domingo, 18 de dezembro de 2011

Em outro lugar do mundo o aparelho seria recuperado, mas aqui é Brasil e se você sai um pouquindo de lado está fora de área, "isso não pode!" pegou mal para a PM.

Roubado, professor rastreia tablet, aciona PM, mas fica sem aparelho

ANDRÉ MONTEIRODE SÃO PAULO

O iPad do professor Ivan*, 41, não é da terceira geração, mas foi caçado como se fosse o último lançamento da Apple. O aparelho foi roubado quando ele chegava em casa, na região de Moema (zona sul de São Paulo), na noite de domingo (11).
Sua sorte foi ter um instalado um aplicativo que rastreava o aparelho em qualquer lugar. O azar foi ter encontrado tanta dificuldade que não conseguiu recuperá-lo.

O assalto ocorreu por volta das 21h15, quando o professor chegava de táxi do aeroporto de Congonhas. Um bandido armado o abordou logo após descer do veículo e pediu sua mochila, que, além do iPad, tinha um laptop. O bandido ainda levou seu relógio e R$ 300.
Ivan acionou a polícia pelo telefone 190 e uma patrulha chegou a percorrer com ele ruas da região, mas o assaltante não foi encontrado.
Editoria de Arte/Folhapress
De volta a sua casa, o professor se lembrou de um aplicativo de rastreamento --o Find my iPad. Pelo iPhone, que estava no bolso e não foi levado, Ivan localizou o aparelho roubado e começou a acompanhar seu deslocamento pelas ruas.

"Nunca pensei que seria assaltado, instalei o aplicativo para o caso de perder o iPad em casa", disse. Ele ligou novamente para a polícia e teve início sua peregrinação.

Uma patrulha foi para sua casa mas, ao serem informados sobre o local onde estava o aparelho --av. Nove de Julho--, os PMs disseram que não poderiam interceptar o suspeito porque ele estava fora da área de atuação.

A orientação foi para que ele pegasse o carro, chegasse próximo ao local, e procurasse policiais que estivessem na região. O professor chegou a fazer isso, mas, quando encontrava uma viatura, o aplicativo já indicava outro local.

Frustrado, ele voltou para casa e passou a acompanhar a andança de seu tablet pelo computador. Viu a tela mostrar vias como a avenida dos Bandeirantes, rua Vergueiro, marginal Tietê, até o sinal parar dentro de um condomínio no bairro Taboão, em São Bernardo do Campo (Grande São Paulo), à 0h12.
Ele conta ter ligado para a PM diversas vezes, mas nenhum atendente conseguiu resolver seu problema. "As orientações eram conflitantes, cada ligação era uma coisa mais descabida que a outra. Me senti desamparado pelo Estado", afirma.

O professor desistiu do 190 e passou a buscar no Google telefones de delegacias. Em uma das ligações madrugada adentro, um policial informou o celular de um PM, que chegou a ir até o condomínio do suspeito. Mas a resposta para Ivan foi de que sem mandado judicial não poderia fazer nada.
Já na manhã de segunda-feira, Ivan procurou a delegacia mais próxima do condomínio para pedir novamente ajuda. No caminho, encontrou outra equipe da PM e relatou seu calvário. Os policiais chegaram a acompanhá-lo até a porta do condomínio, conversaram com porteiro e vizinhos, mas também disseram não poder fazer nada.

De volta ao 7º DP de São Bernardo, o professor registrou a ocorrência e deu o endereço do condomínio. O suspeito foi detido na rua, e, levado à delegacia, foi reconhecido.

O final, porém, ainda está longe. Testemunhas que viram o assalto não compareceram à delegacia para reconhecer o suspeito. As imagens da câmera do prédio também não chegaram a tempo.
"Sem elementos mais convincentes, nenhum juiz vai expedir um mandado de prisão", avaliou o delegado Ivo Fontes, do 7º DP.

O suspeito, que já tem passagens pela polícia, foi liberado após ser indiciado sob suspeita de roubo e vai responder pelo crime na Justiça.

À polícia ele negou o assalto e disse que no horário informado pelo professor estava com um amigo em outro lugar. O amigo não foi à delegacia confirmar a história.

Ivan diz acreditar que seu iPad nem esteja mais na casa do suspeito, e que já desistiu de recuperá-lo. Vai comprar outro na próxima viagem ao exterior.

OUTRO LADO

Procurada, a Polícia Militar afirma que o 190 prima pela qualidade e que seu objetivo "é atender bem o cidadão e o envio rápido de uma viatura se for necessário".

Sobre o caso do professor, a corporação informou que precisaria do telefone ou endereço dele para apurar os problemas relatados.

Em situações semelhantes, a orientação da PM é que a vítima procure o 190 e que os policiais podem ir a qualquer local indicado por ela.

*O sobrenome foi omitido a pedido da vítima

Fonte: Folha.com

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