Informação policial e Bombeiro Militar

domingo, 25 de maio de 2014

Confira o destino dos personagens dos protestos de junho de 2013




O casal agredido se separou, o invasor da prefeitura se arrependeu, um PM foi homenageado; saiba como estão os personagens das manifestações:

NA RUA: O RADICAL
'As manifestações têm que causar conflito'

Comecei a ir às manifestações de junho como professor, estudante e cidadão. Sempre participei de ocupações. Conseguimos a casa dos meus pais assim. Um dos grupos que conheci é anarquista. Nas manifestações com a presença deles, as pessoas tendem a confrontar a PM porque uma das pautas é a desmilitarização. O clima do protesto é uma tentativa de insultar o Estado. Apanhar é muito natural. Em um dos protestos de professores, fui colocar a faixa em frente à Secretaria Estadual de Educação e um policial me bateu com um cassetete. Tentaram fazer eu desmaiar apertando o meu pescoço. No percurso para a delegacia, encheram a viatura de spray de pimenta e fecharam.
Fui levado uma outra vez no primeiro ato contra a Copa do Mundo [25 de janeiro]. A gente estava na rua Augusta e vieram policiais atirando e jogando bombas. Entramos em um hotel. Fui para o último andar e levei cassetete para descer. Fizeram um corredor, e quem ia passando ia apanhando. Tivemos que deitar no chão e mãos. Dessa vez apanhei pouco. Os policiais estavam sem identificação. Acho que as manifestações têm que causar transtorno, conflito, transgredir. Já pensei em sair de São Paulo e parar com esse negócio de rua [de manifestações], mas são medos momentâneos e a vontade de protestar é maior. Seria como negar a minha história. Já perdi parentes em porta de hospital. Não ir é negar o que eu já sofri.'
Jefte Rodrigues do Nascimento, 30, professor Manifestante que se tornou engajado e foi preso duas vezes em protestos desde junho

