Junho de 2013. Quase 30 anos após o movimento popular pró-democracia conhecido como "Diretas Já", novamente milhões de brasileiros tomam as ruas para demonstrar sua insatisfação com a situação de seu país. Em São Paulo, a organização começou no Largo da Batata, em Pinheiros, e logo tomou enormes proporções até transformar-se em um mar de gente que cobriu de branco importantes vias da cidade, como a Marginal Pinheiros e a Avenida Paulista.
Muitos meses e muitos protestos se passaram desde então, mas ainda hoje as autoridades não compreenderam a forma de lidar com os manifestantes - nem com aqueles que se aproveitam da situação e cometem uma série de delitos. Enquanto ações pacíficas são coibidas com truculência, ações violentas contam com a conivência de policiais que não sabem como nem quando agir.
A tragédia envolvendo o cinegrafista da Rede Bandeirantes Santiago Andrade trouxe para a pauta do dia do Brasil aquilo que já se sabia mas que vinha sendo adiado há tempos: estamos diante de uma nova realidade com a qual ninguém está acostumado nem preparado para lidar.
O Congresso Nacional, apegado a práticas provincianas da política, arquiteta um projeto de lei para criminalizar movimentos sociais. Que a mídia e a opinião pública não só rechacem a iniciativa de Brasília como atentem para alguns pontos cruciais que comprovam que a situação é muito mais complexa do que aquilo que se vê nas ruas.
Direto Na Fonte
A prisão de Caio Silva de Souza, um dos acusados no caso do rojão que matou o repórter cinematográfico da Band, trouxe à tona uma grave constatação: os movimentos que promovem o enfrentamento e o quebra-quebra são financiados, entre outras fontes, pelos próprios partidos políticos.
Oferecer dinheiro em apoio a manifestações não é crime mas utilizar o vandalismo como arma política é imoral e torna-se um duro golpe para nossa recente democracia que completa apenas a sua segunda década de sucessões presidenciais promovidas exclusivamente pelo voto popular.
Investigar a fonte que financia protestos que resultam em queima de ônibus, saques e invasões é premissa básica para combater os crimes cometidos durante tais eventos, que prejudicam a sociedade e contaminam as legítimas demonstrações de insatisfação popular.
Mas como exigir tal atitude de autoridades que também podem estar entre os investigados? O vandalismo em manifestações tende a ser apenas mais um afluente do mesmo rio de onde saem a corrupção, o tráfico de drogas, os crimes ambientais, entre tantas outras atividades que encontram meios legítimos para fins ilegais.
Liberdade de Imprensa
Outro fato que chama a atenção durante as manifestações são as agressões aos profissionais de comunicação por parte das forças policiais, em uma clara demonstração de despreparo das autoridades ao lidar com a liberdade de imprensa, elemento fundamental em uma sociedade democrática.
São Paulo coleciona tristes exemplos de repórteres agredidos, acuados e impedidos de realizar seu trabalho durante os protestos na cidade. Muitos acabam sendo feridos com gravidade e os responsáveis são acobertados, raramente sofrendo algum tipo de punição.
Vale lembrar que os olhos do mundo estarão voltados para o Brasil durante a realização da Copa e a Polícia Militar de São Paulo não mostra estar preparada para garantir a segurança e o pleno exercício do trabalho da imprensa nacional e internacional, principalmente na cobertura de uma eventual manifestação.
Restrições à atuação dos meios de comunicação são vistas como algo extremamente negativo por países de democracia mais consolidada. Vale lembrar que, de acordo com o ranking elaborado pela organização Repórteres Sem Fronteiras, o Brasil ocupa apenas a posição de número 111 na lista de nações que respeitam a liberdade de imprensa, muito atrás por exemplo de África do Sul (42), Alemanha (14), Japão (59), Coreia (57), França (39) e Estados Unidos (46), últimos países que sediaram uma Copa do Mundo, o que significa que temos um longo caminho a percorrer até atingirmos a maturidade nesse quesito.
Mais Amor, Por Favor
O Brasil não precisa de mais uma legislação para coibir crimes já previstos em sua extensa e inchada constituição. As leis do país não precisam ser ampliadas ainda mais, apenas aplicadas com rigor e sem discriminações.
Autoridades deveriam estar mais atentas à apropriação das manifestações por parte de partidos políticos que manipulam o vandalismo em benefício de seus próprios interesses e à garantia da liberdade de imprensa, para que profissionais de Comunicação possam exercer sua função com segurança.
Além de protestar e votar de forma consciente nas eleições que ocorrem a cada dois anos, a população por sua vez deve se utilizar dos meios oficiais e de comunicação para denunciar abusos e práticas ilegais ou imorais para que os direitos de todo cidadão sejam cada vez mais respeitados.
Fonte: Yahoo Esporte Interativo
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