quarta-feira, 18 de julho de 2012

Policiais pedem desculpas e moradores agredidos retornam ao Humaitá após reintegração



Policiais pedem desculpas e moradores agredidos retornam ao Humaitá após reintegração

Da Redação - Lucas Bólico


Antes de voltarem a entrar na área, os moradores ouviram um pedido formal de desculpas feito pela Polícia Militar
As 48 famílias que ocupavam o Jardim Humaitá, em Cuiabá, reocuparam a área no início da tarde desta quarta-feira (18) após a Justiça reverter a reintegração de posse. Os moradores não podem voltar imediatamente a morar no local porque todas as casas foram derrubadas e só sobraram escombros após o cumprimento da reintegração, no último dia 12 de julho, na ocasião em que crianças, idosos e mulheres saíram feridos pela ação policial.

Antes de voltarem a entrar na área, os moradores ouviram um pedido formal de desculpas feito pela Polícia Militar. A justificativa apresentada pela PM foi que aquela ação não havia sido planejada e que é um caso isolado. Crianças que haviam sido feridas ficaram frente a frente com os policiais no momento da “reconciliação”.

A Defensoria Pública, por meio de agravo de instrumento interposto pelo defensor Munir Arfox, conseguiu reverter a decisão e agora irá intervir junto ao governo do Estado para regularizar a moradia das famílias. Para o defensor Air Praeiro, isso é o mínimo que pode ser feito pelo governo para reparar não só a agressão, mas a derrubada das residências.

Air Praeiro solicitará que o governo declare a terra de interesse público e depois a repasse às famílias, legalizando a situação dos moradores. “Isso acabaria com o objeto da ação de reintegração de posse”, argumenta.



Corrida pela terra

Temendo uma corrida de posseiros para o local, o defensor adianta que as famílias que já ocupavam a área estão cadastradas e novas famílias não poderão ficar no local. “Vocês é quem tem que fiscalizar”, solicitou aos moradores.

“Vou pedir ajuda do município e da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) para fazer o projeto e depois vamos demarcar os lotes, respeitando as vias e a área de preservação ambiental”, afirmou Praeiro.

A estimativa é que, caso a regularização dê certo, cada família fique instalada em uma casa de 10x20 metros. Desde o cumprimento da ação de reintegração, as famílias estão abrigadas em uma igreja evangélica que fica nas proximidades da área. Como só sobraram escombros das casas, eles devem permanecer no abrigo até conseguirem reconstruir tudo.

Recomeçando do zero

Com a garantia da terra, muitas famílias poderão começar a vida do zero. É o caso do casal Nei Pinheiro, 45, e Maiza Almeida, 26. Eles têm dois filhos e moravam no Humaitá há seis meses. Ao ultrapassar o arame farpado que cercava o local, eles só encontraram pedaços de madeira e eletrodomésticos soterrados naquilo que antes era uma residência.

Nenhuma casa ficou em pé no local. A “reocupação” da área foi um misto de alívio pela posse da terra e tristeza pelos destroços das casas.



Balas de borracha e golpes de cassetete

Cerca de 15 pessoas ficaram feridas na ação do último dia 12. Um garoto de 9 anos, identificado como Raian, ficou com a perna direita cheia de marcas de cassetete. “Eles [policiais] me pegaram pelo pescoço e me jogaram no chão, ai eu chamei o [meu amigo] Júlio. Ai eles me bateram com o cassetete”, relembra. “Eu tenho medo da polícia", concluiu, mostrando as marcas da agressão ao Olhar Direto, na ocasião.

O idoso Gilbeto Floriano da Silva, 67, levou um tiro de bala de borracha na nádega direita e teve a barriga pisoteada por policiais – a marca da pegada ainda está na camiseta, impressa na altura da barriga.

Governo admite falha de PMs na ação

O secretário-chefe da Casa Civil, José Lacerda (PMDB), admitiu que houve falha policial na ação. Na ocasião, policiais foram “convocados” por dois oficiais de justiça, mas não foram autorizados pela Casa Civil para realizar a operação. Só o fato de policiais terem participado da ação sem o aval do comitê de conflitos agrários, grupo ligado à Casa Civil, já pode render punição aos PMs envolvidos.

Após reunião com integrantes da ocupação, o secretário José Lacerda afirmou que o governo dará todo suporte para as famílias que agora se encontram desabrigadas. Elas estão sendo remanejadas para uma igreja que fica nas proximidades da ocupação.

O governador Silval Barbosa (PMDB) afirmou ser um abuso a forma como policiais fizeram a desocupação dos posseiros no bairro Humaitá. Silval disse que a atuação de membros da corporação foi lamentável e que ele não permite tal atitude.

“Determinei que se faça uma investigação e que abra-se um processo. Achei um abuso, não aceito o que foi feito ontem pela nossa polícia. O comandante-geral da Polícia Militar já tomou providências, instaurou o processo para investigar como se deu aquele episódio que, para mim, é lamentável “, disse.

Fonte: olha Direto

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