Policial Militar agride casal em bar na Av. Paulista
NA PREFEITURA: O ACUADO
'Foi chocante a ausência da polícia'
Na segunda [17], vi pela TV quando manifestantes quebraram a Assembleia do Rio. Quando cheguei à prefeitura na terça [18], conversei com a equipe do governo e pensamos que aquilo poderia acontecer aqui. Durante o dia, nos reunimos com o comando da guarda [GCM] e com a assessoria militar do prefeito, demos uma geral no prédio e vimos as vulnerabilidades. A gente postou a guarda na frente do prédio e a orientou para não reagir. Se fosse atacada, era pra recuar para dentro.
O que aconteceu naquele dia de mais chocante foi a ausência da polícia. A PM já tinha avisado a assessoria militar à tarde para que nos virássemos se acontecesse algo. Eles vinham sofrendo críticas pelo excesso de violência. Ficamos muito preocupados quando o grupo que estava na prefeitura foi atacar o Theatro Municipal. Estava tendo uma apresentação lá. Os músicos ficaram ilhados. A PM foi acionada por nós às 20h e só chegou às 22h. Ela só veio depois que o prefeito ligou para o governador. Fomos embora só às 23h. Desde junho tem uma irritação maior do povo.'
Antonio Donato, 53, vereador pelo PT Era secretário de Governo e estava na prefeitura quando manifestantes tentaram invadir o prédio
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NA PREFEITURA: O INVASOR
'O que fiz ainda me persegue'
Esse episódio virou minha vida de cabeça pra baixo. Logo depois, minha mãe me ligou chorando porque minha casa estava cercada de repórteres. Tive que dormir na casa de uma amiga durante alguns dias. Fui mandado embora e quando comecei a procurar emprego, não achei. Tive que trabalhar como garçom em uma boate e larguei a faculdade, porque não tinha dinheiro para pagar.
Consegui um emprego melhor como chefe do bar em outra boate, mas queria voltar a cursar arquitetura. Um ano depois, o que eu fiz ainda me persegue.
Estou respondendo a um processo. Fizeram uma polêmica no meu caso, falaram que meu pai era empresário, que eu era 'boy'. O pessoal ficou com mais raiva. Meu pai é caminhoneiro.
E, às vezes, alguém comenta sobre o assunto e quando sabem que aquele cara quebrando a janela da prefeitura era eu, acham que sou violento. Foi errado o que eu fiz, mas não sou um vândalo, jamais saquearia loja, botaria fogo em ônibus. Na hora, no calor do momento, eu estava com raiva da violência da polícia. Hoje eu me arrependo.'
Pierre Ramon, 21, barman Fotografado tentando invadir a prefeitura
Jefte Nascimento em uma de suas detenções, na RepúblicaAnterior
NA RUA: NAMORADA AGREDIDA
'Ele apanhou mais do que eu'
Uma semana depois, encontrei o policial [que a agrediu] trabalhando na frente do Masp. Fiquei nervosa. Pensei: 'Esse cara vai me reconhecer e me bater de novo'. Claro que ele não ia fazer isso. Perguntei: 'Onde fica a [rua] Augusta?'. Ele nem me reconheceu, deve ter batido em tanta gente que nem se lembra dos rostos das pessoas.
A próxima audiência do processo é no mês que vem. Não vou desistir. Ele é culpado, tem que responder e, se trabalha para o Estado, o governo também tem que ser responsabilizado.
É muito fácil deixar pra lá. Muita gente já desiste para eu desistir também. Mas e as outras pessoas com quem isso acontece todo dia? Os policiais que bateram em mim estão por aí. São mal treinados, estúpidos, sem nenhum tipo de educação.
Participei de manifestações depois, mas agora trabalho e estudo e não dá tempo. Tenho medo de apanhar de novo, claro. Quando saio da faculdade à tarde sempre acompanho para ver onde tem manifestação, porque naquele dia eu nem estava mais no protesto e aconteceu.'
Gabriela Lacerda, 25, estudante Apanhou da PM em um bar na Paulista com o então namorado Raul (se separaram em agosto passado)
