Do Diário do Grande ABC
Depois de série de declarações polêmicas, entre as quais a de que a polícia estaria ‘enxugando gelo’, pois sua ação se torna ineficaz diante do quadro geral de impunidade, o coronel Benedito Roberto Meira, com a alta responsabilidade de comandante-geral da PM (Polícia Militar) paulista, coloca agora o dedo na ferida da Segurança pública de São Paulo. São problemas que a tropa sob seu comando conhece e reclama todos os dias e o governo faz questão de ignorar. O principal deles, sem dúvida, está na falta de controle efetivo das prisões, nas últimas décadas transformadas em ‘escritórios’ do crime organizado, pois de lá se planeja e ordena crimes, com a facilidade do telefone celular não bloqueado. Cita a chegada das drogas, que entram pelas fronteiras desguarnecidas e não têm o necessário combate até sua chegada aos consumidores, pois faltam meios e métodos às forças de repressão.
Inúmeras vezes, nós, das associações representativas da classe, alertamos para a falta de efetivo. Agora, o comandante declina que faltam 5.000 policiais militares para compor a tropa, pois entre 2007 e 2010 o Estado, para economizar, não fez os concursos de admissão daqueles que se aposentam, saem da polícia ou morrem. Também lembra a quebra da paridade entre os salários das polícias Civil e Militar, como fator de desestímulo aos militares. Fala do injusto orçamento de custeio que destina insuficientes R$ 505 milhões à Polícia Civil, que reúne 30 mil policiais, e só R$ 720 milhões para a Policia Militar, três vezes maior, com 90 mil integrantes.
A fala do comandante – que está no posto há dois anos e antes disso foi chefe da Casa Militar do governo estadual – não constitui novidade para o meio, mas é alerta às autoridades quanto à necessidade de mudanças. Que a Segurança não pode ser apenas instrumento de discursos de campanha e depois receber prioridade inferior a outras obrigações estatais. A necessidade de revisar o sistema e conseguir a integração de forças entre as polícias, que hoje só existe na cúpula e no discurso oficial. E, principalmente, a prática de política salarial que não seja excludente, não promova a cisão entre as classes policiais e, nem de longe, penalize o policial, obrigando-o a fazer ‘bico’ para conseguir pagar suas contas. É preciso reconhecer que o policial é ser humano, que precisa observar seu período de descanso e convivência familiar para poder voltar na próxima jornada em boas condições para o trabalho.
Quando o pronunciamento vem de alguém que, além da vivência e responsabilidades na corporação, tem assento no governo, a única coisa que a classe pode esperar é que o governo passe a reconhecer e resolver problemas da classe e da sociedade. Não dá mais para empurrar com a barriga...
Dirceu Cardoso Gonçalves é tenente e dirigente da Aspomil (Associação de Assistência Social dos Policiais Militares de São Paulo).
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