domingo, 18 de novembro de 2012

Moradores e comerciantes citam 'toque de recolher' em bairro de Florianópolis; polícia descarta


Janaina Garcia
Do UOL, em Florianópolis

Um poste carbonizado; a grama do jardim e os pés de laranja e de maracujá da pequena horta chamuscados; uma caixa de correspondência no portão retorcida pelo calor. Essas são algumas das marcas deixadas pelo incêndio a um ônibus do transporte coletivo, na semana passada, na casa do aposentado Adamásio Sagaz, 74, em Florianópolis.
O episódio foi registrado no Bairro dos Ingleses, na parte norte da ilha, em frente à casa de seo Adamásio, e seria o primeiro de dois ataques a coletivos no bairro em um intervalo de 24 horas. Agora, não apenas o aposentado, como outros moradores ouvidos no local pelo UOL, apontam a existência de um toque de recolher vigente a partir das 22h e uma sensação permanente de insegurança quase uma semana após o início da onda de violência que assola a capital e ao menos mais 14 cidades de Santa Catarina.


Homem se diz amedrontado com onda de violência em Santa Catarina, que já atinge 15 municípios do Estado. Os ataques contra policiais e ônibus se iniciaram na última segunda-feira (12) Cristiano Schmidt Andujar/UOL

"Tem um toque de recolher, sim, mas mesmo de dia sempre dá medo, não é só à noite, não. Mas as pessoas vão fazer o que, se precisam trabalhar?", indaga o aposentado, portão para dentro, se dizendo preocupado com a situação do bairro. "Enquanto não puder prender menor de idade, isso não vai mudar", considera. No outro ataque a ônibus, no bairro --em frente a uma igreja que acabou, por isso, suspendendo as missas --, dois adolescentes foram detidos.
O Bairro dos Ingleses concentra a praia de mesmo nome, point de turistas e polo de prestação de serviços do setor, e fica na porção norte da capital catarinense. Os ataques aos ônibus da viação Canasvieiras em linhas que ligam o norte ao centro ocorreram na terça e na quarta da semana passada. Desde então, parte da frota vem sendo acompanhada por carros da Polícia Militar.
“Só fiquei com medo de pegar fogo na minha casa, pois ele subiu para a fiação da rua e chegamos a ficar quase seis horas sem energia”, lembra a mulher de Sagaz, a aposentada Lourdes Ramos Sagaz, 68.


Dona de uma pequena lanchonete no bairro, a comerciante Neusa Simi, 41, disse que não deixa mais o estabelecimento aberto depois das 22h. O segundo veículo incendiado no bairro foi a poucos metros dali.
“Há uma ordem para fechar tudo à noite, só não sabemos exatamente de onde ela vem. Confesso que desanimei bastante, pois as vendas caíram. Por mim, vendia tudo e voltava para o oeste [do Estado]”, diz a comerciante. Ela relatou que bem no dia do ataque ao coletivo, o bar/lanchonete completava um mês de abertura e estava cheio. “Nunca vi isso aqui. Para mim, era uma situação que só ocorria em São Paulo --e que eu via só pela TV”, compara.
Moradora do bairro, onde também trabalha como auxiliar de serviços gerais em uma igreja, Joavete Lemos, 59, também disse acreditar que esse tipo de ação criminosa era restrito “a São Paulo e Rio”. “E mesmo assim [com a violência nas duas capitais], achava que era mentira que se fazia isso [queimar ônibus]. De repente, me vejo pedindo para o meu filho voltar mais cedo à noite, não ficar na rua, porque a preocupação é demais --‘não pode’ ficar na rua mais à noite”, afirma, também sem saber dizer de onde partiu suposta regra. “A gente vai ter que aprender algo com tudo o que está acontecendo”, reflete.
Responsável pelo Santuário do Sagrado Coração de Jesus, onde as missas estão suspensas desde quarta (14) como precaução à onda de violência, o padre Mário José Raimonde é enfático: “Quem vai andar na rua à noite sabendo que pode aparecer gente atirando a qualquer hora? Pode até ser boato, mas as pessoas ainda estão com muito medo”, assegura.

Polícia diz que toque de recolher “é informação falsa”

Procurada, a Polícia Civil em Florianópolis rechaçou a hipótese de toque de recolher no bairro e no restante da cidade.
“Não procede a existência disso; é boato, informação falsa, pois nos últimos dias as polícias Civil e Militar intensificaram o policiamento da área e desde quarta não teve mais ônibus queimado naquela região”, declarou o delegado Leonardo Silva, titular da investigação da 8ª DP (Delegacia Policial) de Florianópolis, no norte da ilha.

Ataques na madrugada

Nesse sábado, o comandante da Polícia Militar em Santa Catarina, coronel Nazareno Marcineiro, disse em entrevista à Rede Globo que a madrugada de sexta para sábado havia sido "mais tranquila". "A tendência é voltar à normalidade muito em breve", disse. Na madrugada, haviam sido registrados novos ataques a bases da PM e da Guarda Civil na capital e região metropolitana. Ainda na Grande Florianópolis, veículos da polícia foram atingidos em São José, enquanto que, em São Francisco do Sul, homens armados pararam um ônibus e atearam fogo.
Já a Polícia Civil trabalha com duas linhas principais de investigação: a possibilidade de os ataques estarem vinculados a organizações criminosas ligadas ao tráfico de drogas e a possibilidade de ações de bandidos oportunistas que possam estar por trás dos ataques no Estado.

Fonte: UOL

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