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NA RUA: NAMORADO AGREDIDO
'Quando vejo um policial, sinto desprezo e pena'
Participamos das manifestações pacificamente. Quando apanhamos da polícia estávamos descansando em um bar e ele [o cabo Henrique Expedito] nos atacou sem motivo. No dia seguinte fizemos boletim de ocorrência, exame corpo de delito e prestamos depoimento. Resolvi não processar porque os advogados disseram que, como é uma ação contra o Estado, leva tempo e não tem muita esperança de dar certo. A Gabriela, minha namorada na época, foi mais atrás disso, mas como não estamos mais juntos, não sei se o processo foi adiante.
Eu não queria o dinheiro, mas gostaria que o responsável fosse punido, que toda essa violência tivesse consequência para eles. Porque eu sei que isso acontece todo dia.
Em setembro fui à corregedoria. Me disseram que responderiam em no máximo 60 dias. Até agora não tive resposta. Antes eu tinha a PM como uma protetora, achava que a função deles era boa, hoje não penso mais assim. Quando vejo um policial, sinto desprezo e pena.'
Raul Longhini, 21, estudante Agredido pela PM na Paulista quando estava na porte de um bar com a então namorada Gabriela
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NA IMPRENSA: FERIDOS
Repórteres foram atingidos pela polícia
A então repórter da "TV Folha" Giuliana Vallone, 27, foi atingida por uma bala de borracha no olho direito na manifestação. Ela se recuperou e, hoje, escreve na editoria "Ilustrada".
Na mesma data, o fotógrafo Sérgio Silva, 32, foi ferido e perdeu a visão no olho esquerdo. Silva pagou do próprio bolso por uma prótese ocular e, em janeiro, reuniu-se com o secretário da Segurança Pública, Fernando Grella Vieira, para pedir o fim do uso de bombas de efeito moral e balas de borracha contra manifestantes. No mês que vem, ele abre uma exposição em São Paulo.
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POLÍCIA: BATEU
Cabo não foi punido
Registrado pelo fotógrafo da Folha Eduardo Anizelli enquanto batia em Raul e Gabriela na avenida Paulista, o cabo da PM Henrique Expedito de Jesus se apresentou voluntariamente como envolvido no episódio. Na época, no entanto, disse que estava apenas tentando dispersar a manifestação em frente ao Masp e que "não lembra de ter batido em mulher nenhuma." Quase um ano depois, o PM não foi punido. Ele responde a inquérito policial militar.
sãopaulo tentou entrevistar Expedito e Vignoli, mas o pedido foi negado pelo comando da PM
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NA IMPRENSA: PREMIADO
Jovem fotógrafo ganha prêmio Esso
Victor Dragonetti, 23, ganhou o Prêmio Esso de Fotografia (a mais importante distinção jornalística do país) com o registro do policial Wanderlei Paulo Vignoli, ferido na cabeça, imobilizando um manifestante e apontando sua arma para o grupo que havia acabado de agredi-lo.
Drago, apelido do fotógrafo, cobria os protestos como membro do grupo SelvaSP, um dos vários coletivos de jovens que ofereciam, pela internet, imagens e depoimentos como alternativa à mídia tradicional.
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POLÍCIA: APANHOU
Ganhou título de cidadão paulistano
O soldado Wanderlei Vignoli, 42, fazia a segurança do prédio do Tribunal de Justiça, no dia 11, quando foi cercado por manifestantes e recebeu pedradas e chutes. Ele tentava impedir um jovem de pichar a parede do tribunal. Vignoli chegou a tirar a arma do coldre, mas não atirou. Ele levou cinco pontos na cabeça e ficou afastado por cinco dias, para repouso. Por não ter reagido, o PM recebeu o título de cidadão paulistano da Câmara Municipal, em agosto.


