Informação policial e Bombeiro Militar

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Carta de um aluno do curso de escrivão da polícia federal desiludido com o salário que iria receber!


CARTA PARA A TURMA BRAVO DO 38º CURSO DE FORMAÇÃO PROFISSIONAL DE ESCRIVÃES DE POLÍCIA FEDERAL
Amigos da turma bravo,
Venho hoje aqui falar-lhes algo que deve chocar a maioria: estou me desligando deste 38º Curso de Formação Profissional de Escrivão de Polícia Federal. Os mais chegados já imaginavam, pois confidenciei muitos dos motivos que me levaram a tomar esta decisão, outras pessoas suspeitavam por notarem a minha falta de motivação recente.
Sei que muitos estão se perguntando porque estou fazendo isso, já que todos sabem que sou um dos mais vibradores da turma e que nunca medi esforços para nada no caminho percorrido até aqui, mas a verdade é que sempre ouvi e li sobre a crise na PF, sobre a guerra entre deltas (delegados) e EPAs (escrivães, papiloscopistas e agentes), sobre a trava salarial, sobre o descaso do governo Dilma com a PF e a falta de reajuste da remuneração, mas sempre bati no peito e falei que nada disso me desmotivava, nada disso estragaria meu sonho de vestir a roupa preta de letras douradas, afinal de contas tenho vocação policial e não me via fazendo mais nada a não ser isso. Ademais, pensava que o Órgão estava em sua pior fase e que agora era a hora para melhorar e sair da crise. Contudo, estando aqui no curso e presenciando a mais uma tentativa frustrada de negociação do sindicato com o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão e o Ministério da Justiça senti algo que nunca havia sentido antes, senti o descaso do governo, a ausência de força política dos EPA`s e uma briga sem fim e sem nexo entre delegados e EPA`s, na qual os primeiros sempre saem vencedores.
Com mais essa luta perdida, na qual todos os EPA´s davam como certa a vitória, caiu minha ficha. Vislumbrei um futuro o qual não quero passar, um futuro no qual estaria morando na fronteira, sem nem saber onde ficaria, longe da família e amigos, com um ambiente de trabalho ruim, e ganhando um salário que não daria para atender todos meus anseios e de minha família.
Desculpem-me os que pensam que um EPA ganha bem comparado às ou
tras policias, mas vocês estão enganados. Mudar para fronteira, na grande maioria fronteira do Norte, às suas custas e sem auxílio nenhum do Órgão, tendo que pagar aluguel, alimentação, passagem aérea para vez ou outra visitar a família, e, para aqueles que ainda têm filhos, pagar escola e alimentação destes, para isso são necessários muito mais que os ridículos 6000 reais líquidos (já incluindo o vale coxinha de cerca de 300 reais) que ganha um EPA 3a Classe.
Enquanto isso, carreiras que antes tinham salários que regulavam com o salário dos EPA`s há alguns anos, tal como Auditor da Receita Federal, atualmente ganham mais do que o dobro. Outras carreiras que antes brigavam pela equiparação de vencimentos com o subsídio dos EPA`s, hoje em dia, ultrapassaram e muito o subsídio destes, tal como oficial da ABIN, que hoje ganha 12.000 reais.
Se fosse há alguns anos, eu não pensaria duas vezes, iria pra fronteira sem medo e, caso não desse certo, estudaria para outra coisa. Entretanto, hoje já não sou mais um menino, tenho 32 anos, qualquer decisão minha repercute imediatamente na minha vida e não tenho mais tempo para cometer erros. Além disso, eu tenho um cargo público que me paga bem, o ambiente de trabalho é ótimo, é perto de casa e ainda tenho tempo para estudar lá. Arriscaria tudo isso pela PF, afinal de contas, essa é a minha vocação, mas tenho medo de arriscar nesse momento terrível pelo qual o Órgão passa e me arrepender por anos por ter cometido um erro.
Pode ser que eu me arrependa mais tarde, sobretudo se houver um fim nesta crise que já se arrasta há anos, mas prefiro correr esse risco a tentar algo novo e inusitado como abandonar tudo que tenho para tomar posse na PF, sofrer com o ambiente de trabalho e toda esta crise, e amargurar anos de arrependimento.
A mais recente derrota do sindicato foi a gota d`água que transbordou o meu copo, foi apenas a ponta do iceberg de um problema o qual não quero enfrentar. Mudar para fronteira, com brigas internas na Instituição, longe da família, pagand
o aluguel e div
s vi
das à causa policial, e, neste momento, a Instituição acaba de perder mais um que se encaixa nessa descrição, eu.
Carlos Roberto Coelho de Mattos Júnior
Nome de guerra: Coelho
crcmjr@hotmail.com
Ex-aluno da Academia Nacional de Polícia (XXXVIII CFP EPF)

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