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segunda-feira, 25 de junho de 2012

Dispositivo policial-militar da ditadura foi preservado no Paraguai


Presidente Fernando Lugo foi destituído pelos senadores após morte de policiais em confronto com sem-terra

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Foto: Jorge Saenz / AP
Humberto Trezzi
humberto.trezzi@zerohora.com.br
Ao ordenar a destituição do ministro do Interior, Carlos Filizzola, e do chefe da polícia, Paulino Rojas, o presidente paraguaio Fernando Lugo pode ter selado sua sorte. O episódio aconteceu há oito dias, após o tiroteio que resultou na morte de sete policiais e 10 sem-terra, além de 80 feridos, na desocupação de uma fazenda em Curuguaty.

Parte dos policiais e seus parceiros de farda, os militares, viram no episódio uma mostra do descontrole do presidente sobre seus ex-aliados (os sem-terra) e também de vacilação na hora de evitar invasões de terra, forma de pressão que nunca sai de moda no Paraguai. Um tipo de hesitação que teria custado a vida dos policiais encarregados de retirar os agricultores acampados em terra alheia. E acabaria por custar o mandato a Lugo.

No Paraguai não se brinca com o dispositivo militar-policial, como pude constatar em pelo menos oito passagens por aquele país, cobrindo questões criminais. A estrutura é a mesma dos tempos do ditador Alfredo Stroessner, que governou o país de 1954 a 1989. Não por acaso, foram os próprios militares que derrubaram o ditador. Ele caiu, mas o poder de nomeações (inclusive de juízes) continuou durante vários anos nas mãos da caserna. Militares também controlavam as aduanas e por eles passava — e ainda passa — o controle do contrabando, uma das fontes do PIB paraguaio.

Um desses fardados, o então coronel do Exército Lino Oviedo, tentou por duas vezes assumir ele próprio o poder no Paraguai, via golpe de Estado. Nas duas vezes teve de fugir do país. Após retornar e cumprir pena num quartel, foi para a reserva, fundou uma agremiação (com o exótico nome de União Nacional dos Colorados Éticos) e concorreu à presidência contra Lugo. Perdeu, mas não se conformou. Eleito senador, foi um dos que liderou sexta-feira, no Congresso, a maré de votos pelo impeachment do presidente. Oviedo é uma espécie de porta-voz informal dos militares.

Outro que representa ecos do passado, no Senado, é Alfredo "Goli" Stroessner, neto mais velho do ex-ditador Alfredo Stroessner. Junto com Oviedo, é um dos que costuma bradar contra "o caos" instalado no país desde que Lugo assumiu. Desta vez parece que a dupla foi ouvida e ganhou apoio. Caso Lugo não tivesse acatado a decisão do Senado, é provável que o dispositivo militar mostrasse os músculos e não ficasse apenas nos rosnados. Momentos antes da votação, o deputado Salyn Buzarquis (PLRA) advertiu que Lugo teria de cumprir a Constituição, do contrário "os militares vão agir". Lugo optou pela saída pacífica.

Fonte: zero hora

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