terça-feira, 17 de dezembro de 2013

"Evite falar com estranhos", alertam peritos em segurança pública



da Livraria da Folha

Parece conselho da vovó, mas, segundo os autores de "Violência Urbana", não falar com estranhos e evitar andar sozinho em lugares desertos ainda são maneiras eficientes para não se tornar vítima de criminosos.
Divulgação
Livro apresenta os patamares da violência urbana no Brasil
Especialistas examinam as características da violência
Parte da coleção "Folha Explica", o livro apresenta o contexto em que os problemas sociais desta natureza surgem e como são mantidos, incluindo a responsabilidade histórica de uma longa tradição de práticas de autoritarismo.
O texto foi escrito por Paulo Sérgio Pinheiro, cientista político que ocupou a posição de especialista independente para violência contra a criança da ONU (2003-2008), e por Guilherme Assis de Almeida, pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência, da USP.
No volume, os especialistas examinam o conceito de violência, as características das mazelas brasileiras e as perspectivas para a sua superação, mostrando as principais estratégias e vítimas.
Com bibliografia básica e indicações de sites, o leitor poderá refletir e se aprofundar nas questões apresentadas, ponto importante para o fortalecimento da cidadania. Leia um trecho.
Atenção: o texto reproduzido abaixo mantém a ortografia original do livro e não está atualizado de acordo com as regras do Novo Acordo Ortográfico. Conheça o livro "Escrevendo pela Nova Ortografia".
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De dia, ande na rua com cuidado, olhos bem abertos. Evite falar com estranhos. À noite, não saia para caminhar, principalmente se estiver sozinho e seu bairro for deserto. Quando estacionar, tranque bem as portas do carro e não se esqueça de levar o som consigo. De madrugada, não pare em sinal vermelho. Se for assaltado, não reaja --entregue tudo.
É provável que você já esteja exausto de ler e ouvir várias dessas recomendações. Faz tempo que a idéia de integrar uma comunidade e sentir-se confiante e seguro por ser parte de um coletivo deixou de ser um sentimento comum aos habitantes das grandes cidades brasileiras. As noções de segurança e de vida comunitária foram substituídas pelo sentimento de insegurança e pelo isolamento que o medo impõe. O outro deixa de ser visto como parceiro ou parceira em potencial; o desconhecido é encarado como ameaça. O sentimento de insegurança transforma e desfigura a vida em nossas cidades. De lugares de encontro, troca, comunidade, participação coletiva, as moradias e os espaços públicos transformam-se em palco do horror, do pânico e do medo.
A violência urbana subverte e desvirtua a função das cidades, drena recursos públicos já escassos, ceifa vidas --especialmente as dos jovens e dos mais pobres--, dilacera famílias, modificando nossas existências dramaticamente para pior. De potenciais cidadãos, passamos a ser consumidores do medo. O que fazer diante desse quadro de insegurança e pânico, denunciado diariamente pelos jornais e alardeado pela mídia eletrônica? Qual tarefa impõe-se aos cidadãos, na democracia e no Estado de direito?
Hoje, a violência urbana não é uma preocupação exclusivamente brasileira, mas sim um tema que ocupa a vida pública de diversas outras sociedades, tanto nos países pobres como nos desenvolvidos. Na última eleição presidencial da França, em 2002, por exemplo, o tema contribuiu para levar ao segundo turno o candidato de extrema direita Jean-Marie Le Pen --afinal derrotado por Jacques Chirac, graças à mobilização de todas as forças democráticas.
Nas páginas a seguir, não pretendemos oferecer respostas fáceis, nem imediatistas, pela simples razão de que não existem soluções mágicas, após décadas de atitudes negligentes e ineficazes da parte das autoridades públicas brasileiras, sobretudo no âmbito dos estados e das grandes cidades. Tal quadro possibilitou ao crime organizado impor seu terror, instalando-se nas comunidades populares e transformando-as em enclaves do não-estado de direito, muitas vezes graças à omissão ou até conivência das autoridades, tanto na ditadura como na democracia. O que fazemos aqui é mostrar a situação atual desse tema imprescindível e complexo, com referência especial ao Brasil.

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