segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Veja quem é filho de quem que se elegeu deputado estadual em Pernambuco

Especial para o Blog de Jamildo

Filho de peixe, peixinho é. Nessas eleições, a afirmação deste ditado popular se traduziu em números. Só no Estado de Pernambuco, foram 16 parlamentares eleitos para Assembléia Legislativa (Alepe) filhos ou netos de nomes consagrados da política estadual.

Segundo o cientista político da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) Túlio Velho Barreto, essas candidaturas representam a manutenção do status quo das famílias tradicionais. Para ele, a ausência da prática de debates públicos entre candidatos é um dos fatores que contribuem para esse fenômeno. A política perde o sentido social e começa a adquirir características de uma profissão comum, como médico ou advogado.

Um dos exemplos da passagem de cargos de pai para filho é a deputada estadual Raquel Lyra, eleita com mais de 49 mil votos pelo Partido Socialista (PSB). Filha do governador João Lyra Neto (PDT), ela pretende engrossar o grupo de parlamentares a favor de Eduardo Campos. “A família de Raquel Lyra é tradicional de Caruaru. Seu avô, João Lyra Filho, era político. Seu pai também. A eleição dela como deputada estadual representa a entrada de uma nova geração familiar no meio político”, frisa.

Saindo do interior do Estado, essa realidade pouco muda quando se fala na Região Metropolitana do Recife (RMR). Em Jaboatão dos Guararapes, a transferência de votos ficou a cargo do atual prefeito da cidade Elias Gomes (PSDB). Seu filho e um dos seus herdeiros políticos, Betinho Gomes (PSDB), foi eleito como sétimo candidato mais votado este ano, com mais de 65 mil votos. Para Túlio, isso mostra que esse pensamento político não é só do interior. “As pessoas atribuem isso ao interior. Mas eu não vejo muita diferença. Aqui na RMR também é comum esse tipo de pensamento”, salienta.

Para ele, é comum que exista, antes, uma forma de preparação do filho ou neto do candidato. Primeiro, a investida começa com a eleição para cargos de menor representação política, como vereador. “Aqui no Recife existe o exemplo de Sílvio Costa Filho, que começou na Câmara e depois se candidatou a deputado estadual. Também temos a filha do ex-governador Gustavo Krause, Priscila Krause, que já é vereadora do Recife e não conseguiu se eleger deputada este ano”, afirma.

A relação de pai para filho ainda tem uma característica peculiar: a fidelidade. Mesmo militando em partidos diferentes, os laços familiares falam mais alto quando o assunto é política. Por exemplo, a relação entre Roseane Sarney, eleita pelo DEM para o governo do Maranhão e seu pai, o presidente do Senado, José Sarney, do PMDB. “São poucos os casos de diferenças ou divergência na política familiar. No Rio Grande do Sul, temos o caso de Tarso Genro, do PT, e de sua filha Luciana Genro, que milita no PSOL. Porém, apesar de siglas diferentes, os dois não concordam em muitos pontos”, defende Túlio.


