Investigações da Polícia Federal (PF) e do Ministério Público  Federal (MPF) mostram que o grupo de Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos  Cachoeira, participou de esquemas ilegais que, juntos, movimentaram pelo menos  R$ 400 milhões nos últimos seis anos. Entre os supostos crimes praticados estão  contrabando, exploração de jogos de azar, corrupção e lavagem de dinheiro.
 A organização criminosa atuava num raio de até 200 quilômetros  do Palácio do Planalto, tendo como área de maior influência o chamado Entorno do  DF. Era nesse território, com quase dois milhões de habitantes e baixo índice de  desenvolvimento humano, que Cachoeira cooptava servidores públicos e policiais  para atuarem como 'soldados' da máfia dos caça-níqueis.
 Planilhas de contabilidade apreendidas pela PF na operação  Monte Carlo, a mais recente envolvendo a organização criminosa, apontam que as  casas de bingo do Entorno rendiam ao grupo até R$ 346 mil por mês, chegando a R$  2 milhões em oito meses. Os cassinos de Valparaíso (GO), segundo as  investigações, eram os mais rentáveis. Na cidade, o grupo contava inclusive com  o apoio de um funcionário no Fórum. Em Águas Lindas de Goiás, o sistema via web  do bando registrou lucro bruto de R$ 86,6 mil no mês de fevereiro. A PF teve  acesso aos dados depois de grampear integrantes do grupo e conseguir a senha do  site.
 Ao melhor estilo da máfia italiana, os integrantes do grupo  destinavam parte de seus lucros para a 'assistência social', como era chamado o  pagamento da propina. Os valores eram lançados na contabilidade, juntamente com  o serviço técnico de reparos das máquinas, aluguéis e telefones. Em Águas  Lindas, por exemplo, foram reservados no mês de julho R$ 12,6 mil para a  rubrica. Em Santo Antônio do Descoberto, os valores variavam entre R$ 1 mil e R$  2 mil mensais, taxa semelhante à que era paga em Cristalina. Os pagamentos  variavam segundo a hierarquia do 'soldado' .
 'Apenas a título de exemplo, policiais militares de baixa  patente recebem em média R$ 200,00 por dia trabalhado na segurança/ronda de  cassino, ou trabalham dentro das casas, à paisana ou realizando ronda velada ou  usando a própria viatura da policial militar. Os oficiais PMs recebem propinas  rotineiras, cujo valor varia de acordo com sua posição hierárquica dentro da  instituição e a função desempenhada, seja política, junto ao comando geral em  Goiânia, seja nos comandos regionais', destaca o inquérito.
 O negócio de Cachoeira era mantido às custas do vício de  jogadores e de adulterações nas máquinas para que elas gerassem mais lucro.
 Concorrência. Todas essas operações eram controladas de perto  por integrantes do grupo, que atuavam para acabar com qualquer concorrência no  mercado ilegal.
 No início deste ano, homens de Cachoeira tentaram subornar  policiais em troca de informações sobre concorrentes e equipamentos  apreendidos.
 Otoni Olímpio Júnior e Raimundo Washington de Sousa queriam  pagar R$ 25 mil aos agentes e ainda garantir um 'mensalzinho' pelas facilidades.  Os denunciados fazem parte da família Queiroga, parceira de Cachoeira nos  negócios do Entorno.
 'Parceiro'. Empresário de Brasília, José Olímpio Queiroga Neto  atua, segundo as investigações, no comércio ilegal de jogos de azar e na lavagem  de dinheiro. Há 17 anos o Entorno pertenceria a Carlinhos Cachoeira e Olímpio  atuaria em parceria com ele e Lenine Araújo de Souza, segundo homem na escala  hierárquica do grupo criminoso.
 Os grampos mostram que o empresário poderia operar com  exclusividade na área e escolher demais parceiros.
 'Não sou dono da área. Dono da área aí chama-se Carlinhos  Cachoeira e Lenine e outro garoto. Respeito isso e falo de boca cheia, pra todo  mundo, que sou parceiro. A área é de vocês, por isso que eu pago e pago com  prazer. Os bicheiros são vocês. Eu pago porque é direito de vocês', diz Olímpio  em uma interceptação telefônica.
 Apuração da Monte Carlo mostra que os irmãos Queiroga eram  responsáveis por empresas que ajudavam a lavar o dinheiro de Cachoeira. A quebra  de sigilo bancário mostrou que pelo menos R$ 14 milhões passaram pela rede  montada pelo empresário. Segundo a PF, somente a Let Laminados Extrudados teve  movimentação financeira de aproximadamente R$ 13 milhões entre 2006 e 2009.
 De acordo com relatório de análise, a empresa tem entre os  sócios dois laranjas: Adriele Silvia e Thiago Rodrigues, servidor lotado no  Ministério do Desenvolvimento Agrário com salário de R$ 2,1 mil. A PF  identificou ainda transferências bancárias entre Adriele e Geovani Pereira, o  contador de Cachoeira. A moradora de Luziânia também é sócia da empresa Micro  Usina de Álcool Alto Longa, em Alto Longa (PI), aberta em julho do ano  passado.
 Faturamento. Nas escutas, Queiroga e seus comparsas  movimentavam o dinheiro arrecadado com os jogos de azar nas contas das empresas  de fachada. As casas de bingo da família rendiam cerca de R$ 200 mil por dia,  como revelam documentos das investigações.
 Os valores são semelhantes aos identificados pela PF nas  operações que fecharam as primeiras casas da organização criminosa, ainda em  2006.
 'Pelo que levantamos, as máquinas de rua e de bingo de todo o  Estado de Goiás e Entorno do Distrito Federal faturam uma média de R$ 250 mil  diariamente', afirma o relatório da PF.
 Imposto de Renda. O grupo de Cachoeira também é formado por  políticos suspeitos de corrupção, especialmente no Estado de Goiás. A ligação  com prefeitos e vereadores ficou demonstrada, por exemplo, na articulação para  livrar o prefeito de Águas Lindas, Geraldo Messias (PP), do indiciamento na  operação Apate, realizada em 2010.
 Em tramitação no Tribunal Regional Federal (TRF) da 1º Região,  a fraude consistia na retificação das Declarações do Imposto de Renda Retido na  Fonte (DIRFs) dos últimos cinco anos, de órgãos municipais como a Prefeitura e a  Câmara daquele município.
 As investigações mostraram que eram incluídos falsos  prestadores de serviços, com rendimentos fictícios, o que gerava retenções  enganosas. O dinheiro então era liberado para os gestores.
 Segundo a Receita, o rombo estimado no caso é de R$ 200  milhões. A operação se estendeu para outras 10 prefeituras de Goiás, duas do  Mato Grosso e uma do Pará. Nos áudios, um delegado da PF que fazia parte da  quadrilha aponta detalhes da operação, dimensiona quais prefeituras seriam  atingidas e, em seguida, orienta como deveria ser o depoimento de Messias.
 O Estado não localizou o prefeito de Águas Lindas.
 Carlinhos Cachoeira também teve informações privilegiadas  sobre a Operação Conexão Ásia, que apreendeu mais de R$ 4 milhões em produtos  supostamente contrabandeados no camelódromo de Campinas, em Goiânia e em  Anápolis, áreas de atuação do grupo comandado pelo contraventor.
Fonte: estadão
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