sábado, 3 de novembro de 2012
GO: famílias tentam provar que jovens foram executados pela polícia
Mirelle Irene Direto de Goiânia
As famílias de quatro jovens que morreram em confronto com a polícia há cerca de uma semana em uma estrada vicinal da zona rural de Caçu (a 343 km de Goiânia), no sul do Estado, não aceitam a versão da Polícia Militar (PM) para o caso. Os parentes denunciam que, na verdade, os mortos teriam sido executados pelos policiais que os perseguiram.
Já no dia seguinte ao fato, os familiares e amigos dos rapazes organizaram um protesto que fechou a BR-153 por meia hora e esta semana se reuniram com a delegada-geral da Polícia Civil de Goiás, Adriana Accorsi, para apresentar suas suspeitas e exigir uma investigação criteriosa sobre o caso.
Segundo a versão divulgada pela Polícia, Halison Augusto, 33 anos, Cristiano Pereira dos Santos (sem idade informada), e os irmãos Ricardo Vaz Fernandes, 34 anos, e Divino Fernandes Teixeira Junior, 38 anos, foram mortos na madrugada do último dia 25 ao tentar fugir de um cerco da PM. A suposta quadrilha teria roubado uma camionete, teria ficha por vários crimes e portaria armas, drogas, dinheiro e capuzes, além de um rádio comunicador de uso restrito.
O comerciante Márcio Teixeira Fernandes, 41 anos, irmão de Ricardo e Divino, disse ter certeza de que a polícia os executou. Segundo Márcio, os irmãos e os outros dois suspeitos estavam, na verdade, voltando de viagem de compras no Paraguai, em três carros, e usavam o rádio para dar alertas sobre barreiras, para não perderem as mercadorias. Para ele, houve erro na identificação de fichas dos suspeitos. "Eles não eram traficantes, nem assaltantes, tinham apenas passagem por descaminho, por transportar mercadoria sem nota fiscal", contou ao Terra. Segundo Teixeira, os suspeitos viajavam em um Celta, e não em uma camionete, como alegado pela PM.
Ainda de acordo com Márcio Teixeira, teria havido excesso da polícia na abordagem dos suspeitos. "Não reconheci o corpo de meu irmão, tão deformado ele estava. Teve que ser enterrado em uma urna especial. Para mim ele apanhou muito antes de morrer. E eles os mataram", suspeita. "Não vamos conseguir trazê-los de volta, mas queremos Justiça, para recuperar a dignidade deles", ainda disse.
Muito emocionada, a auxiliar de escritório Maria Aparecida Pereira Silva, 57 anos, mãe de Halison Augusto, também não se conforma com a morte do filho e diz estar indignada com a divulgação, por parte da polícia, de que ele teria envolvimento em algum crime. "Ele apenas trabalhava como motorista deles, dos rapazes. Dói muito. Meu filho foi assassinado, não era e nunca foi bandido. Nenhum dos quatro eram", acredita.
Maria Aparecida disse que ainda não sabe se, quando conseguir provar a inocência do filho, pedirá indenização pela morte dele. "Não pensei nisso, mas nada compensa a dor que estou sentindo", afirmou.
Direitos Humanos
A Comissão de Direitos Humanos, Cidadania e Legislação Participativa (CDH) da Assembléia Legislativa de Goiás também está acompanhando o caso. Glória Madureira de Faria, que trabalha na Comissão, disse que as circunstâncias que levaram a morte dos quatro rapazes têm de ser esclarecidas. "Pelos relatórios que nós temos, está tudo muito contraditório. O caso é muito grave, e isso tem acontecido demais aqui no estado de Goiás, o que é preocupante", disse.
A delegada-geral Adriana Accorsi disse que todos os aspectos do caso estão sendo avaliados e que ela mesma acompanha pessoalmente o desenrolar das investigações, ainda em curso. Ela garantiu que laudos sobre aos corpos e a perícia inicial do carro serão examinados com muito critério, e que uma reconstituição do caso pode acontecer nos próximos dias. "Posso garantir às famílias que estamos muito empenhados nisso", disse.
Por terra
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