Informação policial e Bombeiro Militar

terça-feira, 29 de outubro de 2013

CORONEL DENUNCIA INGERÊNCIA POLÍTICA NA PM.



Ivon Berto revela que a tropa está insatisfeita com as interferências, e cita o caso em que o vereador Silvânio Barbosa pediu a troca do comandante do batalhão do Benedito Bentes



Gazetaweb



Por: DAVI SOARES - REPÓRTER



Na última quinta-feira (3), o chefe do Estado-Maior da Polícia Militar de Alagoas (PM), coronel Ivon Berto, enfrentou o risco de ser preso ou ser alvo de procedimento disciplinar, ao receber a Gazeta para esta entrevista exclusiva. Nela, expõe fortes indícios de irregularidades cometidas pela cúpula da segurança pública de Alagoas. E considera serem estas as principais causas para a “falência múltipla dos órgãos de segurança pública” do Estado.

Também presidente da recém-criada Associação dos Servidores da Segurança Pública do Estado de Alagoas e pós-graduado em Ciências Criminais, Ivon Berto chefia o órgão mais importante da cúpula da Polícia Militar, originalmente criado para ser responsável pelo fluxo de informação, estudo, concepção e planejamento para apoio às decisões do comandante-geral da Polícia Militar, coronel Dimas Cavalcante.

E além de informar que a tropa está sobrecarregada pelo aumento da demanda da sociedade pelas ações da Polícia Militar, indica que os policiais militares demonstram um alto nível de insatisfação, apesar de gratificações criadas para premiar ações de combate ao crime.

O oficial militar denuncia o alto nível de ingerência política no seio da PM, que tem comprometido a punição efetiva de policiais militares indisciplinados. E aponta o secretário da Defesa Social como possível mentor de eventuais irregularidades.

Ao solicitar apurações ao Conselho Estadual de Segurança Pública (Conseg), elege o colegiado como o principal órgão a permitir uma saída para o efetivo combate à criminalidade em Alagoas.

O que motivou o senhor a se arriscar a dar esta entrevista?

Estamos acompanhando uma sociedade agonizando nos quatro cantos do Estado. Temos uma média de dois mil homicídios por ano. E estamos perdendo vários policiais militares em decorrência do descontrole da criminalidade. Em decorrência disso, tenho recebido muitos clamores por um posicionamento. Alguém tem que falar. Porque, de repente, esta entrevista serve como alerta aos poderes, principalmente ao Conselho Estadual de Segurança, no qual confio plenamente. Porque há fortes indícios de irregularidades na cúpula da segurança alagoana. O propósito é ampliar o debate para minimizar os efeitos do que está sendo provocado no seio da sociedade. Debate que sempre houve no Alto-Comando da Polícia Militar.

O que está acontecendo na segurança pública de Alagoas, durante a execução do programa Brasil Mais Seguro?

O Alto-Comando da PM está sendo colocado distante deste processo. O Brasil Mais Seguro é natimorto. A tropa não foi contemplada em nada, porque deixou de se prever o básico do básico. Ou seja, qualquer tipo de incentivo aos policiais e bombeiros. Sem realinhamento salarial, sem abono por desempenho, sem plano de saúde, sem gratificação pelo serviço a mais, sem esperança de salário digno. Sinceramente, o plano Brasil Mais Seguro não prospera jamais. Qualquer discurso contrário é balela, engodo. Há uma falência múltipla dos órgãos da segurança pública.



Por quê?

Porque, na confecção do projeto inicial, deixou de atender a princípios democráticos e basilares, ouvir segmentos importantes da segurança pública do estado, a base das instituições (associações, sindicatos, representantes das diversas categorias), os gestores das corporações (oficiais superiores, delegados de polícia), o alto-comando e escalão superior da PM, CBM e Polícia Civil, e, principalmente, a sociedade organizada. Todo processo ocorreu de cima para baixo, ao estilo do secretário de Defesa Social, e, claro, como sempre, equivocado. Nunca houve uma só reunião com todas essas autoridades, que são os pensadores da segurança pública. Um pequeno grupo se reúne, toma as decisões e provoca revolta, indignação. Porque não se pode misturar questões políticas e partidárias com segurança pública.

De que forma isso ocorre?

Por exemplo, o comandante do 5º Batalhão, até 2 de setembro passado, era o tenente-coronel Pantaleão, responsável por toda a área do Benedito Bentes, Cidade Universitária e Gama Lins, onde o crime, tráfico e homicídios estão assolando. E tomamos conhecimento de um documento do 1ª tenente Estevan, do Batalhão Escolar, que tirava serviço na região do 5º Batalhão, durante um show, em 23 de junho deste ano, no Benedito Bentes. Ele relata o desentendimento entre o policiamento e o vereador Silvânio Barbosa (PPS), que usou o microfone para detratar o tenente-coronel Pantaleão, depois de uma confusão causada pelo baixo efetivo e pelo grande número de brigas e pessoas apreendidas durante o evento - o que resultou em uma ordem para que o vereador interrompesse o show, por motivos de segurança. Em vez de atender à ordem, o vereador disse que o comandante do 5º Batalhão era “um bosta”. E disse que iria mudar aquele comando. E daquele dia até dois de setembro foi tempo que ele levou junto ao secretário de Defesa Social para modificar o comandante do 5º Batalhão, porque ele se recusou a ser um fantoche político e já havia denunciado o soldado José Siderlane Araújo de Mendonça por tirar licença médica e ir trabalhar no gabinete do vereador. Creio que o substituto do comandante Pantaleão não tem nada a ver com isso. Mas o major Jota Cláudio foi levado como troféu pelo vereador para ser apresentado no terminal de ônibus do Benedito Bentes, com direito a discurso e tudo, mês passado. Isso é fato e é lamentável. Porque enfraquece a base da hierarquia e da disciplina. O Alto-Comando ficou indignado com essa transferência por pedido político. Tudo articulado pelo secretário de Defesa Social, para favorecer o político da base do governo.

Este é o único caso de ingerência política?

A questão das promoções pelo critério de escolha é outra ingerência. Mas também tem o caso de dois policiais que foram denunciados por acobertar uma blitz comandada pelo ex-prefeito de Limoeiro de Anadia, Nivaldo de Albuquerque, que revistava carros de arma em punho, em fevereiro de 2012. A sindicância concluiu pela punição dos militares, mas desde julho deste ano não é cumprida, porque o político é aliado do governo. E o Conselho de Segurança já avocou o processo. ‡

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