A Polícia Civil descobriu, por meio de escutas telefônicas, o plano de execução de um soldado da Rota e conseguiu avisar a potencial vítima antes que ela fosse atacada, na Zona Sul de São Paulo. O caso foi revelado nesta quarta-feira (14), após a prisão de dois suspeitos do assassinato de dois policiais militares em outubro na capital. 
Segundo o Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), as prisões aconteceram na região do Campo Limpo, na Zona Sul. Os dois policiais foram mortos nos dias 4 e 13 do último mês. No primeiro caso, o PM foi assassinado dentro de uma funilaria, no Jardim Arpoador. No segundo, o crime aconteceu na Rua José Barros Magaldi, no Capão Redondo.
A polícia chegou aos suspeitos enquanto investigava uma quadrilha de roubo a caixas eletrônicos. Os policiais da Delegacia de Roubo a Bancos pediram à Justiça e obtiveram autorização para realização de escutas telefônicas. O delegado Celso Marchiori, do Deic, contou que, por meio delas, os policiais ouviram a descrição do local onde o assassinato do soldado da Rota seria cometido.
Com os dados, os policiais pesquisaram o endereço no Google Street View, descobriram o telefone e avisaram a vítima, que a princípio não acreditou. A ligação ocorreu cinco minutos antes de os criminosos chegarem ao endereço. O policial foi resgatado a tempo pelos investigadores e ficou surpreso ao ouvir as escutas sobre o plano para assassiná-lo. Mais tarde, os criminosos discutiram ao telefone, em outra ligação interceptada, sobre os motivos de o plano não ter dado certo.
Liderança 
Um dos homens presos é apontado pela polícia como "disciplina", uma espécie de liderança de uma facção criminosa. A polícia diz que o homem saiu da prisão com a incumbência de determinar aos seus cinco subordinados o assassinato de cinco policiais, em um prazo de dez dias. Dois desses assassinatos acabaram consumados. Como a quadrilha tinha dificuldade em cumprir as metas, o prazo foi estendido até 30 de outubro.

"Bem no final de setembro, entrou um indivíduo que era estranho pra gente no áudio e que se autodenominava Leo Gordão, convocando esses indivíduos para uma reunião. Descobrimos que ele era o denominado disciplina, ou seja, o gerente regional, no Campo Limpo, dos assuntos relacionados ao crime organizado. Posteriormente ficamos sabendo que o moivo da reunião eram ordens para execução de PMs", disse o delegado.  "Conseguimos nesta semana identificar quem é o Leo e onde ele morava", complementou Marchiori.
Nas escutas, o suspeito chamava os demais interceptados para uma reunião, demonstrando poder de liderança. Com o aprofundamento das investigações sobre esse chefe, foi possível descobrir os planos de assassinatos de policiais. Agora, a polícia acredita que identificar e prender os demais suspeitos é apenas questão de tempo. Outra meta é quebrar as finanças do grupo. "Vamos fazer o levantamento financeiro deles, obter a quebra de sigilo e a apreensão de bens e valores", disse Marchiori.
O delegado afirma que o suspeito alegou que os motivos dos crimes seriam "injustiças cometidas pela Rota", mas Marchiori não acredita. "Acredito que o crime está querendo mostrar que é mais forte que o Estado", afirmou.

O delegado Marchiori diz acreditar ter descoberto a mecânica dos assassinatos de policiais. Segundo ele, cada região da cidade tem de cumprir uma meta de mortes com prazo determinado. Os criminosos executam crimes sempre em outras regiões para dificultar a identificação. A polícia exibiu um vídeo feito por policiais no qual o suspeito dá detalhes sobre o planejamento das mortes. Os crimes envolvem sempre dois executores e dois  encarregados da retaguarda.
As duas prisões aconteceram na Rua Paulo Gomiero, momentos depois que o principal suspeito participou de uma audiência no Fórum Criminal da Barra Funda, na Zona Oeste, onde responde a processo por corrupção. O motorista dele tentou fugir, mas também acabou preso. Segundo a polícia, os dois suspeitos confessaram a participação nas ações criminosas. Com a dupla, os policiais apreenderam uma pistola 9 mm, um revólver calibre 38 e um colete à prova de balas. Eles tiveram a prisão temporária decretada por 30 dias.
Crimes 
A primeira das duas mortes de policiais, em 4 de outubro, aconteceu na Rua Inácio Cervantes. O policial militar estava de folga e sem farda. Ele estava lavando o carro em frente a uma funilaria acompanhado de dois amigos. De acordo com a PM, a vítima tentou sacar a arma, mas foi baleada no tórax.
Os dois colegas conseguiram desarmar o criminoso, mas ele fugiu. O comparsa que o aguardava do lado de fora também escapou. O cabo atingido foi socorrido e levado ao pronto-socorro do Hospital Universitário, onde morreu.
No segundo caso, o soldado da Polícia Militar Flavio Adriano do Carmo, de 45 anos, foi morto na noite do dia 13 no Jardim São Luís, região do Capão Redondo. Ele também estava de folga. Segundo a Polícia Civil, o PM estava em frente a uma padaria na Rua José Barros Magaldi, altura do número 1.180, quando foi cercado e baleado no tórax e na cabeça.
Ele chegou a ser levado para o Pronto-Socorro Campo Limpo, mas morreu. O soldado era casado e estava na Polícia Militar desde 1996. Desde o início deste ano, 92 policiais militares foram assassinados em São Paulo.
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