Informação policial e Bombeiro Militar

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Donos de autopeças pagavam propina a policiais desde 2005




Átila Alberti

Desmanches pagavam entre 250 e mil reais a policiais.
Denunciada há pouco mais de dez dias, a rede de corrupção articulada por delegados e investigadores para cobrar propina de donos de lojas de peças automotivas usadas não é algo novo. O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) reuniu indícios de que a máfia dos desmanches estava arraigada na estrutura da Polícia Civil e que funcionava havia pelo menos sete anos em Curitiba e Região Metropolitana. A atuação da quadrilha, segundo os promotores, tem relação direta com o índice de carros roubados, que disparou nos últimos anos.

Ao longo da Operação Vortex, lojistas do setor de autopeças detalharam ao Gaeco que, desde 2005, pagavam propina mensalmente à Delegacia de Furtos e Roubos de Veículos (DFRV). Em troca, a polícia fazia “vistas grossas” nas fiscalizações, abrindo precedentes para a venda de peças de carros roubados ou furtados.

“É uma prática que estava arraigada. O valor da “mensalidade’ variava de acordo com o delegado divisional (Divisão de Crimes Contra o Patrimônio, departamento ao qual a DFRV está subordinada) e com a dinâmica da loja”, diz o promotor André Pasternak Glitz. Um caderno de contabilidade apreendido na casa de um investigador indica que o valor da propina variava entre R$ 250 e R$ 1 mil. Estima-se que cerca de R$ 30 mil eram arrecados por mês pelos policiais.

De acordo com o Gaeco, as lojas que integravam o esquema formavam uma espécie de rede. Os ladrões eram contratados individualmente pelos estabelecimentos para roubar carros sob encomenda. Os automóveis eram desmanchados em locais escondidos e as peças, distribuídas entre as autopeças e vendidas aos clientes em meio a lotes legalizados.

Aumento


As estatísticas indicam a relação entre a máfia dos desmanches e o aumento no número de carros levados por bandidos. Em 2007, quando a Secretaria de Estado da Segurança Pública começou a divulgar os índices a média era de 16,3 veículos furtados e roubados em Curitiba por dia. No ano passado, foram 25,5 por dia.

Com a substituição dos delegados acusados de integrar o esquema, o índice começou a recuar pela primeira vez. No primeiro trimestre deste ano, a média de veículos levados por bandidos ficou em 23,4 por dia.

Outro lado

Em nota, o Departamento da Polícia Civil disse que não comenta “abstrações” sobre supostos casos de corrupção na DFRV e ressalta que nenhum policial foi denunciado no “pseudoesquema”, no período entre 2005 e 2010.

“Polícia depenou o meu carro”


Era noite de sábado, fevereiro de 2009, quando Gustavo (nome fictício) estacionou seu carro um Golf em frente ao prédio onde mora um amigo, no bairro Ahú, em Curitiba. Nem chegou a desligar o veículo. Dois homens armados deram voz de assalto, obrigando-o a seguir com eles. Poucas quadras adiante, no entanto, os ladrões se decepcionaram ao saber que o veículo era modelo 1.6, pois “procuravam” um 2.0.

“Eram profissionais. Quando souberam que não era o tipo que eles queriam, me disseram para ficar tranquilo, que abandonariam o carro em seguida, depois da fuga”, contou Gustavo, que foi libertado pelos bandidos sem sofrer um arranhão.

Duas semanas depois, uma ligação da Delegacia do Alto Maracanã, em Colombo (Grande Curitiba), informou que tinham achado o carro. Mas, ao chegar lá, Gustavo teve uma decepção: havia apenas a carcaça do Golf. “Levei um susto. O carro estava desmanchado. Fiquei encucado”, disse.

As suspeitas aumentaram quando, pouco depois, um amigo que mora próximo à delegacia assegurou que o Golf de Gustavo, ainda intacto, permaneceu estacionado em frente à delegacia por vários dias seguidos. “A própria polícia desmanchou meu carro”, concluiu. Quando o guincho levava a carcaça do automóvel à sua casa, outra revelação. “O motorista disse que é comum levar carros para cortar em desmanches. Sempre tem policial no meio. Mas, como não podia provar, não levei a história adiante”, resignou-se.



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