terça-feira, 26 de agosto de 2014

Coronel que queria que os soldados chegasse ao oficialato sem passar três anos no CFO perdeu o comando porque os oficiais foram contra!

‘A secretaria ficou refém do discurso político de ter 40 UPPs’, diz ex-comandante

Coronel tentou reformular estrutura da Polícia Militar do Rio

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RIO — Um ano depois de deixar a cúpula da PM em meio à crise provocada pela reação da polícia às manifestações de rua, o coronel Robson Rodrigues, ex-comandante da Coordenadoria de Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) e do Estado-Maior Administrativo da Polícia Militar do Rio, revela em entrevista ao GLOBO que chegou perto de promover uma reforma na PM. Depois de dirigir as UPPs por um ano, entre 2010 e 2011, Rodrigues, que é antropólogo, passou a trabalhar num projeto de unificação da carreira dos policiais militares. Soldados passariam a ter um caminho aos postos de comando por meio de um curso em paralelo ao trabalho, sem a obrigação de passar pelos três anos da academia de oficiais. Era o passo principal do projeto de instaurar o que chama de “militarismo mitigado”, o que modernizaria a gestão da PM sem extinguir a hierarquia militar, imposição da Constituição. Mas o projeto não resistiu à troca de comando e a resistências dos oficiais.
 
EXPANSÃO SEM AVALIAÇÃO
“Quando fui comandar as UPPs, vi que elas não se sustentavam sem reforma da estrutura da PM como um todo. O programa foi muito alargado. Não dá para crescer sempre sem projeção de início, meio e fim. As UPPs não têm programa porque surgiram do acaso. Ninguém esperava a proporção que tomaram. Se elas se consolidarem como prática cidadã, será o maior projeto do mundo de polícia comunitária. Não há nada igual. Mas faltam um plano e um gerenciamento. Isso não existe. Assim que pisei no comando das UPPs, pedi indicadores de avaliação. Soube que isso vai começar só agora.”
OS ÊXITOS
“A UPP aponta uma direção mais interessante de se fazer polícia nas favelas. É uma forma de também pacificar a corporação. Os números mostram a redução da letalidade da polícia. Mas, hoje, não podemos falar se a UPP deu certo ou não. Ainda é uma avaliação subjetiva. Hoje está tudo bem, mas amanhã, no primeiro tiroteio, todo mundo diz que não deu certo e joga fora. O que nos daria certeza do que está certo e errado? Avaliação e monitoramento, que deveriam ser constantes. Isso não existe até hoje.”

NEGLIGÊNCIA DA PM
“Hoje, as UPPs são a quarta parte da PM. Sem investir na PM como um todo, a UPP não sobrevive. A UPP não vai resolver todos os problemas da segurança pública. Existe um sistema para fazer isso. Não podemos depositar todas as fichas na UPP. Isso é um equívoco muitas vezes até político, eleitoreiro. Cria-se uma expectativa, e a UPP é alimentada como se fosse a única solução. E não é. Muitas vezes o próprio secretário (José Mariano Beltrame) se posicionou afirmando isso.”
DIVISÃO NA CORPORAÇÃO
“Existe, infelizmente, divisão entre policiais da PM e da UPP. Em qualquer polícia, o policiamento comunitário é visto como menor. Mas, quando começou a fazer sucesso, a UPP foi tomada pelo governo. Isso cria uma animosidade na PM, que pensa: se é da secretaria, não é minha. O caminho deveria ser o contrário, o da integração. Falta visão estratégica de entender que cuidar da PM é garantir a continuidade das UPPs. Mas a secretaria (de Segurança) ficou refém do discurso político de ter 40 UPPs. Virou meta quantitativa, não qualitativa”.
DESMILITARIZAÇÃO
“Quando deixei o Estado-Maior, estávamos trabalhando numa reformulação da PM. Não era desmilitarizar, mas se desgarrar da administração militar com ferramentas de gestão e indicadores de avaliação. A desmilitarização é velha polêmica. Há o ótimo e o possível. O ótimo seria desmilitarizar. No militarismo, você trabalha para os caprichos do superior. Mas desmilitarizar a PM é difícil, tem de mexer na Constituição, demora. Por isso defendo o possível. Há espaços para fazer o que chamo de militarismo mitigado. É o que a UPP propõe, mas tem de ser em toda a PM. É possível uma carreira única na PM, que introduza a meritocracia preservando controle, organização e planejamento.”
Fonte: O GLOBO

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