 Sílvio Costa Filho (PTB) – 81.279 votos
Foi vereador do Recife e exerce o 1º mandato na Assembleia. Conseguiu agora a reeleição após a polêmica passagem na Secretaria Estadual de Turismo, de onde saiu após denúncias sobre o “escândalo dos shows fantasmas”
 Betinho Gomes (PSDB) – 65.792 votos
Filho do atual prefeito de Jaboatão dos Guararapes, Elias Gomes, foi um dos candidatos preferenciais do PSDB. Já foi deputado estadual uma vez pelo PPS e volta agora para cumprir o seu segundo mandato
 Clodoaldo Magalhães (PTB) – 61.899 votos
Médico, foi reeleito para o 2º mandato consecutivo na Assembleia. Sua família é tradicional na política da Mata Sul. O pai é o ex-prefeito de Água Preta e Joaquim Nabuco e ex-deputado Eudo Magalhães
 Pedro Serafim Neto (PDT) – 55.963 votos
É filho do prefeito Pedro Serafim, de Ipojuca, que, inclusive, se licenciou do cargo para ajudar a campanha do “herdeiro”.
 Aglaílson Júnior (PSB) – 55.963 votos
Ex-vereador de Vitória de Santo Antão, vai para o terceiro mandato no Legislativo estadual. É filho do ex-prefeito do município e ex-deputado José Aglailson. Em 2006, teve 52.670 votos.
 Claudiano Martins Filho (PSDB) – 52.032 votos
Filho do atual deputado estadual e ex-prefeito de Itaíba (Agreste) Claudiano Martins, é um dos estreantes desta eleição, aos 21 anos.
 Leonardo Dias (PSB) – 52.246 votos
É filho do ex-deputado estadual e hoje conselheiro do Tribunal de Contas do Estado Romário Dias, que incentivou sua candidatura.
 Raquel Lyra (PSB) – 49.609 votos
Advogada, 32 anos, é procuradora concursada do Estado e atuou na assessoria do governador Eduardo Campos. Filha do vice-governador João Lyra Neto (PDT), disputou sua primeira eleição.
 Daniel Coelho (PV) – 47.533 votos
Administrador de empresas, 31 anos, exerce mandato de vereador do Recife, onde se destacou como líder da oposição. Filho do ex-deputado e ex-vereador João Coelho, faz sua estreia na Assembleia.
 Vinícius Labanca (PSB) – 43.870 votos
É filho do prefeito de São Lourenço da Mata e ex-deputado estadual Ettore Labanca, hoje um dos políticos próximos do governador Eduardo Campos.
 Botafogo Filho (PDT) – 38.110 votos
É filho do atual prefeito de Carpina (Mata Norte do Estado) Manoel Botafogo (PSDB). Em sua primeira eleição para deputado, consegue se eleger para o mandato que começa em fevereiro.
 Diogo Moraes (PSB) – 36.246 votos
Vereador em Santa Cruz do Capibaribe, é filho do ex-deputado estadual Oséas Moraes (PSB), empresário que foi aliado do ex-governador Miguel Arraes.
 Rodrigo Novaes (PTC) – 27.242 votos
Advogado e filho do ex-deputado estadual Vidal Novaes. Em 2008, elegeu-se vice-prefeito do município de Floresta, Sertão.
 Gustavo Negromonte (PMDB) – 24.795 votos
Filho do ex-deputado estadual João Negromonte (falecido) e sobrinho do senador Jarbas Vasconcelos, exerceu atualmente o mandato de vereador do Recife.



História – A vitória de parentes de nomes consagrados da política, em pleitos eleitorais, é uma característica recente da história da política brasileira. No começo do século 20, um dos grandes sucesso das urnas foi a família do ex-presidente Getúlio Vargas. Dois dos cinco filhos do ícone do trabalhismo tornaram-se políticos. Lutero Vargas chegou a ocupar a vaga de deputado federal pelo Distrito Federal (antigo Estado da Guanabara) ao mesmo tempo que o pai tomava posse no segundo mandato de presidente da República, em 1950.

Outro filho de Vargas que trilhou o caminho da política foi Manoel Sarmanho Vargas, conhecido como Maneco. Formado em agronomia, foi nomeado secretário de Agricultura no Rio Grande do Sul, e tempos mais tarde, chegou a se eleger prefeito de Porto Alegre, em 1955. Recolhido à famosa estância da família em Itaqui, foi encontrado morto na propriedade com um tiro de revólver calibre 38. Acredita-se que o filho,assim como o pai, cometeu suicídio.

Porém, um dos maiores exemplos da influência política do clã varguista seja a ala feminina. A filha de Getúlio Vargas, Alizira Vargas, chegou a ser chefe do Gabinete Civil do pai durante seus mandatos presidenciais. Seu marido Ernani Amaral Peixoto, foi interventor federal, senador e deputado pelo estado do Rio de Janeiro. Já a filha de Ernani e Alzira, a socióloga Celina Vargas, casou-se com Moreira Franco, que foi eleito prefeito de Niterói e governador do Rio de Janeiro.

Filhos de políticos consagrados dominam a Assembleia Legislativa

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