaz trabalha precisou entrar em contato com a emissora para que a imagem dele parasse de ir ao ar como se fosse o traficante procurado.
O rapaz ainda sofreu com a perda de amigos em redes sociais e chegou a ser xingado pela internet. Já o motoboy Rodrigo Marcelino mora há 23 anos no Caju e é pai de uma criança de sete anos.
“Meu filho veio provar que é trabalhador. Isso pode até prejudicá-lo no emprego”, disse a mãe do rapaz, Neuralita da Silva, na delegacia.