Reprodução/TV Folha
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Lucas Monteiro, um dos líderes do Movimento Passe Livre (MPL)
NA ORIGEM: PASSE LIVRE
'Não é só manifestação que resolve problemas'
"unho foi a primeira grande vitória do MPL São Paulo. Outros lugares já tinham barrado o aumento no Brasil, só que vencer aqui é ter projeção nacional e internacional. O MPL estava em seis cidades e hoje está em treze. E tudo o que falamos tem repercussão. A gente percebe a mudança pela passagem em escolas. Quando começamos, em 2005, a falar de tarifa zero, não tinha um jovem que não dizia que a gente era maluco. Hoje em dia, as pessoas sabem o que é tarifa zero, falam que precisamos continuar lutando. Houve transformação de como as pessoas encaram as mobilizações sociais. Muita gente se inspirou e se inspira nisso para tocar outras lutas urbanas. Mas é importante os movimentos terem claro que não é só a manifestação de rua que vai resolver os problemas. O MPL conseguiu vencer, porque, além dos protestos, existia planejamento e organização do movimento nos seus locais de trabalho. Como em junho a tomada das ruas foi muito grande, pode existir uma tendência de achar que só isso vai resolver, e não ter uma organização real das pessoas. A rua é uma consequência dessa organização e não a causa.'
Lucas Monteiro, 30, professor, membro do MPL e um dos escolhidos para falar em nome do grupo
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NA RUA: AJUDA
'Hoje a PM me quer nas reuniões'
No dia 13 de junho, o ato subiu até mim. As bombas estouravam em frente ao prédio onde trabalho, na avenida Paulista. Fiquei horrorizado com as pessoas sendo massacradas pela polícia. Uma senhora tomou um tiro de bala de borracha. Ajudei no socorro e chamei o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), que demorou 52 minutos. Tive a ideia de fazer os primeiros socorros nas manifestações. Daí, fui em uns 80 atos. Até então, como socorrista, ficava esperando alguém engasgar com a comida na hora do almoço no trabalho. Hoje sinto que tenho dois empregos. Não é só estar no ato, fazemos treinamento de primeiros socorros com ativistas e comunidades carentes. Minha vida pessoal ficou abalada. A minha família e meus amigos me cobram atenção. Perdi minha namorada por causa disso. Já fui detido no meio de um socorro. Hoje somos convidados para as manifestações e a PM nos chama para reuniões. Começamos nos apresentando para a polícia e, às vezes, fazemos a intermediação entre ela e os manifestantes.'
Alexandre Morgado, 30, publicitário, socorrista fundador do Grupo de Apoio ao Protesto Popular
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NA JOALHERIA: SAQUEADA
'Meu prejuízo foi de R$ 60 mil'
Naquele dia, a gente chegou em casa e viu que estava tendo uma manifestação no centro. Ligamos as câmeras e vimos que estavam tentando invadir a loja. Chamamos o pessoal da segurança para ter acesso ao local e fomos para lá. Estava tudo destruído e havia pessoas [saqueadores] ainda dentro da loja.
O seguro pagou um terço do prejuízo. E indenização da prefeitura eu nem tento. A probabilidade de receber algo é baixa e isso faz parte do risco do negócio. O prejuízo foi de R$ 60 mil, incluindo a reforma depois. Na hora, o sentimento foi de desamparo e de falência do Estado. O pessoal está certo de manifestar e é uma situação difícil para o policial. É difícil saber qual é o momento e a forma de repreender.'
Márcio Kenji, 29, empresário, dono de uma joalheria no centro que foi saqueada
Leitor registra manifestação contra o aumento das tarifas em São Paulo nesta terça
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NA PERIFERIA: M'BOI MIRIM
'Somos abandonados'
A primeira manifestação depois do aumento [da tarifa] foi aqui, mas ganhou atenção quando foi para o Centro. Participei aqui e lá. Mas, desde junho, o que mudou para a gente foi 0,0001%. Os problemas são vários. O trânsito é um dos grandes. Faltam ônibus e as linhas que iam direto ao centro foram cortadas sem que as pessoas fossem consultadas.
Alguma coisa melhorou, a gente quer a duplicação da [avenida] M'Boi Mirim e agora estão fazendo. Mas falta escola, creche, médico, espaço cultural... Enfim, somos abandonados.'
Amanda Cineco, 38, professora, moradora do M'Boi Mirim, na zona sul, e líder comunitária
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MÍDIA NINJA: ASSUMIU
'Agora as pessoas sabem quem somos, pro bem ou pro mal'
Eu fotografava há cerca de oito anos, mas, com a exposição, minha trajetória na profissão foi afetada. Se antes eu assistia a palestras sobre o tema, agora sou palestrante. Fotógrafos que eu admirava viraram meus amigos. A Mídia Ninja cresceu muito. O boom nas ruas gerou mais interesse no midiativismo. Até a Copa, vamos lançar um portal que reúna o conteúdo e seja multimídia: com textos e vídeos.
O financiamento continua sendo a nossa força de trabalho. Também temos recebido convites de ONGs e conferências para cobrir eventos. Fui para o Egito cobrir os protestos. Jornalistas internacionais ligam para perguntar a nossa opinião. Por causa da Copa, a gente atende pelo menos um veículo internacional por dia. Claro que tem o lado ruim: as pessoas sabem quem somos, para o bem ou para o mal. Quando fui cobrir a Marcha da Família, quebraram a minha câmera, meus colegas tomaram porrada e fomos expulsos do evento.'
Rafael Vilela, 25, fotojornalista Um dos coordenadores do Mídia Ninja, grupo com jovens jornalistas/ativistas que publicam na internet
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MÍDIA NINJA: LARGOU
'Cheguei ao limite'
A Mídia Ninja foi um projeto catapultado para a fama. Virei um gerenciador de crise sem perceber. Havia muita atenção ao que eu tinha para falar e a quem eu era. Foi muito estranho. No final do ano passado, cheguei ao meu limite pessoal e financeiro. A Mídia Ninja hoje é uma rede, algo que valorizo, e está em um caminho que ela tinha que tomar mesmo, mas não é onde me vejo mais útil ou confortável. Chegou uma hora em que os jornalistas pararam de me ver como colega. Quando me ligavam, era para eu dar uma entrevista.
O que eu queria era montar um espaço físico, criar uma redação e fazer um laboratório de jornalismo independente. Não só de linguagem, mas de viabilidade econômica. E é isso que estou tentando fazer hoje. O Fluxo [seu novo projeto] não é uma rede, é menor e mais administrável. Na Mídia Ninja, muita gente chegou pelo ativismo. Agora, quero fazer isso pelo caminho inverso. A partir do jornalismo voltar para a rua. A Mídia Ninja tem uma lógica brilhante, de caixa e casas coletivas, mas para a minha vida não cabe. Não saí da Mídia Ninja, houve um distanciamento.'
Bruno Torturra, 35, jornalista Fundou a Mídia Ninja 

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