segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

O Terror: A disputa entre o policial militar Aldo Leonardo Ferrari e inspetor de Polícia Civil Leonardo da Silva Torres, o Trovão, levou o primeiro a, em vários diálogos com a mulher, deixar claro que o grupo estava envolvido em ações ilegais. "O Torres está querendo botar tudo na minha conta, só porque eu sou PM", diz, depois de combinar com amulher algo para prejudicar o parceiro.

A rede de intrigas nos corredores da polícia do Rio

Policiais investigados suspeitaram da Operação Guilhotina e tentaram driblar as ações da PF que resultaram na prisão de mais de 30 acusados


Cecília Ritto, do Rio de Janeiro
Os bastidores da Operação Guilhotina mostram a complexidade de uma investigação que tem agentes de segurança do lado dos investigados. Treinados para rastrear informações e com conhecimento de técnicas de contra inteligência, policiais civis e militares agem quase sempre dificultando o recolhimento de provas ao cometer um crime. A própria rotina desses servidores – que estão, por função, sempre lidando com armas e troca de informações – torna ambígua a interpretação de algumas frases e pistas.

A favor dos policiais que tentavam descobrir os esquemas das quadrilhas investigadas, no entanto, entrou em cena um componente muito mais comum aos criminosos do que aos policiais. O relatório da operação evidencia um clima permanente de disputa, desconfiança e até rivalidade entre policiais que se beneficiavam dos mesmos negócios ilegais, uma verdadeira rede de intrigas dentro das dependências do estado, com o único objetivo de tirar proveito de informações e da condição de agentes públicos.

A disputa entre o policial militar Aldo Leonardo Ferrari e inspetor de Polícia Civil Leonardo da Silva Torres, o Trovão, levou o primeiro a, em vários diálogos com a mulher, deixar claro que o grupo estava envolvido em ações ilegais. "O Torres está querendo botar tudo na minha conta, só porque eu sou PM", diz, depois de combinar com amulher algo para prejudicar o parceiro.

Um diálogo registrado pelo monitoramento telefônico autorizado pela Justiça mostra como os policiais combinavam uma versão pública das suas ações na polícia, de forma a eliminar dubiedades que os comprometessem mais à frente. No dia 14/12/2010, quando as investigações da Operação Guilhotina já estavam a todo o vapor, dois dos então suspeitos - agora denunciados pelo Ministério Público – combinam a versão que vão apresentar na delegacia para uma apreensão de drogas. Os investigados são Jorge do Prado Ramos, o Steve, e, novamente, Ferrari.

Em um telefonema, Steve lembra Ferrari do que deveria ser relatado em delegacia. “Só pra te lembrar, é, nós dois levamos as droga que foi apreendida na casa lá para fazer análise, de repente você pode esquecer, falei aqui pra doutora. Aqui, nós dois levamos a droga, para análise, copiou?” Ferrari, em seguida, confirma o combinado, e Seteve reforça: “(...) batemos as outras casas, depois retornamos à tarde, apresentamos lá ao Dr. Marcus Vinícius, é o nosso procedimento normal, e aí almoçamos, quando nós retornamos pegamos a droga pra fazer análise no ICE e depois fizemos o flagrante, tranquilão.”

Alguns dos investigados chegaram a prestar esclarecimentos à corregedoria interna da Polícia Civil ao longo da Operação Guilhotina – obviamente, sem saber que tratava-se de uma ação daquela magnitude e com tais objetivos. Na sexta-feira, 11 de fevereiro, dia das primeiras prisões, os grampos mostram as artimanhas lançadas pelos policiais para driblar a corregedoria. Um desses episódios ocorreu na 22ª DP (Penha), um doas alvos dos mandados de busca e apreensão. Quando a operação foi deflagrada, a delegada Márcia Becker chegou a ser conduzida à sede da Polícia Federal por ser suspeita de ter protegido o inspetor Cristiano Gaspar Fernandes, que estava com prisão decretada. Os grampos revelam que a relação de acobertamento não aconteceu apenas naquele dia.
Consta no relagtório que, em uma conversa por telefone em 7 de dezembro do ano passado, Cristiano comentou a vistoria realizada pela corregedoria em sua sala e demonstrou a desconfiança de que houve a instalação de uma escuta em sua sala. O policial diz à delegada: “Cara, eu vou dividir a sala com a senhora porque eu não vou entrar mais na minha sala, não. Ficaram muito tempo trancados na minha sala”. A delegada, então, orienta o subordinado. “É, pois é, foi mesmo, mas tem que tirar as coisas lá, dar uma olhadinha”.
O fantasma da corregedoria pairou sobre os policiais investigados também no dia 10 do mesmo mês. Marcos Antonio de Carvalho avisa a Flávio de Brito Meister, conhecido como Master, que os corregedores estão na delegacia (Polinter) e querem entrar na sala que Master, dividia com Ferrari. Carvalho pergunta a Master: “Deixa eu te falar um negócio, tem algum problema lá na tua sala?” O policial responde: “Eu acho que não”. Carvalho: “A gente tá precisando abrir ela, só falta ela, a gente tá sendo vistoriado pela corregedoria”.

