segunda-feira, 15 de abril de 2013

Polícias civil e militar são irmãs?



DIÁRIO DA MANHÃ
HENRIQUE GONÇALVES DIAS



Acabei de entabular um diálogo com a Suzete que me deixou muito feliz e até encabulado. Confesso, e tenho certeza que o misericordioso leitor que suportar estas linhas até o final haverá de concordar, que se não o fizesse, a saber: escrevê-las, dormiria faltoso com o leitor, portanto, eis os fatos. Encerrei o diálogo com a "Su" assim:
"Parece até que você está ditando o meu próximo artigo". Ela desatou a rir. Sua gargalhada é inconfundível e contagiante. Comecei a rir também e arrematei: "Nós já estamos conversando demais, você não acha?". Ela, como sempre, disse que iria fazer um café e eu, como sempre também, prometi que ligaria daqui a pouco. Claro que não poderei experimentar o tal cafezinho. Ainda não inventaram o "fax tridimensional" e a "Su" mora em São Paulo, cidade onde nascemos. Eu acho que ela é a pessoa com quem mais conversei e discuti na vida. Nossas brigas, principalmente quando eramos "mais" jovens, seriam, literalmente, roteiro para filmes de suspense de alta tensão, com cenas de violência psicológica, mútuas acusações, prejuízos financeiros incalculáveis, muito choro e dor, familiares e amigos machucados, entretanto, parece, creio, anseio, até incomodo o bondoso Deus, rezando, implorando para que continuemos como estamos, em paz e, principalmente, que essa paz, tal condição, não seja mais um hiato entre uma próxima guerra, afinal, já estou velho para consagrar energia para brigas e desentendimentos. Somos irmãos.
Voltando, a certa altura da conversa, não me lembro no momento bem o por quê, estou com a memória cada vez pior, estávamos falando mais uma vez sobre as polícias civil e a militar. A sua melhor amiga é policial militar em São Paulo e, ultimamente, conversamos muito sobre a onda de assassinatos de policiais militares lá, ah, lembrei-me, estava perguntando se ela sabia que um delegado daqui, de Goiânia, havia prendido um tenente numa boate e ela, abruptamente, talvez com a intenção de mudar de assunto, disse: "Ah, essa eterna briga". Moramos no epicentro de São Paulo por muitos anos e lá, também, são comuns os desentendimentos entre policiais civis e militares e, pior, até com troca de tiros, tiroteio mesmo. Um deles ganhou repercussão internacional. Ocorreu no começo da famosa Avenida Ipiranga, na sede do DEIC. Bem, então resolvi provoca-la e perguntei se ela sabia a razão da rixa entre "eles". A primeira resposta dela foi uma brincadeira que não posso relatar porque nem todo mundo gosta de piadas. Caímos na gargalhada. Depois de refeita ela disse: "Para mim é briga de irmãos". Perguntei se ela havia visto ou ouvido o termo "irmãos" da sua amiga militar ou de alguém e ela logo negou dizendo que havia lhe ocorrido no momento. Tratei de retribuir sua dica elogiando-a: "Você sempre foi uma pessoa muito criativa. As duas polícias são realmente como dois irmãos que estão sempre brigando, acusando-se mutuamente, mas que no fundo se amam pois lutam pelos mesmos ideais".
Eu disse pra ela que diante de tanta criminalidade, tantas injustiças, mazelas, mortes e sofrimentos de todas as magnitudes, essas duas corporações, instituições, companhias, tão caras, tão fundamentais para o alicerçamento duma sociedade justa, democrática, deveriam cooperar mais, procurando e arrancando as raízes de tal erva daninha, objetivando arregimentarem forças contra as forças do mal que, inclusive, aproveitam-se dessa "rixa".
Resolvi perguntar se ela sabia a causa originária dos desentendimentos entre as duas polícias. Ela disse que não. Comecei a narrar uma cena que o papai, Antonio Gonçalves Dias filho, que foi militar em São Paulo, tendo comandado o "destacamento militar" de inúmeras cidades no entorno de Ribeirão Preto, cidade onde está sepultado, figura máxima em minha vida, da qual já me ocupei aqui em outras ocasiões, enfim, quando terminei de contar a ela o que o papai havia me contado ela, mostrando-se estupefata, começou a maldizer o desconhecimento generalizado de fatos importantes para a compreensão do nossos sistemas e, enfim, eu a interrompi e disse que o problema fundamental que causa tal desconhecimento é que as escolas não ensinam a história do século XX, o século das transformações. Ela me surpreendeu, mais uma vez, com a concordância dizendo:
"Eu fico sempre falando que os meninos ficam decorando datas, estudando sobre Tiradentes, Pedro Alvares Cabral, D. Pedro, enquanto que não sabem nada sobre a história atual, o que está ocorrendo com o mundo". Foi nesse momento que eu a interrompi dizendo: "Parece até que você está ditando o meu próximo artigo".
Por quê o governador não promove uma confraternização entre as duas corporações? Que tal a ideia?
(Henrique Gonçalves Dias, jornalista)

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