Complicações em família – A mulher do policial Ferrari, Sônia Braga, aparece em vários dos grampos registrados como provas da Operação Guilhotina. Muitas vezes causando irritação ao agente, Sônia fala claramente de armas, de venda de ‘peças’. Em uma das gravações, ela desafia o marido: “Você tá sem arma pra vender”, diz, duvidando de uma transação na qual Ferrari diz estar envolvido.

Sônia Braga surge em um dos telefonemas exatamente no momento em que a sala de Ferraria está sendo alvo de uma inspeção da corregedoria. Sônia: “Entrou boi na linha?” Ferrari: “É o Master aqui. Calma aí rapidinho Sônia, que eu tô pensando um negócio aqui, a corregedoria tá lá na delegacia mandando abrir todas as salas, tão querendo abrir a nossa, eu tô pensando aqui se tem alguma coisa no armário lá, pera aí deixa eu pensar aqui rapidinho já te ligo.”


Fonte: Revista VEJA http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/a-rede-de-intrigas-nos-bastidores-da-operacao-guilhotina

 Ministério Público denuncia  policiais que vendiam informações, armas e proteção a criminosos

Agentes de segurança acusados pela Operação Guilhotina podem responder por formação de quadrilha, corrupção, peculato e violação de sigilo funcional

Os policiais apontados pela Operação Guilhotina como integrantes de quatro quadrilhas, acusados de explorar desde serviços ilegais até a venda de informações e armas para bandidos, foram denunciados na tarde desta sexta-feira pelo Ministério Público do Estado do Rio. A denúncia inclui agentes da Polícia Civil, integrantes da Polícia Militar e informantes que “se apropriaram de bens e pertences apreendidos em diligências e operações” e “atuavam em delegacias ou em posições estratégicas da Segurança Pública”, utilizando-se disso para formar um “grupo criminoso”.

As acusações incluem formação de quadrilha, corrupção passiva e ativa, peculato e violação de sigilo funcional. Assinam as denúncias os Promotores de Justiça Homero das Neves Freitas Filho, Alexandre Murilo Graça, Márcio José Nobre de Almeida e Luis Otávio Figueira Lopes.

Uma das denúncias tem o delegado da Polícia Civil Carlos Antônio Luiz de Oliveira, que chegou a ser subchefe Operacional da Polícia Civil, como principal acusado. Ele é apontado como facilitador das atividades de um grupo de milicianos que atuava na Favela Roquete Pinto, em Ramos, na zona norte do Rio. Segundo o Ministério Público, Oliveira “atuava controlando as autoridades policiais das delegacias nas quais os milicianos exerciam suas funções, de modo a permitir as empreitadas delituosas para a aquisição de armas e outros ‘espólios de guerra’”.

Com Oliveira foram denunciados quatro policiais civis, seis PMs (um deles da reserva) e três traficantes. Também são enquadradas nos crimes sete pessoas que controlavam serviços como o transporte alternativo, segurança privada, “gatonet” e distribuição de gás e água na Favela Roquete Pinto. Os promotores destacaram, em um trecho da denúncia, que “em duas operações comandadas pelo ex-Subchefe Operacional da PC, em 2005 e em 2008, parte do grupo apropriou-se de armas e munições, algumas para serem revendidas e outras para o uso próprio.

Corrupção – Em outra denúncia, os promotores acusam sete pessoas – sendo três policiais civis e dois PMs – de atuarem em uma quadrilha que “se aproveitava da confiança que lhe era depositada e do local de trabalho (no caso, a Delegacia de Combate às Drogas)” para se apropriar de bens e valores de criminosos. De acordo com as apurações
, os denunciados faziam apreensões em territórios dominados pelo Comando Vermelho e revendiam o material apreendido para integrantes de grupos da facção ADA, liderados pelos traficantes Nem, da Rocinha, e Roupinol, do Morro de São Carlos.

Também de acordo com a denúncia, quatro policiais teriam negociado um “arrego” com os traficantes, recebendo em troca um pagamento mensal de R$ 50 mil para o repasse de informações sobre operações policiais. Os denunciados nesta peça são os inspetores da Polícia Civil Leonardo da Silva Torres, o Trovão, Flávio de Brito Meister, o Master, e Jorge do Prado Ramos, o Steve, e os policiais militares Aldo Leonardo Premoli Ferrari (Léo Ferrari) e André Luiz Aragão Mirandela. Também é denunciado Luiz Carlos Magalhães.

Uma terceira denúncia abrange quatro policiais envolvidos na apropriação de bens de traficantes durante a ocupação do Complexo do Alemão. As ações do grupo foram flagradas em gravações telefônicas realizadas com autorização da Justiça. Os envolvidos responderão, genericamente, pelos crimes de formação de quadrilha, peculato e corrupção passiva, entre outros descritos na denúncia, como a acusação de prática de “arrego” – recebimento de pagamento mensal de criminosos.

O quarto grupo denunciado, composto por dez policiais militares, dois policiais civis e mais um acusado de atuar na segurança privada de um esquema de casas de jogos. Os acusados atuariam em casas de exploração de jogos de azar e caça-níqueis nos bairros de Botafogo, Bonsucesso e Barra de Guaratiba


Fonte: http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/ministerio-publico-denuncia-quatro-quadrilhas-de-policiais-que-vendiam-informacoes-armas-e-protecao-a-criminosos

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